Wednesday, December 16, 2015

# Meu amigo secreto

Meu amigo secreto é um colega de trabalho. É uma pessoa sensível, e costuma se magoar comigo, quando eu, sem perceber, altero meu tom ou volume de voz, em uma ou outra de nossas reuniões de trabalho. Ele também já se chateou com algumas brincadeiras que fiz, as quais eu já havia feito como muitos outros colegas e que já fizeram também comigo.

Eu sempre achei essas brincadeiras divertidas e boas para a integração de todos lá no ambiente de trabalho. Esse colega, porém, em algumas ocasiões se chateou, e sempre foi admiravelmente capaz de tratar dessas dificuldades diretamente comigo.

Às vezes ele me convidava para uma conversa em particular, às vezes me enviava uma mensagem. E sempre conseguia expressar o que sentia, sem acusações, sem ofensas, sem indiretas em público e sem jamais deixar que sua mágoa ou ressentimento se alastrasse em conversas paralelas pelos corredores. Esse meu amigo tinha muito claro que era fundamental não fomentar o ódio, que reunir-se em grupos de pessoas para falar mal de outras podia somente piorar as interações.

Esse meu amigo secreto me ensinou muito. Com ele descobri, em vários momentos, como eu havia desrespeitado algumas pessoas ou como eu havia sido insensível em alguns contextos. Sempre me lembro dele quando sinto que preciso falar mais baixo e mais devagar, quando sinto que preciso ter mais cuidado, muito mais cuidado, com cada palavra que utilizo ao lidar com quem é mais sensível do que eu...

Orgulho do papai

Que orgulho! Minha filha já sabe contar até 2 !

Eu digo 1 e ela, rapidamente, completa com 2, tentando fazer o 2 com os dedinhos. Aí eu digo 3 e ela diz 2 novamente, completamente fixada, absorvida e siderada pelo mistério e profundidade dessa fascinante entidade numérica...

Meritocracia e herança

Então você defende a meritocracia, que ninguém pode ganhar nada de mão beijada, que as pessoas devem trabalhar muito para conseguirem as coisas? Então, por coerência, seja contra a instituição da herança. Afinal, qual é o mérito de se nascer em uma família rica?

Segundo Renato Janine Ribeiro:

"Jean-Jacques Servan-Schreiber, liberal francês de primeira qualidade, propôs o fim da herança. Achava errado um jovem entrar na vida com muito mais chances do que outro. Essa proposta ilumina um lado importante que o pensamento liberal pode ter: a defesa da igualdade de oportunidades.

A igualdade de resultados pode ou não acontecer. O importante é que todos tenham as mesmas chances.

Não é justa a vantagem lotérica que se chama herança. Mais até: é justo todos terem uma boa educação, uma boa saúde. Um liberalismo sério não admite a desigualdade no ponto de partida. Um liberalismo consequente exigirá até que o governo assegure a igualdade de chances. É aceitável a desigualdade, sim, mas a que resultar de minhas ações (ou omissões). Um liberal autêntico - espécie raríssima no Brasil - não gostará muito do bolsa-família, mas apoiará algum tipo de ação afirmativa, que dê oportunidades a quem não as tem.

O que o liberal não aceita é a irresponsabilidade. Cada um é responsável por seus atos. Se eu tiver oportunidades e perdê-las, não me encoste nos outros. A assistência social não é meio de vida. O liberal sério defenderá todo o apoio para que a pessoa ande com as próprias pernas. Mas, se ela não o quiser, não merece dinheiro público.

O liberalismo defende a liberdade e a responsabilidade. Conhecemos programas que buscam - entre adolescentes pobres - talentos musicais, artísticos, científicos, empresariais. Esse empenho é liberal. Vamos dar oportunidades a todos, celebrando quem ganhar um prêmio, uma olimpíada de Ciência, um título de jovem empreendedor."
http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/esfi/Edicoes/44/artigo163681-1.asp

O preço da liberdade

O preço da liberdade, frequentemente, é a solidão. Desperta o horror e a repugnância das pessoas que são zelosas pela uniformidade social em determinados contextos. Uma pessoa completamente livre está condenada a si mesma, à sua própria sorte.

Ética e sofrimento

A abordagem filosófica que talvez mais tenha se aproximado de uma definição de bem e mal, que seja mais objetiva, é o utilitarismo. Nessa concepção o sofrimento pode ser compreendido como sendo o mal. Se o mal existe, ele se realiza na forma do sofrimento. É ético lutar, agir, se empenhar para tentar diminuir o sofrimento no mundo.

