Tuesday, April 14, 2015

Quem não enlouqueceu...

Quem não enlouqueceu, duvida de si mesmo, de seus pensamentos extremos, de suas hipóteses mais arrojadas ou bizarras.

Quem não enlouqueceu se preocupa, e muito, muitas vezes, com muito pouco, mas percebe, em vários momentos, que isso é ridículo, mesmo não conseguindo deixar de se preocupar.

Quem não enlouqueceu consegue formular as possibilidades mais absurdas e fantásticas, mas consegue compreender que são somente algumas possibilidades dentre inúmeras outras mais cabíveis e sensatas.

A saúde mental talvez esteja em um gosto maior pela investigação do que pelo saber, diante do pântano infinito de nossa ignorância. Porque quem não enlouqueceu percebe essa fragilidade, essa impotência fundamental.

Saturday, April 11, 2015

A esperança

"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso." (Ariano Suassuna)

Mas, Ariano, a esperança é uma bosta:

“Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos." (Albert Camus)

“O que é a esperança? É um desejo que se refere ao que não temos (uma falta), que ignoramos se foi ou será satisfeito, enfim cuja satisfação não depende de nós” (...)

"Esperar é desejar sem saber, sem poder, sem gozar. O sábio não espera nada. Não que ele saiba tudo (ninguém sabe tudo), nem que possa tudo (ele não é Deus), nem mesmo que ele seja só prazer (o sábio, como qualquer um, pode ter uma dor de dente), mas porque ele cessou de desejar outra coisa além do que sabe, ou do que pode, ou do que goza. Ele não deseja mais que o real, de que faz parte, e esse desejo, sempre satisfeito - já que o real, por definição, nunca falta: o real nunca está ausente -, esse desejo pois, sempre satisfeito, é então uma alegria plena, que não carece de nada. É o que se chama felicidade." (...)

“Só esperamos o que não temos, e por isso mesmo somos tanto menos felizes quando mais esperamos ser felizes. Estamos constantemente separados da felicidade pela própria esperança que a busca. A partir do momento em que esperamos a felicidade (“Como eu seria feliz se...”), não podemos escapar da decepção... É o que Woody Allen resume numa fórmula: “Como eu seria feliz se fosse feliz!” " (Comte-Sponville).

Jair jogou a isca e Jean fisgou...

No vídeo abaixo, acho muito fácil ficar parecendo, para o olhar do leigo, que Jean Wyllys é arrogante, que não quer o diálogo. Bolsonaro, por sua vez, ficará parecendo humilde, democrático, disposto ao debate.

Acho que Jean deveria ter questionado o porquê de Bolsonaro estar filmando. Deveria ter pedido para ele parar de filmar. Ou então deveria ter deixado a conversa rolar, acontecer.

A minha impressão é a de que os efeitos dessa atitude de Jean não são bons para a imagem dele ao olhar do leigo, o qual forma uma parte muito grande do eleitorado brasileiro.

Existe uma coisa muito importante, inclusive em política: estratégia. Esse comportamento do Jean somente convence quem já está do lado dele. E, infelizmente, Bolsonaro marcou um gol aí. Teve mais estratégia. Já possui mais eleitorado e terá ainda mais depois de um vídeo desses.

Jean deveria ter apontado que o cara estava filmando e queria provocar algum tipo de entreveiro. Jean deveria ter feito isso com calma, com um pouco mais de jogo de cintura, com sangue frio. Ficar simplesmente fazendo um discurso que somente convence quem já está convencido é furada. Tem que reconhecer que errou em não ter sido mais estratégico, malandro. Importante, claro, é sabermos sim que errou numa condição extrema, muito difícil, em que era necessário ter sangue de barata. Mas para isso existe treinamento, experiência política, experiência de vida, maturidade.

Acho triste que Jean não tenha percebido isso ainda. É importante observar a situação e perceber que mesmo em situações extremas poderíamos ter agido de forma mais eficaz. E não é isso o que ocorre. Em seu perfil do Facebook, Jean tentou simplesmente reproduzir o que Pagu fez em um contexto de ditadura (se não me falhe a memória e a leitura dinâmica), de guerra.

Em um contexto democrático acho que a coisa muda completamente de figura. Alguém que está preso, sendo torturado, se negar a cumprimentar, a dar a mão para o carrasco, pode até fazer todo sentido, mas não é o caso do que ocorreu nesse avião com Jean Wyllys e Jair Bolsonaro.


O paz e o espírito

Muitas pessoas têm fé e costumam pedir muitas coisas para Deus. Alguns pedem somente saúde e outros chegam inclusive a pedir especificamente alguns bens materiais. 

Mas a minha questão é a seguinte: qual é o sentido de se pedir para Deus algo além da paz? Qual é o sentido em se pensar que o espírito (imaterial, eterno e, portanto, inegavelmente superior ao corpo) deva encontrar paz, conforto, em coisas, em elementos materiais? 

Se a espiritualidade é o cultivo do espírito, em superação aos limites da matéria e do corpo, não faz sentido orar ou pedir nem mesmo por saúde, muito menos por um novo emprego ou carro, por exemplo.

Compreendo que pedir por algo além da paz seja a negação da existência do espírito. Quem pede algo além disso, não acredita no espírito ou na alma eterna, ou então cultiva de maneira ambígua ou dissociada duas crenças completamente diferentes e incompatíveis.