Quando o assunto é debate, costumo perguntar: “Em um debate, você é fiel a que?”. E geralmente obtenho a seguinte resposta: “Sou fiel às minhas ideias”. Eis o equívoco, pois isso já não seria um debate, mas sim um combate. Em um debate deve haver fidelidade à verdade e nada mais. Seu objetivo é produzir mais conhecimento e não a vitória desta ou daquela parte. A melhor postura a se adotar então é a de infidelidade para consigo mesmo. Se quisermos bem debater, teremos que ser infiéis a nós mesmos, às nossas próprias ideias. O apego a estas é nefasto.
Um exemplo interessante de se mencionar sobre esta questão é citado por Richard Dawkins em um de seus documentários (A raiz de todo o mal, de 2006) para a televisão britânica. Ele participava de um simpósio e assistiu à palestra de um professor norte-americano, o qual, em poucos minutos, refutou brilhantemente a teoria de um velho professor, o qual estava no público. Segundo seu depoimento, os presentes ficaram nitidamente constrangidos, pois assistiam ao desmonte de uma teoria na qual este velho professor havia trabalhado por várias décadas. No final da palestra, o velho professor se levanta e caminha na direção do americano. A tensão aumentou por alguns instantes e até mesmo imaginaram uma possível agressão. Porém, para o bom curso da produção de conhecimento, este velho professor estende a mão e cumprimenta o professor estrangeiro, dizendo: “Parabéns, o senhor nos libertou de um equívoco de muitos anos”.
Trata-se obviamente de uma situação em que isto ocorreu de modo ideal. Mas pode muito bem nos servir como fonte de inspiração.
No comments:
Post a Comment