Saturday, February 26, 2011

Niilismo


Para muitos, o que prova que o niilismo está errado é que, se ele estivesse certo, a vida estaria errada. Resposta dos niilistas: "Mas quem está errada é a vida mesmo. A vida é um grande equívoco que não tem sentido, nem vale a pena". Contudo, a condição para ser niilista é estar vivo. Ok, ok, a vida tá certa.

Thursday, February 24, 2011

"As pesssoas mudam?"


Essa pergunta é comum. Resposta: sim. Mas não vale a pena apostar sua vida nisso. Não vale a pena começar um relacionamento amoroso apostando nisso.

A vingança é a melhor forma de perdão?


Em nossa cultura cristã a pressão para o perdão é grande. Não faltam mensagens na internet e no senso comum a estimular tal atitude. Mesmo supondo que devemos perdoar, que isso seja de algum modo benéfico, ainda fica a questão: como perdoar? O que podemos fazer para tornar isso possível. Pois não basta somente ordenarmos: “perdoe e será bom pra você”; “quem perdoa é mais feliz, não fica engolindo veneno”. Não basta ordenar, pedir. O perdão tem, se for o caso, de ser construído. Deve haver condições concretas que o sustentem. E perdão se constrói com compensações.
Uma das formas mais rápidas e eficazes para se perdoar é a vingança. Você se vinga e dois minutos depois já está perdoado. A vingança é um prato que se come frio e com muita pimenta mexicana. Há contudo um problema: a vingança, se produzir a compensação desejada, pode gerar o perdão, mas pode também gerar culpa. É uma forma destrutiva e beligerante na direção do apaziguamento do ódio. Você se vinga, tira o peso do ódio do lombo, talvez perdoe, mas no final são somente os mortos, as ruínas e as cinzas a construir o cenário desse desfecho.
E como construir o perdão de modo mais pacífico? Simples: basta fazer com que o outro se sinta culpado, reconhecendo seu erro, em pedidos explícitos de perdão. E de onde vem esta compensação? De perceber que o outro agora também sofre (de culpa). Sofre como a quem fez outrora sofrer (olha a vingança aí, de novo – será que conseguimos escapar dela?). Um sofrimento um pouco diferente daquele de sua vítima. Mas é muito doloroso também. A culpa pega nosso amor próprio e o esmigalha. Faz com que tenhamos, também, assim como nossa vítima, ódio, ódio de nós mesmos.
Quem não sente culpa, quem não sofre de culpa, quem não está verdadeiramente se odiando, não merece perdão. Ou, por outro lado, quem não reconhece que errou e tenta reparar o erro cometido, com alguma forma de compensação, não merece perdão.
Somos tão capazes de perdoar que só o fazemos quando o fato em questão não é relevante, quando o tempo já consumiu toda a memória, quando o outro repôs exatamente tudo o que se perdeu, ou quando temos a clara percepção de que nosso algoz agora está se odiando profundamente pelo mal que causou a si mesmo devido ao mal que nos fez.

Wednesday, February 23, 2011

Debater é trair-se


Quando o assunto é debate, costumo perguntar: “Em um debate, você é fiel a que?”. E geralmente obtenho a seguinte resposta: “Sou fiel às minhas ideias”. Eis o equívoco, pois isso já não seria um debate, mas sim um combate. Em um debate deve haver fidelidade à verdade e nada mais. Seu objetivo é produzir mais conhecimento e não a vitória desta ou daquela parte. A melhor postura a se adotar então é a de infidelidade para consigo mesmo. Se quisermos bem debater, teremos que ser infiéis a nós mesmos, às nossas próprias ideias. O apego a estas é nefasto.

Um exemplo interessante de se mencionar sobre esta questão é citado por Richard Dawkins em um de seus documentários (A raiz de todo o mal, de 2006) para a televisão britânica. Ele participava de um simpósio e assistiu à palestra de um professor norte-americano, o qual, em poucos minutos, refutou brilhantemente a teoria de um velho professor, o qual estava no público. Segundo seu depoimento, os presentes ficaram nitidamente constrangidos, pois assistiam ao desmonte de uma teoria na qual este velho professor havia trabalhado por várias décadas. No final da palestra, o velho professor se levanta e caminha na direção do americano. A tensão aumentou por alguns instantes e até mesmo imaginaram uma possível agressão. Porém, para o bom curso da produção de conhecimento, este velho professor estende a mão e cumprimenta o professor estrangeiro, dizendo: “Parabéns, o senhor nos libertou de um equívoco de muitos anos”.
Trata-se obviamente de uma situação em que isto ocorreu de modo ideal. Mas pode muito bem nos servir como fonte de inspiração.

Trailer do livro Inquilinos do além

Sunday, February 20, 2011

Otimismo e pessimismo


Concebo duas formas básicas de otimismo, uma em relação ao presente e outra em relação ao futuro: ver o lado bom das coisas (no presente) ou esperar que as coisas se encaminhem de modo favorável no futuro.

