Thursday, October 21, 2010

Serristas e dilmistas esclarecidos


Conheço tanto serristas quanto dilmistas esclarecidos. Ambos são muito bem informados e possuem autocrítica. Possuem argumentos razoáveis para se votar neste ou naquele candidato, e estão se esforçando como podem para entender o que está acontecendo no atual momento eleitoral. Contudo, mesmo serristas e dilmistas esclarecidos possuem, no atual contexto, concepções muito diferentes acerca do que sejam evidências significativas.


Digo evidências significativas para falar de eventos e informações as mais diversas, as quais são levadas em conta, por estes eleitores esclarecidos, no balanço geral que fazem dos dois modos de governar. O que pesa mais na balança (o que é significativo) deste eleitorado?
Sem dúvida, para este tipo de eleitor a opção de voto possui diversos determinantes. O eleitor que está tentando se guiar com base em informações e evidências as mais diversas está menos preso à troca de favores pessoais e ao fisiologismo. Em tese, ainda deseja se utilizar de sua racionalidade social e moral para decidir em quem vai votar. Contudo, exigir plena racionalidade, no caso do voto, é uma impossibilidade. Não somos oniscientes, não sabemos de tudo. Sempre nos faltará algum conhecimento ou informação. Em que medida poderíamos afirmar com tranquilidade que nossa amostra de conhecimentos é significativa? Ou que em nenhum momento estamos sendo relevantemente guiados por alguns argumentos de autoridade?
Serristas e dilmistas (esclarecidos) possuem referências (intelectuais, morais e de autoridade) diferentes. Suas redes sociais são diferentes. E eu pergunto para o eleitor esclarecido, bem informado, senhor de si: o que determina seu voto? Você acha que é somente a sua racionalidade? Doce ilusão... Seus amigos, votam em quem? Aquele intelectual que você tanto admira, vota em quem, apóia quem, pensa como? O que você tem lido nesses 16 anos? Se você mudar de lado, como irá justificar sua posição perante seus grupos de referência? Como você tem vivido nesses 16 anos de FHC e Lula? Como cada governo ou medida teve impacto em sua vida? Em que medida as mudanças que ocorreram em sua vida possuem de fato relação com o que estes governos fizeram? Quais são seus sonhos (principalmente os mais primitivos ou obscenos) e que relação eles têm com o que você imagina de cada proposta de governo?
Como contornar tudo isso? Como me informar mais, de modo mais independente e diverso? Onde encontrar tempo para tudo isso? Por que deixamos tudo para a última hora, para o ano de eleições? Enfim, assumo que tenho me informado e estudado pouco. Assumo minha impotência. Lamento acordar um pouco somente em ano eleitoral. Para mim não é mais tão simples votar e optar. Foi muito mais fácil em 1989 optar entre Collor e Lula, quando as dicotomias estavam mais bem delimitadas e estabelecidas.
Há poucos dias propuseram-me um debate. Eu defenderia meu candidato e um colega defenderia o dele. Uma coisa pra mim é muito clara: debate para defender este ou aquele candidato, eu não faço. Somente se for mesmo numa dinâmica, em uma brincadeira que favoreça a empatia e a escuta do outro. Debates políticos não são debates, são combates. Nesses casos, há mais fidelidade ao poder, à vitória, do que à verdade. Isso me desperta mais aversão do que interesse. Debater ou pensar, para me defender ou simplesmente defender este ou aquele interesse, opinião, ou narcisismo, é coisa da qual tenho procurado fugir. Prefiro continuar tentando ler e ouvir as mais diversas fontes: de Arnaldo Jabor à Carta Capital; de amigos que são de direita ao meu primo sindicalista da esquerda do PT. Parece-me que o voto esclarecido e, pessoalmente desinteressado, em Serra ou em Dilma, não caracteriza desastre, já que as referências intelectuais deste país estão divididas.
Para finalizar, eu espero que a sociedade e a militância civil sejam fortes o bastante para não dependerem somente de política partidária. Quando a questão é a luta desesperada pelo poder, a verdade tende a se perder.