"O segredo", tanto o filme quanto o livro , tem feito muito sucesso . É uma febre. Febre alta, por sinal. E não falta quem esteja delirando. Pacientes chegam ao consultório dizendo que descobriram a chave de tudo. Muitos alunos, geralmente do primeiro semestre do curso de Psicologia, estão absortos com a descoberta, com a revelação fundamental deste "segredo", "guardado há milênios", "a sete chaves", como procura demonstrar Rhonda Byrne, a autora. Tanto o filme quanto o livro, tem sido um fenômeno absurdo de marketing e vendas. Em cerca de um ano , renderam à autora mais de 40 milhões de dólares.
Para quem ainda não assistiu ou leu “O Segredo”, trata-se de mais uma obra do gênero de auto-ajuda. O filme se insere, talvez , em um novo gênero, o de filmes de auto-ajuda. É, agora temos um novo gênero para filmes. Prepare-se, essa moda já está pegando. E os primeiros são sempre fenômenos de vendas. Quem não gosta de ler, pode agora assistir um filme e se auto-ajudar. O primeiro neste gênero talvez tenha sido " Quem somos nós?". E agora veio "O segredo". São na verdade livros adaptados para a linguagem cinematográfica.
Não me estenderei muito sobre os temas abordados em ambos. O que eles têm em comum é a mensagem típica dos livros de auto-ajuda. Basicamente, pregam o otimismo e a esperança. "Quem somos nós?" começa falando de física e descamba para uma pregação falaciosa de auto-ajuda. Aliás, encher a boca de "física quântica" para argumentar a favor de qualquer coisa também está na moda. O que é reprovado pela grande maioria dos físicos. É bem sabido: são geralmente extensões e apropriações indevidas, senão até mesmo oportunistas, de leis que se aplicam, em tese, somente ao mundo subatômico.
"O segredo", por sua vez, devido à carência de paralelos com a ciência estabelecida, se segura mais no discurso, na retórica, num blá-blá-blá repetitivo, masturbatório, americanóide, sem fim. Por sinal, muito similar àquelas longas e insensatas propagandas americanas, em que o produto é anunciado por horas a fio, com depoimentos exagerados, caricatos e fraudulentos. Enfim, conversa de vendedor.
Baseados no que chamam de "lei da atração", encadeam argumentos, de modo aparentemente lógico, para convencer ou hipnotizar o espectador. Sim, hipnotizar. Repetem suas fórmulas à exaustão. Reduzem tudo à famigerada "lei da atração". Esta basicamente diz o seguinte: semelhante atrai semelhante. Pensar coisas ruins atrai coisas ruins. Pensar coisas boas atrai coisas boas. Resumindo, é a mesma lógica do pensamento positivo, só que agora com outro nome, com nova roupagem. A fórmula é antiga: dar nova roupagem para algo já velho, batido. Utilizar um nome novo para falar do que não é segredo nenhum.
Minhas posições mais extremas em relação a este filme podem ser colocadas em um segundo plano. O que pretendo traçar aqui, e espero já não ter espantado o leitor simpatizante do gênero auto-ajuda, é uma reflexão sobre o otimismo e o pessimismo.
O argumento principal de quem assistiu “O segredo” é: “Mas como você vai negar que o pensamento positivo é benéfico? O que custa ser otimista?”. E a questão que proponho é a seguinte: “O otimismo é sempre benéfico? Em qualquer ocasião, sob qualquer circunstância?”. O pessimismo, por outro lado, é sempre maléfico?
Comecemos pelas definições. Definição de otimismo, segundo o dicionário Houaiss: “disposição para ver as coisas pelo lado bom e esperar sempre uma solução favorável, mesmo nas situações mais difíceis.”. E a definição para o pessimismo: “tendência para ver e julgar as coisas pelo lado mais desfavorável; disposição de quem sempre espera pelo pior.”
Tanto uma quanto a outra disposição de espírito possuem virtudes e deficiências. Há negação da realidade no otimismo, fantasia, pensamento mágico, infantilismo. No pessimismo: obsessão, auto-destruição, perfeccionismo, preciosismo. O otimismo é ingênuo, bobo, flácido. O pessimismo é arrogante, duro, ácido.
Ver ou julgar as coisas pelo lado bom ou ruim? Não conheço concepção que defenda o pessimismo neste caso. Julgar pelo lado bom, em termos gerais, quando se faz um balanço de toda a nossa vida, a torna possível, válida, viável. Fornece motivos para continuar tocando nosso barquinho. E motivos que estejam fundados no agora, no tempo presente. Temos de ter motivos, disposição, vontade para continuar. E que eles se situem, de preferência, no presente. Que sejam dados no aqui e no agora de nossa existência.
Porém, o mais virtuoso na verdade seria o julgar bem, para poder fazer o bem. Encontrar a verdade, de fato. Saber ponderar. E não simplesmente depender de tendências a ver o bem ou o mal. Em termos éticos a questão é a seguinte: qual disposição, em uma determinada situação, conduziria a mais ou menos sofrimento, no final das contas?
