Como sempre digo: as coisas não melhoram porque você ficou mais otimista. Você ficou mais otimista porque as coisas melhoraram.
Geralmente não basta recomendar que as pessoas sejam mais otimistas. O mundo, as relações com o mundo, precisam se alterar e, se alterando, é assim que as pessoas naturalmente ficam mais otimistas.
O otimismo é um sentimento, e sentimentos não brotam do nada. Cada um tem uma história de vida e condições específicas para poder se sentir desta ou daquela maneira, para se sentir otimista ou não, por exemplo. A recomendação para que alguém seja mais otimista tende a fracassar. É como recomendar, por exemplo, para que alguém não sinta fome quando está sentindo fome.
Acreditar não é causa de comportamento, acreditar já é o resultado, a consequência de algumas relações com os outros e com o mundo. Dizer que as pessoas precisam acreditar é muito pouco. Precisamos fornecer as condições adequadas para que as pessoas comecem a acreditar. Elas começam a acreditar se essas condições se formam. As condições primeiro se formam, e aí sim elas começam a acreditar.
Reiterando, com um acréscimo: a recomendação de mais otimismo costuma ser algo muito pouco efetivo e forçado, principalmente se vier alguém com quem não temos vínculo, que não nos conhece ou não conhecemos suficientemente para poder confiar e poder contar com essa pessoa, caso as coisas não deem certo.
É somente entrando em contato com a realidade, com as contingências que a própria situação vai impondo, que você vai acreditar que uma hora pode conseguir ou não alguma coisa nessa vida.
O sentimento de crença depende de como a pessoa vai se envolvendo com a situação que a desafia. É muito difícil acreditar se não houve preparo para isso. Acreditar, também, não é algo que brota do nada. Brota de ambientação.
Fora o fato de que também haverá crenças completamente deslocadas da realidade, crenças falsas, que somente estão baseadas no incentivo enganador de algumas pessoas que geralmente estão abusando de quem acredita. Falsas crenças e otimismo forçado não fazem verão.
O que muitas pessoas não percebem é que, na variedade e complexidade da vida, há históricos diferentes de relação com a frustração. Para fazer com que as pessoas passem a ser mais otimistas (no sentido comportamental de continuarem lutando, apesar das condições adversas, o que em muitos casos nem mesmo seria classificado como otimismo, mas que seria sim o mais desejável) é necessário que haja treinamento, habituação em relação a alguns tipos de frustração.
Porque é aquela velha história: o pessimista reclama do vento, o otimista espera que ele mude de direção, e o realista ajusta as velas. E olha que esse realista aí pode até estar um pouco pessimista, dizendo que a probabilidade de conseguir as coisas seja pequena, mas ele não para de agir, não para de tentar ajustar suas ações ao que está ocorrendo no mundo e na natureza.
Trata-se do que muitos chamam de otimismo da ação, o qual é muito melhor do que o otimismo da ideia. E esses padrões de comportamento não têm origem na solidão de um indivíduo, que muitos ilusoriamente concebem como gerador de seus próprios sentimentos e aspirações. Depende das estimulações do mundo, de tudo o que ocorre no mundo e nos atinge, nos afeta, seja isso provindo de pessoas ou do que comumente denominamos como “mundo físico”.
Portanto, sem nos esquecermos que não existe geração espontânea, que não existem sentimentos e desejos que brotam do indivíduo, em muitos casos é melhor a combinação de pessimismo no campo das ideias com otimismo no campo da ação. Se você vai, por exemplo, construir um avião, talvez seja melhor pensar no pior que pode acontecer, para assim construir o melhor avião possível.
No comments:
Post a Comment