A minha compreensão é a de que não podemos classificar o sofrimento em útil ou inútil, mas a de que existem sofrimentos evitáveis e inevitáveis. Se são evitáveis, é um imperativo ético agir para que deixem de existir. Obviamente um dos pontos centrais nessa reflexão diz respeito à distinção entre sofrimentos evitáveis e inevitáveis. E muitos sofrimentos que eram inevitáveis no passado, hoje, com os mais variados desenvolvimentos técnicos e sociais, podem ser evitados.

E o que é um sofrimento evitável? É todo sofrimento cuja extinção não tem como consequência a produção de sofrimentos ainda maiores.

Mas essa concepção tem também seus limites. Por isso posto aqui, para debatermos.

Alguns esboços:

a dor eh um sinal de alerta. portanto, esse tipo de sofrimento é geralmente util. no meio do video, abaixo, eu digo mais ou menos assim: se for escolher um extremo, entre util e inutil, escolho que é inutil, pra quem sofre, para o sofredor, pois para o opressor é extremamente util. o opressor, ao impor (ou ameaçar com) sofrimento a quem ele oprime, consegue submissao/obediencia. para o opressor, o sofrimento, de quem ele oprime, é extremamente util:

melhor mudar a classificaçao. melhor afirmar que existem sofrimentos evitaveis e inevitaveis, como faz peter singer. isso torna a fronteira mais dinamica, pois o que eh inevitavel hoje, amanha pode deixar de ser.

o começo desse debate foi, ha alguns anos, aqui mesmo pelo FB. eu elaborei uma definiçao inicial que dei para o mal: "todo sofrimento extremo e inutil; eis o mal". depois alterei essa definiçao para "todo sofrimento extremo", somente.

em termos logicos, o sofrimento, na forma da dor corporal, por exemplo, é util, como eu disse. mas a doideira é pensar em algumas situaçoes em que o sofrimento somente mutila e destroi as pessoas. nietzsche: o que nao mata, acrescenta. ah, sim, o velho "o que nao mata, engorda". o que nao mata, acrescenta, ou entao mutila, aleija, deixa sequelas. os extremos, nesse caso, me parecem pessimos: fazer apologia do sofrimento é coisa de kardecista doido a querer justificar tudo o que é merda que existe.

e fazer apologia do nao sofrer, por completo, é enfraquecer-se, de modo geral. mas a ciencia ta aí para conseguir nos ajudar a melhorar essa relaçao custo beneficio. como diminuir custos (sofrimentos) e aumentar beneficios (fortalecimento)? em analise do comportamento isso tem um nome: exposiçao gradual ou desenssibilizaçao sistematica (habituaçao).

https://www.youtube.com/watch?v=pDp09BrjVzw

se o cara tem medo de altura, por exemplo, é mais eficaz ajuda-lo a mudar pelo amor do que pela dor. é mais eficaz e seguro ir aumentando a altura aos poucos do que joga-lo de uma vez do aviao, de paraquedas. com menos sofrimento é mais seguro e eficaz.

uma pedagogia do amor é repleta de prazer e alegria e supera (cientificamente) uma pedagogia da dor, do medo. skinner, nesse ponto, supera maquiavel, e demonstra isso em laboratorio, com resultados que foram inumeras vezes replicados por fontes independentes.

em outro video que fiz, em 2013 (nao lembro qual agora), tambem falo de sofrimento, porem o assunto principal era psicopatia. e, nesse video, uma lampadinha acendeu na minha cabeça: o sofrimento tambem pode tornar alguem mais sensivel e empatico ao sofrimento alheio, e isso talvez seja muito importante para o desenvolvimento da empatia, na formaçao da personalidade, do carater. talvez seja eticamente muito importante ou ate mesmo necessario, fundamental. algo que ainda preciso estudar melhor...

durante 3 anos e meio acompanhei o sofrimento aburdo e atroz de um paciente na uti. ele somente mexia os olhos e pedia pra morrer (totalmente encarcerado em seu proprio corpo; sendo torturado dia e noite durante 3 anos e meio).

enfim: uma indecencia absurdamente revoltante. e quem se fortaleceu com o sofrimento dele? ele é que nao foi. eu, que observo cotidianamente esse sofrimento sem fim, é que me desenssibilizei. e a minha impressao é que quanto mais uma psicopata tortura, mais insensivel fica. por isso, tambem, de certa forma, que o excesso de poder costuma ser tao desumanizante...