"Sally Adee, uma jornalista da New Scientist, teve permissão para visitar uma instalação de treinamento de atiradores de elite e verificar os efeitos em si mesma. Primeiro, ela entrou em um simulador de campo de batalha sem usar o capacete transcraniano. Sally descreve como o medo a invadiu quando viu vinte homens mascarados usando cinturões com bombas suicidas e armados com fuzis avançando em sua direção.
“Para cada um que consigo matar com um tiro”, escreve Sally, “mais três atacantes aparecem do nada. Certamente não estou atirando com rapidez suficiente, e o pânico e a incompetência fazem com que eu trave minha arma continuamente.” Felizmente para ela, os atacantes eram apenas imagens de vídeo, projetadas em gigantescas telas em torno dela. Ainda assim, ela ficou tão desapontada com seu fraco desempenho que preferiu largar o fuzil e sair do simulador.
Depois disso, Sally foi conectada ao capacete. Ela relata que não sentiu nada fora do comum, exceto um leve formigamento e um estranho gosto metálico na boca. Mas começou a acertar os terroristas um por um, fria e metodicamente, como se fosse Rambo ou Clint Eastwood.
“Quando vinte deles correram para mim brandindo suas armas, eu calmamente apontei meu fuzil, fiz uma pausa para respirar profundamente e acertei o que estava mais próximo, antes de apontar para o alvo seguinte com tranquilidade. Não senti o tempo passar e de repente ouvi uma voz dizendo: ‘Bem, acabou’. As luzes se acenderam no simulador…
Naquele súbito silêncio entre os corpos que me cercavam, eu estava à espera de mais atacantes, e fico um pouco desapontada quando a equipe começa a remover meus eletrodos. Olho para cima e me pergunto se alguém adiantou o relógio. Inexplicavelmente, haviam se passado vinte minutos. ‘Quantos eu peguei?’, pergunto à assistente. Ela olha para mim zombeteiramente. ‘Todos eles.’”
O experimento mudou a vida de Sally. Nos dias seguintes ela se deu conta de que tinha passado por uma “experiência quase espiritual… o que definia a experiência não era ter se sentido mais esperta ou ter aprendido mais depressa: o que fez o chão sumir foi que, pela primeira vez na minha vida, tudo o que havia na minha cabeça finalmente silenciou… Meu cérebro livre de inseguranças e dúvidas foi uma revelação. De repente houve aquele silêncio incrível… Espero que você consiga me entender quando eu lhe disser que o que eu mais quis nas semanas seguintes à minha experiência foi voltar para lá e conectar-me àqueles eletrodos.""
(...)
"Em 2016, os estimuladores transcranianos ainda estão nos primórdios, e não está claro se e quando irão tornar-se uma tecnologia amadurecida. Até o momento eles incrementam aptidões por breves períodos, e os vinte minutos de experiência de Sally Adee podem ser considerados excepcionais (talvez até mesmo o resultado do famoso efeito placebo). A maioria dos estudos publicados sobre estimuladores transcranianos baseia-se em amostras muito pequenas de pessoas que os operam em circunstâncias especiais, e os efeitos e riscos de longo prazo são totalmente desconhecidos. No entanto, se a tecnologia amadurecer, ou se for descoberto algum outro método de manipulação dos padrões elétricos do cérebro, como isso vai afetar as sociedades humanas e os seres humanos?
As pessoas poderiam muito bem manipular seus circuitos elétricos cerebrais não só para atirar em terroristas, mas também para alcançar objetivos mais mundanos e liberais, como estudar e trabalhar com mais eficácia, aproveitar jogos e hobbies e ser capaz de se concentrar no que interessa em cada momento, seja matemática ou futebol. Contudo, se e quando essa manipulação se tornar rotineira, o suposto livre-arbítrio pode tornar-se só mais um produto que se pode comprar. Você quer dominar o piano, mas toda vez que chega a hora de praticar você quer na verdade assistir televisão? Sem problema: apenas ponha o capacete, instale o software adequado, e logo estará doido para tocar piano."
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