O otimismo carrega mais facilmente a aparência de que é sempre melhor, pois é uma disposição de devaneio. Ou seja, mesmo que tudo esteja na pior, o otimista parece refugiar-se em suas fantasias e imagens de que tudo está bem ou tende com certeza a melhorar.
Para Freud isto é maléfico. É o refúgio na fantasia. Alienação. O sujeito se aparta da realidade, construindo castelos no ar. O pai da Psicanálise é um defensor da conscientização. Melhor saber do pior e aceitá-lo como parte da realidade para poder melhor enfrentá-lo e extingui-lo. Retirá-lo de nossa consciência o torna ainda mais poderoso. Deste modo ele fica fora de nosso controle. A ausência de consciência do mal o transforma em uma espécie de assombração. O otimismo responde prontamente ao princípio do prazer: evitar o que é doloroso, de modo imediato, sem qualquer ponderação. “Isola, isola...”, é o que diz o jargão popular.
Mas a grande questão é: o que pode ser negado e o que não pode. O filme “O segredo” diz: não basta pensar que tudo vai dar certo. Não basta pensar que você pagará suas dívidas. Deve-se colocar o verbo no presente: “já paguei minhas dívidas”, e não ficar adiando para o futuro. “Já paguei?”, não tendo pagado? Na visão psicanalítica isto é negação pura da realidade. Recalque. Para a mentalidade presente no filme é instaurar uma nova realidade mental e de espírito, em acordo, em consonância plena com aquilo que se deseja. Para um é tolice, auto-engano. Para outro é programação mental.
Lembro também de Lair Ribeiro, dizendo mais ou menos assim: “Você deseja ser rico? Então deve começar a pensar que é rico. Pensando como rico, você passa a agir como rico. E assim, enriquece”. Na essência era isso o que ele dizia. Talvez isso seja bom para produzir alguma aparência. A qual, na mediocridade de nossas transações cotidianas, ainda é muito importante. Por outro lado, pode ser também um desastre. Simplesmente porque o sujeito passa a gastar o que não tem.
Interessante a consideração de Comte-Sponville em seu “Dicionário Filosófico”:
“Prefiro a fórmula de Gramsci: “Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade.” Ver as coisas como são, depois dar-se os meios de transformá-las. Considerar o pior, depois agir para evitá-lo. Mesmo assim morreremos? Mesmo assim envelheceremos? Claro. Mas teremos vivido mais.”
Lembro de uma colega de profissão. Otimista que só. Dizia que meu problema era o “excesso de realismo”. Ela tinha os olhos esbugalhados. Abria-os, parecia que iam saltar das órbitas, e começava a falar em tom messiânico dos paraísos que o futuro nos reservava. Seu filho cresceu com o peso enorme de uma série de frustrações quase incontornáveis. Ela o criara, dizendo-lhe que seria o melhor, o mais perfeito e mais poderoso dos mortais. Projetara um futuro fabuloso para esse filho. E aquela criança acreditou nisso. Era um peso enorme para a sua existência saber que era uma pessoa normal, comum. Seu problema central? O de todo neurótico: grande intolerância à frustração.
E a questão agora é a seguinte: otimismo em excesso pode gerar baixa tolerância à frustração? Cria uma auto-estima de papel? A qual se esfacela no primeiro contato com a dureza da realidade?
Penso que é muito importante considerar a possibilidade de derrota, de perda. Mas que isso não se transforme numa obsessão, em um pensamento fixo e mórbido de que tudo irá com certeza dar errado.
O técnico de futebol dava entrevista e dizia assim: “Estamos preparados somente para a vitória”. Talvez até seja bonito de se ouvir. Mas, e se perder? Como é que fica? Morre? Fica louco? Aprender a perder é fundamental? Conceber a possibilidade de derrota, fracasso e tentar se harmonizar com isso talvez seja também muito saudável.
“A meditação sobre o fato da morte ser inevitável deve ser feita diariamente. Todos os dias, quando o corpo e a mente de um indivíduo estão em paz, ele deveria meditar sobre ter o corpo estraçalhado por flechas, rifles, lanças e espadas; sobre ser carregado por vagalhões; sobre ser lançado em meio a um incêndio terrível; sobre ser atingido por um raio; sobre ser chacoalhado até a morte por um terremoto; sobre cair de um penhasco de centenas de metros; sobre morrer de doença ou cometer seppuku na morte de seu mestre. E todos os dias, sem falta, o indivíduo deveria se considerar morto.”
Esta citação representa ensinamentos completamente contrários à idéia de pensamento positivo. Os fanáticos de “O Segredo” certamente abominariam tais considerações. E elas estão, contudo, em um conhecido livro da sabedoria oriental, o “Hagakure”, o livro do samurai. Trata-se de um guia espiritual para guerreiros, fruto das concepções de Yamamoto Tsunetomo (1659-1719), um sábio samurai que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Este pequeno livro, por sua vez, é muito lido também como um auto-ajuda para a vida cotidiana de qualquer pessoa comum.
