É comum que pacientes com comportamentos abusivos e violentos, principalmente com filhos e familiares, muitas vezes se justifiquem, dizendo assim: "eu sou doente".
Creio então que seja importante não nos fiarmos numa distinção rígida entre pessoas doentes e pessoas saudáveis.
O psicólogo lida o tempo todo com pessoas, com as quais sente que na maioria das vezes é capaz de dialogar e realizar alguns acordos. É muito importante entender os limites de cada uma das pessoas em um determinado grupo, e saber como fazer alguns acordos que respeitem esses limites na medida do possível.
E é sempre também importante deixar claro que ninguém está acima da lei, da ética e dos outros. Quando alguém tenta justificar comportamentos abusivos e violentos com seu transtorno mental, e isso é aceito de forma passiva pelos outros, há uma possibilidade grande de que seus sintomas se intensifiquem.
Porque o problema não pode simplesmente se transformar em "tenho transtorno mental, logo posso fazer o que me der na telha, e todos terão de compreender e aceitar passivamente". Porque transtorno mental não é passe-livre para comportamento abusivo e violento.
Faz parte da maturidade a responsabilidade. As pessoas, independentemente de ter transtornos mentais ou não, têm de entender que elas são minimamente responsáveis pelo que fazem. Permitir que alguém não responda por nada é estimular mais transtorno mental. E uma vida sem qualquer tipo de responsabilidade é enlouquecedora.
Então deixo claro para meus pacientes que seus comportamentos possuem consequências morais, afetivas e legais. Um comportamento não deixa de ser eticamente errado ou maléfico a outras pessoas, porque foi cometido por alguém que está doente. Um homicídio é sempre um homicídio, e isso tem consequências legais, mesmo para pacientes com transtornos mentais. Tento sempre deixar claro que as consequências sempre existem, e que medidas de contenção ou de reclusão muitas vezes serão tomadas.
E é também importante saber que as pessoas se machucam com as coisas que falamos e fazemos, e que o amor não é infalível. Acreditar que podemos fazer qualquer coisa que nos dá na telha, e que o outro continuará sempre nos amando, apesar de tudo, de todas as merdas que fizermos, é algo que não diz respeito ao desenvolvimento da maturidade e de uma relação sólida e saudável com as pessoas. Isso não é o caminho para a saúde. É o contrário. Não é assim que se produz uma pessoa mentalmente sã. Não é assim que se gera saúde mental.
O caminho são as relações menos violentas e mais tolerantes e amistosas possíveis. Mas obrigações, cuidado, responsabilidade e compromisso com os outros são também fundamentais.
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