Um deputado, que é pastor evangélico, fez em sua página uma enquete com a seguinte questão:
"Para você a depressão é causada por uma doença natural ou por demônios? Comente."
A maioria das pessoas que não acredita em demônios, ou coisa parecida, e antipatizam com o referido deputado, estão revoltadas com esse tipo de questão, e estão lá, fazendo exatamente o que ele quer: estão escrevendo, dando a atenção que ele quer, fazendo virar notícia. Ele queria causar e causou. Deve estar se sentindo muito bem com tantas pessoas acessando, reagindo, respondendo ou compartilhando. Porque uma coisa é fato: marketing negativo é algo que praticamente inexiste, e esse deputado sabe muito bem disso.
E hoje várias pessoas já marcaram meu nome em tal enquete. Aliás, percebi que vários colegas meus aqui de Facebook estão lá participando, e dando sua resposta para essa celebridade das polêmicas toscas e bizarras.
Porém vocês sabem que trabalho no SUS, com população de baixa renda e que, portanto, muitos pacientes também me fazem esse tipo de pergunta.
Digo a eles que posso responder somente como psicólogo. E como psicólogo a resposta é muito simples: é uma doença. É natural. Faz parte da natureza. Porque tudo faz parte da natureza. Eis o que temos. Eis o que nos resta. Não há nada além disso: a natureza.
Contudo gosto de desdobrar a questão, e devolvê-la para quem a está me dirigindo:
- Se alguém que você confia lhe disser que é somente uma doença, como é que você se sente? E se esse mesmo alguém lhe disser que é causado por demônios, como é que você se sente?
A resposta que geralmente obtenho de meus pacientes é a de que eles preferem que a depressão (ou qualquer outro tipo de transtorno mental, do qual estão geralmente a padecer) seja considerada uma doença, por mais que suas próprias crenças religiosas afirmem se tratar de algo sobrenatural. Ficam menos atemorizados quando são informados de que é somente uma doença.
Se estão procurando por psicólogos é porque suas próprias crenças religiosas não deram conta de ajudá-los nesse sentido.
Então nesse contexto costumo, com bastante tranquilidade, lhes dizer que a crença em entidades tão poderosas e maléficas, como demônios, ou a crença no próprio inferno, é geralmente utilizada para dominá-los e explorá-los.
Acho que a crença nesse tipo de coisa provoca uma série de desvios, os quais geralmente são mais danosos do que benéficos para a saúde e a espiritualidade dessas pessoas.
Frequentar uma igreja, ter uma religião, pode ser algo muito bom para o bem-estar. Mas pode também ser muito danoso em alguns casos. Em meu trabalho nunca deixo de estar junto com meus pacientes, estimulando-os a refletir sobre suas próprias vidas, e sobre o que realmente está acontecendo: se estão de fato obtendo ajuda de suas igrejas e religiões, ou se estão sendo explorados.
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