É a instrução mais do que clara de que devemos meditar constantemente sobre o pior, para podermos nos preparar melhor para ele. Vai projetar um avião? Então, pense em todos os acidentes possíveis para construir o melhor avião possível. Novamente: pessimismo da inteligência e otimismo da vontade. Pensar também o pior para fazer o melhor. A minha impressão às vezes é que se o pessimismo em excesso tende ao transtorno fóbico, o otimismo em excesso tende à burrice.
Paulo Coelho, em “O Alquimista”: “quando desejamos algo, o universo conspira a nosso favor”. Li somente metade do livro. E foi o único que tentei de Paulo Coelho. Pensei: não quero fazer parte da turma que não leu e não gostou. E confesso: não gostei. E também não tenho nada a dizer ou criticar nesse autor. Simplesmente não gostei. Não é o tipo de gênero ou história que me envolve. Prefiro deixar o Paulo Coelho em paz no sucesso e na fortuna dele.
Mas esta passagem que citei, contesto. Que história é essa de desejar e o universo desejar junto? Poderia ser o contrário, por que não? Se tomarmos falaciosamente a lei física da ação e reação, dá o contrário: basta desejarmos algo, que o universo, por reação, logicamente, irá conspirar contra.
Porém, o mais interessante foi encontrar esta mesma citação, escrita de outra maneira, por um outro autor. Não me lembro o nome dele. Mas lembro que atribuía a autoria original a Goethe: “quando perseveramos, o universo conspira a nosso favor”. Sem dúvida, esta é uma formulação bem mais sofisticada e sensata. Não basta ficar pensando ou desejando não, deve-se antes de tudo agir.
Por outro lado, assim como o otimismo, a própria perseverança deve ser relativizada. Não são conceitos ou virtudes absolutas. O excesso, a desmedida, são considerados viciosos, desde a Antiguidade. Os autores de auto-ajuda pecam ao conceber estas disposições como absolutas. Desculpem-me, mas isto é somente uma postura de vendedor. Otimismo em excesso é loucura, burrice. E como também saber onde termina a perseverança e começa a teimosia, a burrice?
Quer coisa mais perseverante do que uma abelha se debatendo por horas, até morrer, no vidro da janela, quando sua liberdade está a cinco centímetros acima dela? Há momentos em que é muito importante dar uma parada, tomar distância, para deixar de somente perseverar, perseverar no erro. Assumir a possibilidade de derrota e saber aceitá-la é também fundamental. Isto é saber perder.
Perseverar com muita avidez pode também ser compreendido como aquela corrida desembestada de quem vai com muita sede ao pote. Avidez, o que isso significa? Desejo em excesso. Excesso de expectativas. Apego excessivo ao sucesso, à vitória. Talvez seja melhor esperar menos, bem menos, e ir vivendo, sem tanta ambição, sem tanta megalomania. E, convenhamos, é isso o que percebemos facilmente nos olhos siderados dos palestrantes do filme “O segredo”: megalomania, ambição excessiva (utilizo um eufemismo, para não dizer logo ganância), promessas, pregação fanática.
Penso que também vale aceitar o fluxo da vida, sem tanto apego a passado, futuro ou o sucesso. Repito uma história que já contei aqui:
“Como, vocês, monges, vivendo de modo tão simples e isolados do resto do mundo, se dizem felizes?”, indagou um curioso a visitar um templo, espantado com o isolamento, a simplicidade e o silêncio. Pois nada acontecia ali. Era tudo ausência. Tudo do qual nós geralmente fugimos. Aquilo que parece nos conduzir à melancolia, ao tédio.
O mestre respondeu:
“Somos felizes porque não lamentamos o passado, nem esperamos nada do futuro.”
Os autores de auto-ajuda, de um modo geral, concordam com a primeira parte da fala do monge. Pregam bastante que devemos nos libertar do passado. Porém, em relação ao futuro, o negócio é fomentar freneticamente um mundo imenso de expectativas, fazer os olhinhos do espectador brilharem em visões maravilhosas. Mestres da promessa contínua. Sempre renovada em um novo best-seller salvador de todas as frustrações. Indústria da esperança. É, ela existe, e vende milhões, seja por meio de auto-ajuda ou por meio das religiões.
“Nunca desista de seus sonhos”, título de best-seller do mitômano Augusto Cury. Mas é também possível dizer: pelo contrário, desista de seus sonhos e vá agir sobre o mundo. Troque seus sonhos por projetos, são bem mais sólidos e muito menos permeáveis a frustrações. Dê um passo de cada vez. Cuidado: quanto maior o sonho, maior o tombo. Sonhar alto demais, além de prova de infantilidade, é desejar sem poder e sem saber. É desejar demais o que não se tem. É apostar na frustração, no tombo, na mentira.
E por que ficar sonhando, devaneando, seria a garantia do sucesso? A avidez é prova de que o tiro pode sair pela culatra. Se um por um lado, sonhar, fantasiar, produz ensaios, os quais nos prepararam para um evento futuro. Por outro, podem também criar excesso de expectativas, a melhor receita para frustrações difíceis de se contornar.
