Saturday, January 08, 2005

O PARTO DE UMA TEMPESTADE

Sou agora um eterno raio de esquecimento para morar em minha própria agonia, a qual o passado trabalha arduamente para enterrar. Mas sou também aquele que mira o absurdo e pode degustá-lo. E durmo feliz no ponto de luz de seus olhos com sabor de estrela cadente e sonho. Adentro o buraco que se cravou em meu peito para habitar o gozo do abismo de uma palavra doce e apaixonada. Volto a voar por entre nuvens e horizontes de alegria estampados no sorriso de quem se colidiu com um caminhão de sentimentos e o terremoto que isso faz na alma. Jamais somos somente o que se fabrica nas vozes que comandam a orquestra da banalidade. Somos vulcão e a onda do mar de sensações que explode com qualquer exército de razão. Somos folha no vento soprando saudade na vila do desejo. Somos também uma coisa que respira poesia, e o parto de uma tempestade de belezas inauditas. Basta descobrir a criança que sorri por detrás do homem. Basta desenterrar canções que plantamos para colher um pouco de amor. Deve-se olhar para o fundo da terra moída de nosso segredo e de nossa dor. Deixar que as mãos instalem o futuro de nosso sorriso. Peço demissão do mundo feito máquina de bajular a normalidade. E o dia começa em seu sorriso de duas palavras e um coração povoado de vida.

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