Thursday, December 02, 2004

CRÍTICO CLITÓRIS

No centro do nada
perto do abismo
feito um bico e uma bica
onde tudo e mais um pouco de mistério espera
paira caminha roda mundo e fica
dentro dos vestidos
dos cheiros
e gemidos das mulheres
em vazante volúpia
nas calcinhas nas alcovas nas cartas nos contos de fadas
um pouco mais embaixo

na boca onde sonho e encaixo o queixo
a língua no buraco
no racho em riacho onde caço
fumegante pântano de carne
saliva salgado o mar de Sílvia
sua tia seu delírio secreto e malvado sua prima
nua inteira de fogo na vitrina
corra vire olhe no espelho um ponto vermelho
que cospe fogo atiçado e duro nervo
Nervo de fogo que secreta um grito um beijo
uma surra de prazer
por detrás do olho
dos lábios de molho
de línguas para lamber o mundo em portas de peles
arrombadas atacadas
por um escuro
que vive e habita o fundo
sem escudo sem mapa sem muro e sem rumo

clitóris
eis o nome do bicho
de biologia que indica qualifica e não domestica
de um brilho que pulsa vermelho
do seu grito de fome e vida crítica
do seu jeito de terra
suga engole come
empresta gozo e vida
tira toma de volta e enterra
único diminuto resistente resoluto
escondido extremo sacrificado membro
temido encarcerado explosivo crítico
disfarçado cínico evasivo dissimulado clínico
estudado analisado mentiroso
mapeado e místico
a voz do gozo
teso preso perdido
membro mutilado
sedento e ferido
verme voraz
sem face e sem dorso

bem pouco que é tudo
faz do prazer um fantasma
um vulto
ronda assombra
penetra secreta
e arromba
respira gozo e tumulto

clitóris
me some o seu nome
sua casa seu endereço
quando me engole e me come
sem fim nem começo
clitóris
te peço te empresto
prazer
e te cresço
te quero
te esmero
te conquisto
e te esqueço

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