Já sugeria Machado de Assis: pior do que cair do segundo andar e quebrar a perna, é cair das nuvens, de um sonho. Eis a frustração. E é menos tolerante à frustração quem não é capaz de considerar ou suportar a possibilidade de fracassar. Se o fracasso é insuportável, há baixa tolerância à frustração. E qual é a saída patológica para isso? Segundo Freud, é o mecanismo infantil de se refugiar na fantasia, a qual aparta o sujeito da realidade, impedindo que viva e aja de verdade em sua vida concreta. Ou seja, o sujeito passa a negar a realidade.
Examinemos o mecanismo de recalque. Visa afastar da consciência algo que seja desagradável. É o famoso “isola”. Produz o isolamento do que seja doloroso lidar. Torna inconscientes os conteúdos que provocam desconforto: tanto o que o senso comum chama de pensamentos ruins, negativos, como o que é proibido, censurável, moralmente condenável, ou o que ainda não é identificável e também dotado de uma desagradável e insuportável estranheza.
É aquela coisa, o sujeito sente algo estranho, o qual ainda não sabe o que é, porém nefasto. A tendência é recalcar: isolar, tornar inconsciente, antes mesmo que perceba claramente o que está ocorrendo. Um exemplo caricato, contudo bastante ilustrativo, é o recalque de desejos, ou mesmo lampejos homossexuais em alguém muito machista, homófobo. O sujeito sente algo estranho e antes mesmo de saber o que é, recalca, “isola”. É clássica a cena cômica em que o machão, sem querer, solta a franga e logo, de modo aflito, exclama: “isola, isola...”. Ou seja, é melhor deixar isso (“que nem sei o que é”) pra lá. Aliás, outra sugestão comum: “deixe isso pra lá”, “esqueça isso”.
O recalque, a negação da realidade, são então mecanismos comuns, que utilizamos com freqüência. Recalcar besteiras, detalhes, coisas sem importância, não só é comum como necessário. Porém, nem sempre funciona. E quando o recalque ou a negação falham, a coisa pode ficar bem feia. E é aí que fica deflagrada a patologia.
A partir de um certo ponto, o recalque se torna inútil e até mesmo mais maléfico. É como sempre varrer a sujeira para debaixo do tapete ou viver engolindo sapos. Chega um momento em que o caldo entorna, e de modo assustador. É o que Freud denomina como o retorno do recalcado ou o sintoma. A tendência é começar a agir descontroladamente em função daquilo que se recalcou. O que foi negado passa agora, disfarçadamente, a comandar o sujeito.
Freud é um defensor da conscientização. Acredita em sua força libertadora. Mas não é somente Freud quem pensa assim. É praticamente toda a história da sabedoria, seja ela ocidental ou oriental. Quando vejo o receituário de um filme como “O segredo”, ou qualquer pregação exclusiva ou excessivamente otimista, não consigo deixar de pensar que é imprudente conceber o otimismo como um bem absoluto. Nestes termos, a apologia do otimismo é a apologia da negação da realidade, da ignorância. Por este ponto de vista, o que fazem os otimistas? Negam a realidade.
Outro bom exemplo para botar um pouco mais de auto-crítica nas apologias do otimismo é a sabedoria Zen. O que ela ensina também não tem nada a ver com o otimismo: “Quer flutuar? Afunde. Quer afundar? Flutue”; “Quer acertar no alvo? Antes desprenda-se do alvo e de si mesmo”. No livro “A arte cavalheiresca do arqueiro Zen” está assim: “a resposta é: o discípulo só progredirá se se desprender de toda intenção e do seu próprio eu” (Herrigel, 1999, p. 83).
O desapego, o desprendimento, são partes fundamentais do ensinamento Zen. Quando muito desejamos algo, tendemos a não ser capazes de manter uma certa distância da situação. Tornamo-nos, muitas vezes, ávidos, em busca aflita, o que pode por tudo a perder. Nestes casos, muito comuns, é mais prudente preparar-se também para aceitar o fracasso. Não basta simplesmente botar na cabeça que já conseguimos.
Lembro-me de um amigo, apostador compulsivo. Gastava boa e importante parte de seu salário apostando na loteria. Era muito otimista. Aos seus críticos dizia assim: “vocês vão ver quando eu ganhar”. Não adiantou pensamento positivo, otimismo ou perseverança alguma. Negar a realidade, ou seja, a chance irrisória de acerto, não conduziu a nenhum sucesso. Isto porque ele estava simplesmente equivocado.
Apesar de ainda caber aqui mais uma série de observações, fechemos, por fim, este longo texto com a seguinte e breve consideração: “Se macumba desse certo, o Haiti era campeão mundial de futebol.”
Referências
HERRIGEL, E. (1997). A arte cavalheiresca do arqueiro Zen. São Paulo: Pensamento.
COMTE-SPONVILLE, A. (2004). Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes.
TSUNETOMO, Y. (2004). Hagakure: o livro do samurai. São Paulo: Conrad do Brasil.
