Wednesday, December 16, 2015

Ética e sofrimento

A abordagem filosófica que talvez mais tenha se aproximado de uma definição de bem e mal, que seja mais objetiva, é o utilitarismo. Nessa concepção o sofrimento pode ser compreendido como sendo o mal. Se o mal existe, ele se realiza na forma do sofrimento. É ético lutar, agir, se empenhar para tentar diminuir o sofrimento no mundo.

A minha compreensão é a de que não podemos classificar o sofrimento em útil ou inútil, mas a de que existem sofrimentos evitáveis e inevitáveis. Se são evitáveis, é um imperativo ético agir para que deixem de existir. Obviamente um dos pontos centrais nessa reflexão diz respeito à distinção entre sofrimentos evitáveis e inevitáveis. E muitos sofrimentos que eram inevitáveis no passado, hoje, com os mais variados desenvolvimentos técnicos e sociais, podem ser evitados.

E o que é um sofrimento evitável? É todo sofrimento cuja extinção não tem como consequência a produção de sofrimentos ainda maiores.

Mas essa concepção tem também seus limites. Por isso posto aqui, para debatermos.

Alguns esboços:

a dor eh um sinal de alerta. portanto, esse tipo de sofrimento é geralmente util. no meio do video, abaixo, eu digo mais ou menos assim: se for escolher um extremo, entre util e inutil, escolho que é inutil, pra quem sofre, para o sofredor, pois para o opressor é extremamente util. o opressor, ao impor (ou ameaçar com) sofrimento a quem ele oprime, consegue submissao/obediencia. para o opressor, o sofrimento, de quem ele oprime, é extremamente util:

melhor mudar a classificaçao. melhor afirmar que existem sofrimentos evitaveis e inevitaveis, como faz peter singer. isso torna a fronteira mais dinamica, pois o que eh inevitavel hoje, amanha pode deixar de ser.

o começo desse debate foi, ha alguns anos, aqui mesmo pelo FB. eu elaborei uma definiçao inicial que dei para o mal: "todo sofrimento extremo e inutil; eis o mal". depois alterei essa definiçao para "todo sofrimento extremo", somente.

em termos logicos, o sofrimento, na forma da dor corporal, por exemplo, é util, como eu disse. mas a doideira é pensar em algumas situaçoes em que o sofrimento somente mutila e destroi as pessoas. nietzsche: o que nao mata, acrescenta. ah, sim, o velho "o que nao mata, engorda". o que nao mata, acrescenta, ou entao mutila, aleija, deixa sequelas. os extremos, nesse caso, me parecem pessimos: fazer apologia do sofrimento é coisa de kardecista doido a querer justificar tudo o que é merda que existe.

e fazer apologia do nao sofrer, por completo, é enfraquecer-se, de modo geral. mas a ciencia ta aí para conseguir nos ajudar a melhorar essa relaçao custo beneficio. como diminuir custos (sofrimentos) e aumentar beneficios (fortalecimento)? em analise do comportamento isso tem um nome: exposiçao gradual ou desenssibilizaçao sistematica (habituaçao).

https://www.youtube.com/watch?v=pDp09BrjVzw

se o cara tem medo de altura, por exemplo, é mais eficaz ajuda-lo a mudar pelo amor do que pela dor. é mais eficaz e seguro ir aumentando a altura aos poucos do que joga-lo de uma vez do aviao, de paraquedas. com menos sofrimento é mais seguro e eficaz.

uma pedagogia do amor é repleta de prazer e alegria e supera (cientificamente) uma pedagogia da dor, do medo. skinner, nesse ponto, supera maquiavel, e demonstra isso em laboratorio, com resultados que foram inumeras vezes replicados por fontes independentes.

em outro video que fiz, em 2013 (nao lembro qual agora), tambem falo de sofrimento, porem o assunto principal era psicopatia. e, nesse video, uma lampadinha acendeu na minha cabeça: o sofrimento tambem pode tornar alguem mais sensivel e empatico ao sofrimento alheio, e isso talvez seja muito importante para o desenvolvimento da empatia, na formaçao da personalidade, do carater. talvez seja eticamente muito importante ou ate mesmo necessario, fundamental. algo que ainda preciso estudar melhor...

durante 3 anos e meio acompanhei o sofrimento aburdo e atroz de um paciente na uti. ele somente mexia os olhos e pedia pra morrer (totalmente encarcerado em seu proprio corpo; sendo torturado dia e noite durante 3 anos e meio).

enfim: uma indecencia absurdamente revoltante. e quem se fortaleceu com o sofrimento dele? ele é que nao foi. eu, que observo cotidianamente esse sofrimento sem fim, é que me desenssibilizei. e a minha impressao é que quanto mais uma psicopata tortura, mais insensivel fica. por isso, tambem, de certa forma, que o excesso de poder costuma ser tao desumanizante...

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