(2º lugar no Concurso de Contos e Poemas da Casa da Cultura de Ribeirão Preto de 1996)
Precisava escrever
mais três pedaços de ressentimentos.
Está faltando comida
naquela parte de fora,
filha do frio.
Existe um homem a mandar no tempo,
pedindo as contas
do que não pode ser atrasado
ou gasto
com uma distração esquecida
de si mesma.
Na hora em que a vida impede o que não é,
dizendo pra todo mundo
do coração certo,
da alma sem fuga para o rumo do sorriso.
De-mo-ro...
Hoje,
mais velho,
espero a tudo,
falando para as crianças
do vôo da bola vagorosa
de algum dia
em que brincar não tinha perigo.
Corriam as lembranças a se mentir na tontura
do tanto que já fora
e do muito menos que ainda serei.
Não falo do tempo dos anos
e sim do tempo dos ollhos.
Zombava alguém lá trás
do meu jeito torto,
da minha gargalhada solitária.
Corria pro mato
procurando o céu mais azul,
uma nuvem voava por sobre a minha tristeza.
Encontrava uma estrela da tarde
piscando,
seduzindo,
na ilusão de algo profundo,
a sugar as lágrimas
espremidas no peito doído,
prometendo-se um sorriso àqueles que sentem fome.
Descobri o quanto pode esse mar de escrever,
desenhar um sonho
na estrela da cabeça,
sem a ameaça de carrascos à beira do ouvido,
sujando as cores
do que pensamos
a cada esquina de sol nascendo.
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