Este otimismo no presente me parece o mais saudável, se for associado à ação. Trata-se de focalizar o que é bom, aprazível, dedicando-se a isso, investindo aí. E mesmo assim não deixar de saber sobre o lado ruim, sobre o que não funciona. Informar-se o máximo sobre ele, e tentar compreendê-lo: seu contexto, suas causas, suas funções e o que o faz existir, o que o mantém existindo. Eis uma forma de otimismo que julgo saudável: o otimismo lúcido, o qual não nega a realidade, não nega que existem falhas, defeitos. Diz respeito a estimular, reforçar o que é bom, e não afetar ou inflamar o que é nefasto.
O otimismo em relação ao futuro, porém, não se sustenta em uma situação específica: se as probabilidades do evento desejado, favorável, forem minoritárias. Esperar por desfechos comprovadamente improváveis e que não dependem de nossas próprias ações é tolice, perda de tempo ou sofrimento extremo, o qual impossibilita a sensatez.
Mas se a probabilidade é favorável, por que não ser otimista?
Tanto o otimismo quanto o pessimismo, em relação ao futuro, guardam porém uma série de contradições. Há, desde a Antiguidade, quem defenda o pessimismo, pois com ele se evita o pior, as surpresas desagradáveis. As surpresas, quando acometem os pessimistas, são sempre agradáveis, pois esperam sempre o pior. Com os otimistas ocorre o contrário. Neste sentido, pessimistas costumam se alegrar com o inesperado e os otimistas costumam se frustar. Haveria então menos tolerância à frustração no campo do otimismo.
Mas não vejo muito sentido em ser pessimista em relação ao presente. Relembremos a estória dos dois filhos, o pessimista e o otimista. Ambos ganham seus presentes de natal. O primeiro ganha uma bicicleta e enfatiza somente o que pode acontecer de ruim: “Isso é triste, ganhar uma bicicleta. Posso cair e me machucar. Posso ser atropelado. Posso sofrer um assalto e ser morto...”. E sua lista de possibilidades ruins seria enorme. O filho otimista, por sua vez, ganha um saco de esterco: “Que maravilha, se ganhei um saco de esterco é porque ganhei um cavalo.” 
Assim ambos se equivocam e denunciam a patologia de seus extremos. O pessimista não sairá de casa. Apresentará todo um repertório depressivo: deixa de agir, focalizando sempre nas falhas e possibilidades mórbidas, mesmo que remotas. E o otimista padece de negar a realidade mais clara e concreta, o que é absolutamente óbvio.
E esta estória é engraçada, porque dá pra ficar com raiva do pessimista, de seu enjoamento, de seus caprichos, de seu ímpeto destrutivo. Gente assim parece que gosta de destruir, de hostilizar. Costuma-se concebê-los como desmancha-prazeres. Oferecemos presentes e sorrisos, e eles nos devolvem caras feias, agressividade e mau humor. Costumam não ser alegres e não valorizar isso. Seu gozo se dá na destruição. Assim é que muitas vezes se sentem realizados.
Em relação ao filho otimista, meu sentimento é de que é um louco completo, pois não está somente lucubrando sobre possibilidades. Falta-lhe lucidez, está negando o que é absurdamente óbvio. É possível inclusive desconfiar de sua inteligência.
Como eu já disse em outro momento: “Tanto uma quanto a outra disposição de espírito possuem virtudes e deficiências. Há negação da realidade no otimismo, fantasia, pensamento mágico, infantilismo. No pessimismo: obsessão, autodestruição, perfeccionismo, preciosismo. O otimismo é ingênuo, bobo, flácido. O pessimismo é arrogante, duro, ácido”.
Os otimistas, em seu orgulho, se acham os sujeitos mais felizes e tranquilos do planeta, e lutam para manter essa imagem intacta. Os pessimistas se orgulham em pensar que são mais realistas ou que percebem o que os outros não percebem: vêem pequenos defeitos, falhas, julgam que têm o olhar aguçado, e temem ser confundidos com pessoas carentes de inteligência. Sentem admiração por espetáculos de hostilidade e destruição por meio de críticas mordazes.
Em sua fantasia inconsciente, os otimistas desejam santificação: “como são pacíficos, ponderados, equilibrados, tranquilos, alto astral”. Os pessimistas desejam aplausos para sua mordacidade. Entram no campo do debate de ideias para destruir o outro e suas ilusões. Que as ilusões sejam reduzidas a pó.
Tanto o otimismo quanto o pessimismo, porém, se não levarem à ação, são nefastos. É conhecido o provérbio: o pessimista reclama da falta de vento, o otimista espera que ele mude, e o realista ajusta as velas. O primeiro hostiliza, o segundo reza e o terceiro age.









Wednesday, February 16, 2011

Amor e trivialidade



Ter alguém para todos os dias pode ser muito estruturante e fortalecedor. Sabe aquele alguém que você telefona de repente, a qualquer hora do dia ou da noite, para dividir trivialidades: "Nossa, tô saindo aqui do trabalho e acabo de ver uma nuvem muito grande e muito preta no céu. Impressionante, parece que o mundo vai desabar...". E assim vamos, diariamente, compartilhando e dividindo, a qualquer instante em que assim quisermos, sem pedir licença, sem meias palavras e  sem nem mesmo, geralmente, nos darmos conta do tamanho que o outro vai adquirindo em nossa vida. Eis um pequeno fragmento do amor, no cotidiano.



A música e o morrer





Há músicas em que dá vontade de morrer nelas, delas, ter overdose de tanto ouvi-las, mergulhar em sua realidade infinita e parar logo o coração e tudo se acabar, para nunca mais voltar, para se esquecer de vez de tudo isso, de si mesmo, principalmente. Há músicas que fazem com que eu me esqueça de mim mesmo, que eu morra sempre que as escute, para poder voltar renascido, outro, purificado, longe de todo o ódio, de toda a dor e distante de toda a lágrima inútil, mas perto daquela que nos agiganta e nos explode em sentimentos de estar ali totalmente conectados com a vida.