Para quem ainda não assistiu ou leu “O Segredo”, trata-se de mais uma obra do gênero de auto-ajuda. O filme se insere, talvez , em um novo gênero, o de filmes de auto-ajuda. É, agora temos um novo gênero para filmes. Prepare-se, essa moda já está pegando. E os primeiros são sempre fenômenos de vendas. Quem não gosta de ler, pode agora assistir um filme e se auto-ajudar. O primeiro neste gênero talvez tenha sido " Quem somos nós?". E agora veio "O segredo". São na verdade livros adaptados para a linguagem cinematográfica.
Não me estenderei muito sobre os temas abordados em ambos. O que eles têm em comum é a mensagem típica dos livros de auto-ajuda. Basicamente, pregam o otimismo e a esperança. "Quem somos nós?" começa falando de física e descamba para uma pregação falaciosa de auto-ajuda. Aliás, encher a boca de "física quântica" para argumentar a favor de qualquer coisa também está na moda. O que é reprovado pela grande maioria dos físicos. É bem sabido: são geralmente extensões e apropriações indevidas, senão até mesmo oportunistas, de leis que se aplicam, em tese, somente ao mundo subatômico.
"O segredo", por sua vez, devido à carência de paralelos com a ciência estabelecida, se segura mais no discurso, na retórica, num blá-blá-blá repetitivo, masturbatório, americanóide, sem fim. Por sinal, muito similar àquelas longas e insensatas propagandas americanas, em que o produto é anunciado por horas a fio, com depoimentos exagerados, caricatos e fraudulentos. Enfim, conversa de vendedor.
Baseados no que chamam de "lei da atração", encadeam argumentos, de modo aparentemente lógico, para convencer ou hipnotizar o espectador. Sim, hipnotizar. Repetem suas fórmulas à exaustão. Reduzem tudo à famigerada "lei da atração". Esta basicamente diz o seguinte: semelhante atrai semelhante. Pensar coisas ruins atrai coisas ruins. Pensar coisas boas atrai coisas boas. Resumindo, é a mesma lógica do pensamento positivo, só que agora com outro nome, com nova roupagem. A fórmula é antiga: dar nova roupagem para algo já velho, batido. Utilizar um nome novo para falar do que não é segredo nenhum.
Minhas posições mais extremas em relação a este filme podem ser colocadas em um segundo plano. O que pretendo traçar aqui, e espero já não ter espantado o leitor simpatizante do gênero auto-ajuda, é uma reflexão sobre o otimismo e o pessimismo.
O argumento principal de quem assistiu “O segredo” é: “Mas como você vai negar que o pensamento positivo é benéfico? O que custa ser otimista?”. E a questão que proponho é a seguinte: “O otimismo é sempre benéfico? Em qualquer ocasião, sob qualquer circunstância?”. O pessimismo, por outro lado, é sempre maléfico?
Comecemos pelas definições. Definição de otimismo, segundo o dicionário Houaiss: “disposição para ver as coisas pelo lado bom e esperar sempre uma solução favorável, mesmo nas situações mais difíceis.”. E a definição para o pessimismo: “tendência para ver e julgar as coisas pelo lado mais desfavorável; disposição de quem sempre espera pelo pior.”
Tanto uma quanto a outra disposição de espírito possuem virtudes e deficiências. Há negação da realidade no otimismo, fantasia, pensamento mágico, infantilismo. No pessimismo: obsessão, auto-destruição, perfeccionismo, preciosismo. O otimismo é ingênuo, bobo, flácido. O pessimismo é arrogante, duro, ácido.
Ver ou julgar as coisas pelo lado bom ou ruim? Não conheço concepção que defenda o pessimismo neste caso. Julgar pelo lado bom, em termos gerais, quando se faz um balanço de toda a nossa vida, a torna possível, válida, viável. Fornece motivos para continuar tocando nosso barquinho. E motivos que estejam fundados no agora, no tempo presente. Temos de ter motivos, disposição, vontade para continuar. E que eles se situem, de preferência, no presente. Que sejam dados no aqui e no agora de nossa existência.
Porém, o mais virtuoso na verdade seria o julgar bem, para poder fazer o bem. Encontrar a verdade, de fato. Saber ponderar. E não simplesmente depender de tendências a ver o bem ou o mal. Em termos éticos a questão é a seguinte: qual disposição, em uma determinada situação, conduziria a mais ou menos sofrimento, no final das contas?
O otimismo carrega mais facilmente a aparência de que é sempre melhor, pois é uma disposição de devaneio. Ou seja, mesmo que tudo esteja na pior, o otimista parece refugiar-se em suas fantasias e imagens de que tudo está bem ou tende com certeza a melhorar.
Para Freud isto é maléfico. É o refúgio na fantasia. Alienação. O sujeito se aparta da realidade, construindo castelos no ar. O pai da Psicanálise é um defensor da conscientização. Melhor saber do pior e aceitá-lo como parte da realidade para poder melhor enfrentá-lo e extingui-lo. Retirá-lo de nossa consciência o torna ainda mais poderoso. Deste modo ele fica fora de nosso controle. A ausência de consciência do mal o transforma em uma espécie de assombração. O otimismo responde prontamente ao princípio do prazer: evitar o que é doloroso, de modo imediato, sem qualquer ponderação. “Isola, isola...”, é o que diz o jargão popular.
Mas a grande questão é: o que pode ser negado e o que não pode. O filme “O segredo” diz: não basta pensar que tudo vai dar certo. Não basta pensar que você pagará suas dívidas. Deve-se colocar o verbo no presente: “já paguei minhas dívidas”, e não ficar adiando para o futuro. “Já paguei?”, não tendo pagado? Na visão psicanalítica isto é negação pura da realidade. Recalque. Para a mentalidade presente no filme é instaurar uma nova realidade mental e de espírito, em acordo, em consonância plena com aquilo que se deseja. Para um é tolice, auto-engano. Para outro é programação mental.
Lembro também de Lair Ribeiro, dizendo mais ou menos assim: “Você deseja ser rico? Então deve começar a pensar que é rico. Pensando como rico, você passa a agir como rico. E assim, enriquece”. Na essência era isso o que ele dizia. Talvez isso seja bom para produzir alguma aparência. A qual, na mediocridade de nossas transações cotidianas, ainda é muito importante. Por outro lado, pode ser também um desastre. Simplesmente porque o sujeito passa a gastar o que não tem.
Interessante a consideração de Comte-Sponville em seu “Dicionário Filosófico”:
“Prefiro a fórmula de Gramsci: “Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade.” Ver as coisas como são, depois dar-se os meios de transformá-las. Considerar o pior, depois agir para evitá-lo. Mesmo assim morreremos? Mesmo assim envelheceremos? Claro. Mas teremos vivido mais.”
Lembro de uma colega de profissão. Otimista que só. Dizia que meu problema era o “excesso de realismo”. Ela tinha os olhos esbugalhados. Abria-os, parecia que iam saltar das órbitas, e começava a falar em tom messiânico dos paraísos que o futuro nos reservava. Seu filho cresceu com o peso enorme de uma série de frustrações quase incontornáveis. Ela o criara, dizendo-lhe que seria o melhor, o mais perfeito e mais poderoso dos mortais. Projetara um futuro fabuloso para esse filho. E aquela criança acreditou nisso. Era um peso enorme para a sua existência saber que era uma pessoa normal, comum. Seu problema central? O de todo neurótico: grande intolerância à frustração.
E a questão agora é a seguinte: otimismo em excesso pode gerar baixa tolerância à frustração? Cria uma auto-estima de papel? A qual se esfacela no primeiro contato com a dureza da realidade?
Penso que é muito importante considerar a possibilidade de derrota, de perda. Mas que isso não se transforme numa obsessão, em um pensamento fixo e mórbido de que tudo irá com certeza dar errado.
O técnico de futebol dava entrevista e dizia assim: “Estamos preparados somente para a vitória”. Talvez até seja bonito de se ouvir. Mas, e se perder? Como é que fica? Morre? Fica louco? Aprender a perder é fundamental? Conceber a possibilidade de derrota, fracasso e tentar se harmonizar com isso talvez seja também muito saudável.
“A meditação sobre o fato da morte ser inevitável deve ser feita diariamente. Todos os dias, quando o corpo e a mente de um indivíduo estão em paz, ele deveria meditar sobre ter o corpo estraçalhado por flechas, rifles, lanças e espadas; sobre ser carregado por vagalhões; sobre ser lançado em meio a um incêndio terrível; sobre ser atingido por um raio; sobre ser chacoalhado até a morte por um terremoto; sobre cair de um penhasco de centenas de metros; sobre morrer de doença ou cometer seppuku na morte de seu mestre. E todos os dias, sem falta, o indivíduo deveria se considerar morto.”
Esta citação representa ensinamentos completamente contrários à idéia de pensamento positivo. Os fanáticos de “O Segredo” certamente abominariam tais considerações. E elas estão, contudo, em um conhecido livro da sabedoria oriental, o “Hagakure”, o livro do samurai. Trata-se de um guia espiritual para guerreiros, fruto das concepções de Yamamoto Tsunetomo (1659-1719), um sábio samurai que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Este pequeno livro, por sua vez, é muito lido também como um auto-ajuda para a vida cotidiana de qualquer pessoa comum.
É a instrução mais do que clara de que devemos meditar constantemente sobre o pior, para podermos nos preparar melhor para ele. Vai projetar um avião? Então, pense em todos os acidentes possíveis para construir o melhor avião possível. Novamente: pessimismo da inteligência e otimismo da vontade. Pensar também o pior para fazer o melhor. A minha impressão às vezes é que se o pessimismo em excesso tende ao transtorno fóbico, o otimismo em excesso tende à burrice.
Paulo Coelho, em “O Alquimista”: “quando desejamos algo, o universo conspira a nosso favor”. Li somente metade do livro. E foi o único que tentei de Paulo Coelho. Pensei: não quero fazer parte da turma que não leu e não gostou. E confesso: não gostei. E também não tenho nada a dizer ou criticar nesse autor. Simplesmente não gostei. Não é o tipo de gênero ou história que me envolve. Prefiro deixar o Paulo Coelho em paz no sucesso e na fortuna dele.
Mas esta passagem que citei, contesto. Que história é essa de desejar e o universo desejar junto? Poderia ser o contrário, por que não? Se tomarmos falaciosamente a lei física da ação e reação, dá o contrário: basta desejarmos algo, que o universo, por reação, logicamente, irá conspirar contra.
Porém, o mais interessante foi encontrar esta mesma citação, escrita de outra maneira, por um outro autor. Não me lembro o nome dele. Mas lembro que atribuía a autoria original a Goethe: “quando perseveramos, o universo conspira a nosso favor”. Sem dúvida, esta é uma formulação bem mais sofisticada e sensata. Não basta ficar pensando ou desejando não, deve-se antes de tudo agir.
Por outro lado, assim como o otimismo, a própria perseverança deve ser relativizada. Não são conceitos ou virtudes absolutas. O excesso, a desmedida, são considerados viciosos, desde a Antiguidade. Os autores de auto-ajuda pecam ao conceber estas disposições como absolutas. Desculpem-me, mas isto é somente uma postura de vendedor. Otimismo em excesso é loucura, burrice. E como também saber onde termina a perseverança e começa a teimosia, a burrice?
Quer coisa mais perseverante do que uma abelha se debatendo por horas, até morrer, no vidro da janela, quando sua liberdade está a cinco centímetros acima dela? Há momentos em que é muito importante dar uma parada, tomar distância, para deixar de somente perseverar, perseverar no erro. Assumir a possibilidade de derrota e saber aceitá-la é também fundamental. Isto é saber perder.
Perseverar com muita avidez pode também ser compreendido como aquela corrida desembestada de quem vai com muita sede ao pote. Avidez, o que isso significa? Desejo em excesso. Excesso de expectativas. Apego excessivo ao sucesso, à vitória. Talvez seja melhor esperar menos, bem menos, e ir vivendo, sem tanta ambição, sem tanta megalomania. E, convenhamos, é isso o que percebemos facilmente nos olhos siderados dos palestrantes do filme “O segredo”: megalomania, ambição excessiva (utilizo um eufemismo, para não dizer logo ganância), promessas, pregação fanática.
Penso que também vale aceitar o fluxo da vida, sem tanto apego a passado, futuro ou o sucesso. Repito uma história que já contei aqui:
“Como, vocês, monges, vivendo de modo tão simples e isolados do resto do mundo, se dizem felizes?”, indagou um curioso a visitar um templo, espantado com o isolamento, a simplicidade e o silêncio. Pois nada acontecia ali. Era tudo ausência. Tudo do qual nós geralmente fugimos. Aquilo que parece nos conduzir à melancolia, ao tédio.
O mestre respondeu:
“Somos felizes porque não lamentamos o passado, nem esperamos nada do futuro.”
Os autores de auto-ajuda, de um modo geral, concordam com a primeira parte da fala do monge. Pregam bastante que devemos nos libertar do passado. Porém, em relação ao futuro, o negócio é fomentar freneticamente um mundo imenso de expectativas, fazer os olhinhos do espectador brilharem em visões maravilhosas. Mestres da promessa contínua. Sempre renovada em um novo best-seller salvador de todas as frustrações. Indústria da esperança. É, ela existe, e vende milhões, seja por meio de auto-ajuda ou por meio das religiões.
“Nunca desista de seus sonhos”, título de best-seller do mitômano Augusto Cury. Mas é também possível dizer: pelo contrário, desista de seus sonhos e vá agir sobre o mundo. Troque seus sonhos por projetos, são bem mais sólidos e muito menos permeáveis a frustrações. Dê um passo de cada vez. Cuidado: quanto maior o sonho, maior o tombo. Sonhar alto demais, além de prova de infantilidade, é desejar sem poder e sem saber. É desejar demais o que não se tem. É apostar na frustração, no tombo, na mentira.
E por que ficar sonhando, devaneando, seria a garantia do sucesso? A avidez é prova de que o tiro pode sair pela culatra. Se um por um lado, sonhar, fantasiar, produz ensaios, os quais nos prepararam para um evento futuro. Por outro, podem também criar excesso de expectativas, a melhor receita para frustrações difíceis de se contornar.
Já sugeria Machado de Assis: pior do que cair do segundo andar e quebrar a perna, é cair das nuvens, de um sonho. Eis a frustração. E é menos tolerante à frustração quem não é capaz de considerar ou suportar a possibilidade de fracassar. Se o fracasso é insuportável, há baixa tolerância à frustração. E qual é a saída patológica para isso? Segundo Freud, é o mecanismo infantil de se refugiar na fantasia, a qual aparta o sujeito da realidade, impedindo que viva e aja de verdade em sua vida concreta. Ou seja, o sujeito passa a negar a realidade.
Examinemos o mecanismo de recalque. Visa afastar da consciência algo que seja desagradável. É o famoso “isola”. Produz o isolamento do que seja doloroso lidar. Torna inconscientes os conteúdos que provocam desconforto: tanto o que o senso comum chama de pensamentos ruins, negativos, como o que é proibido, censurável, moralmente condenável, ou o que ainda não é identificável e também dotado de uma desagradável e insuportável estranheza.
