Há um canal no YouTube, cujo tema é linguagem corporal, o qual tem feito bastante sucesso. Esse tema, linguagem corporal, desperta muito interesse em muitas pessoas, porque tem um aspecto de espetáculo.
A promessa é a de que seremos capazes de fazer a leitura dos desejos, intenções e sentimentos das pessoas, nos mais variados contextos, sem que precisemos entrevistá-las ou perguntar a elas o que está acontecendo.
A habilidade na leitura de linguagens corporais nos daria um grande poder. É a promessa de que, somente olhando para uma pessoa, saberemos o que aconteceu, o que está acontecendo e o que acontecerá. Promete uma espécie de onisciência em relação ao tempo (passado, presente e futuro) e à privacidade das pessoas.
Convenhamos, é uma promessa muito grande. Não é muito diferente do que algumas outras áreas controversas também prometem, tais como a hipnose e a programação neurolinguística.
Com pouco tempo, e pouco esforço, o detentor dessas habilidades teria um retorno muito grande. Do que já li sobre essas três áreas, para mim uma coisa é muito clara: sobram controversias e não há nada de conclusivamente corroborador no meio científico. E isso acaba sendo um terreno muito fértil para quem deseja trabalhar com isso como caça-níqueis. Sobram o mistério e a promessa de muito poder (em pouquíssimo tempo) sobre as pessoas.
Nesse canal do YouTube percebi que a linguagem é muito refinada, e a impressão é a de que aquele apresentador está falando de uma série de mecanismos já conclusivamente corroborados por dados científicos. Contudo, como já mencionei, a coisa não é exatamente assim. É uma área ainda, em termos científicos, significativamente controversa.
Acho muito engraçado quando o apresentador desse canal faz análises da linguagem corporal de competidores, principalmente de lutadores, após a ocorrência das lutas. Analisar a linguagem corporal do vencedor, e tentar a todo custo justificar qualquer sinal que ele emite como sinal de alguém que vai vencer, sabendo que já venceu, é embuste.
Se o vencedor se mostra com o queixo firme, olhando fixamente nos olhos do oponente, com a musculatura toda contraída, é sinal de que vai vencer. Contudo, se o vencedor mostrar um olhar um pouco mais baixo e mais discreto, ou até mesmo hesitante ou tímido, também é sinal de que vai vencer porque estava com o olhar tranquilo de quem estava mais confiante.
Praticamente tudo o que o sujeito faz e demonstra em sua linguagem corporal acaba sendo tomado como justificativa para o seu sucesso. Os critérios que ele aplica na análise dos vencedores não aplica na análise dos derrotados, pois sempre analisa a linguagem corporal após os resultados. E quando faz alguma análise, anteriormente a qualquer resultado, sempre faz nessa probabilidade de 50% para cada caso, o que não é muito diferente do que muitos videntes e charlatães fazem.
Quem acompanhou a luta que ocorreu ontem na categoria dos pesos-pesados do UFC sabe muito bem do que estou falando. O vencedor parecia muito menor e mais fraco, além de ter um olhar muito menos focado. Contudo, durante a luta, tudo foi absolutamente diferente. O corpo também mente, e muitas vezes não é o corpo quem vai nos dizer que está mentindo. E é isso o que boa parte das pessoas que trabalha com linguagem corporal não fala. Nós seres humanos somos muito bons na arte da mentira, seja ela verbal ou não.
Então para saber se alguém está mentindo, ou qual será o resultado de um determinado evento, não basta a análise da linguagem corporal. Ela é somente um, dentre vários componentes, de uma análise da situação em questão. E certamente não é o principal deles. Se você fez algum curso na área, espero que seu professor tenha sido competente e responsável o suficiente para ter lhe dito isso.
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