Imagine uma senhora de 42 anos e sua filha de 22 anos de idade. Imagine que as duas têm sobrepeso: aproximadamente 1,65 m e 90 kg cada uma. Agora imagine que elas estão sem o dinheiro para as passagens de ônibus, e que essa filha precisa levar sua mãe ao CAPS, pois ela vem nos últimos dois meses padecendo de crises psicóticas.
Sofre com sintomas psicóticos há 15 anos, com períodos de remissão entremeados em todos esses anos. Porém, no contexto atual, estão sem dinheiro para as passagens, e decidem então acordar às 5:30 hs da manhã, para se deslocarem por cerca de 15 km, de bicicleta, as duas, para chegarem ao CAPS.
Enfrentam o trânsito de rodovias em duas bicicletas precárias. Uma é do tamanho de uma mountain bike, porém a outra é uma bicicleta bem menor, cuja roda é aro 20. É uma bicicleta para uma criança de uns 10 anos de idade mais ou menos.
E também, para a minha surpresa, a única das duas que consegue se equilibrar em cima dessa bicicleta é a mãe. Edileuza (nome fictício) chega tranquila, pedalando a bicicleta de seu filho de 8 anos de idade. Sendo evangélica, sua igreja a obriga a manter os cabelos compridos e a usar vestidos longos. Mesmo com seu vestido longo, estampado com flores, ela, com seus cerca de 90 kg, consegue guiar a bicicleta de seu filho de 8 anos de idade com bastante agilidade.
Hoje entreguei-lhes o formulário para a tentativa de aquisição de passe-livre. E lá se foram as duas para mais uma aventura, em direção ao metrô. Entrariam no último vagão, o qual permite a entrada de bicicletas, e partiriam para mais uma aventura, em direção agora ao Plano Piloto.
A imagem das duas se distanciando, daquelas duas mulheres obesas, enormes, em bicicletas tão pequeninas, e o vento balançando os seus vestidos e cabelos, foi a poesia dessa manhã.
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