É aquela coisa, o sujeito sente algo estranho, o qual ainda não sabe o que é, porém nefasto. A tendência é recalcar: isolar, tornar inconsciente, antes mesmo que perceba claramente o que está ocorrendo. Um exemplo caricato, contudo bastante ilustrativo, é o recalque de desejos, ou mesmo lampejos homossexuais em alguém muito machista, homófobo. O sujeito sente algo estranho e antes mesmo de saber o que é, recalca, “isola”. É clássica a cena cômica em que o machão, sem querer, solta a franga e logo, de modo aflito, exclama: “isola, isola...”. Ou seja, é melhor deixar isso (“que nem sei o que é”) pra lá. Aliás, outra sugestão comum: “deixe isso pra lá”, “esqueça isso”.
O recalque, a negação da realidade, são então mecanismos comuns, que utilizamos com freqüência. Recalcar besteiras, detalhes, coisas sem importância, não só é comum como necessário. Porém, nem sempre funciona. E quando o recalque ou a negação falham, a coisa pode ficar bem feia. E é aí que fica deflagrada a patologia.
A partir de um certo ponto, o recalque se torna inútil e até mesmo mais maléfico. É como sempre varrer a sujeira para debaixo do tapete ou viver engolindo sapos. Chega um momento em que o caldo entorna, e de modo assustador. É o que Freud denomina como o retorno do recalcado ou o sintoma. A tendência é começar a agir descontroladamente em função daquilo que se recalcou. O que foi negado passa agora, disfarçadamente, a comandar o sujeito.
Freud é um defensor da conscientização. Acredita em sua força libertadora. Mas não é somente Freud quem pensa assim. É praticamente toda a história da sabedoria, seja ela ocidental ou oriental. Quando vejo o receituário de um filme como “O segredo”, ou qualquer pregação exclusiva ou excessivamente otimista, não consigo deixar de pensar que é imprudente conceber o otimismo como um bem absoluto. Nestes termos, a apologia do otimismo é a apologia da negação da realidade, da ignorância. Por este ponto de vista, o que fazem os otimistas? Negam a realidade.
Outro bom exemplo para botar um pouco mais de auto-crítica nas apologias do otimismo é a sabedoria Zen. O que ela ensina também não tem nada a ver com o otimismo: “Quer flutuar? Afunde. Quer afundar? Flutue”; “Quer acertar no alvo? Antes desprenda-se do alvo e de si mesmo”. No livro “A arte cavalheiresca do arqueiro Zen” está assim: “a resposta é: o discípulo só progredirá se se desprender de toda intenção e do seu próprio eu” (Herrigel, 1999, p. 83).
O desapego, o desprendimento, são partes fundamentais do ensinamento Zen. Quando muito desejamos algo, tendemos a não ser capazes de manter uma certa distância da situação. Tornamo-nos, muitas vezes, ávidos, em busca aflita, o que pode por tudo a perder. Nestes casos, muito comuns, é mais prudente preparar-se também para aceitar o fracasso. Não basta simplesmente botar na cabeça que já conseguimos.
Lembro-me de um amigo, apostador compulsivo. Gastava boa e importante parte de seu salário apostando na loteria. Era muito otimista. Aos seus críticos dizia assim: “vocês vão ver quando eu ganhar”. Não adiantou pensamento positivo, otimismo ou perseverança alguma. Negar a realidade, ou seja, a chance irrisória de acerto, não conduziu a nenhum sucesso. Isto porque ele estava simplesmente equivocado.
Apesar de ainda caber aqui mais uma série de observações, fechemos, por fim, este longo texto com a seguinte e breve consideração: “Se macumba desse certo, o Haiti era campeão mundial de futebol.”
Referências
HERRIGEL, E. (1997). A arte cavalheiresca do arqueiro Zen. São Paulo: Pensamento.
COMTE-SPONVILLE, A. (2004). Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes.
TSUNETOMO, Y. (2004). Hagakure: o livro do samurai. São Paulo: Conrad do Brasil.
3 comments:
Valeu à pena esperar. Muito bom querido.
Bom, fiquei pensando... segredo, paulo coelho, aí lembrei dessa música:
"Aprendi o segredo
O segredo, o segredo da vida
Vendo as pedras que choram
sozinhas no mesmo lugar
Vendo as pedras que sonham
sozinhas no mesmo lugar"
Talvez esteja aí o Paulo Coelho de antes que nega o de hoje, pois se as pedras sonham e choram sozinhas no mesmo lugar, talvez seja porque dali não buscam sair nunca, por isso a eterna dor do sonho não realizado.
Parabéns, ótimo texto, até empolguei para escrever aqui minhas besteiras, rs...
Abraços
hey, guri.
achei isso aqui por acaso, mas já tô botando fé.
visitarei mais vezes.
:3
Mais um texto muito bom! Me identifiquei pois era uma cética pessimista e ao me envolver com a literatura que vc citou, criei um otimismo irracional e consequentemente FRUSTRAÇÃO! Na sequência, desenvolvi sintomas depressivos. Hoje estou caminhando para o equilíbrio. Muito importante os alertas que vc fez. Muita gente não imagina os problemas psíquicos que podem surgir
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