Monday, January 03, 2005

Sua nudez em pão de cada dia


Zuleica, desligada, mesa posta, já comida, sua nudez em pão de cada dia. Nas havaianas, um belo pé sem chulé. Corre linda, sala vazia, o quintal lavado, a louça brilha. Riso fácil, coxas largas, o tesão escondido do pedaço.
João no portão, vindo do trabalho, e Zuleica uma bela e rebolante bunda que passa.
- Oi Jão, tudo bão? - passinho rápido, sorriso farto. Olhar pra João, tesão, olhar pro chão. E foge a sádica.
Gostosa, sempre decotada, pelada, na cama, chuveiro, mercearia, quitanda, no padeiro. Vai pela calçada, são anos os seus passos.Cabelinho curto, rosto redondo, é a nossa simpática vizinha do lado...
O totó vem latindo excitado, e a Zuleica inclina-se, lambidas, lambidas, ela não nega o afago. Êta totó felizardo! Mas não entra não, pernão. Vamos fingir de olhar as crianças brincando de esconde-esconde na rua. No bate-cara, a gente se olha. O molequinho correndo, aproveito, corro com ele e paro o olho em você, que parava em mim, quando o pirralho ainda saia do pique.
Hora boa, às cinco da tarde bate forte no João.
Corre pro portão! Cadê Zuleica?
Lá está!
Mas disfarce...
Varra a calçada, lave a bicicleta, vá comprar leite no bar da esquina!
Ela olha tudo. Será que sabe? Perigo, João!
Dá até vergonha de falar oi. Mas bem que pulava o muro! Falta é coragem, ser muito louco, suicida.
Então vamos, canalha! Arrisque, pule!
E depois das seis, quando ela já entrou para fazer a janta, João resolve pular até o banheiro. Porta fechada, derramado no chão frio, maníaco a esfolar o sexo entre a privada e a pia:
 Zuleica na cama, de pernas abertas, no chuveiro brincando com o esguicho, azulejo molhado, na sala, arrancando a roupa, pulando numa perna só, imitando sapo, a perereca ligada. João por cima, de lado, atrás, por baixo, todo um peso em pele, o teto envesgando, ofegante, relincha, apita, morde o pé do sofá, esperneia. E Zuleica espirra alto, farta, vai longe o pingo que alcança o olho.
João acaba morto, fica rendido: o suor das costas no piso frígido do banheiro. Fim da batalha. Vai abrindo os olhos devagar, e logo reconhece, no lodo preto do chuveiro e no cheiro típico de banheiro, a sua realidade.

No comments: