Discursinho contra a corrupção, atualmente, é um dos mais furados que já vi. Qualquer político que tem condições de chegar ao poder, vencendo a eleição presidencial, não é limpo. Não tem como, no sistema político atual, ter condições de chegar lá sendo limpo. E isso não vale somente para o Brasil, não. Isso também se encaixa perfeitamente, por exemplo, no sistema político norte-americano.
Nunca teve nada a ver com corrupção, desde quando se justificava que Maluf roubava, mas fazia. E nem terá nada a ver com corrupção enquanto não fizermos uma reforma política decente.
Os eleitores de Maluf adoravam aquela história de obras rodoviárias faraônicas e superfaturadas. Achavam que aquilo era fazer alguma coisa. A maioria tinha paixão por carros e achava o máximo poder botar seus carrões nas obras que Maluf havia construído.
Votar em Maluf não era muito diferente, simbolicamente, do que comprar algum modelo de automóvel muito potente e caro, e ficar exibindo isso como demonstração de poder. Maluf ostentava poder e riqueza privada, e seus eleitores também gostavam de ostentar poder, e de estarem associados a celebridades ou poderosos (de fato) que assim o faziam.
Agora, com o candidato protofascista, talvez não seja muito diferente. Não deixarão de votar nesse cara por ele ter se envolvido ou não com corrupção. Seus eleitores se identificam com sua imagem, que representa força e poder. A maior parte de seus leitores está mais fascinada pela possibilidade de haver o uso da força do que com honestidade. Querem ver pessoas, em massa, sendo punidas e presas, ou até mesmo linchadas em público. Querem a centralização do poder na figura mítica de um herói, o qual fará todas as limpezas que julgar como necessárias. Querem limpeza, em todos os níveis possíveis.
Progresso para essas pessoas é: a manutenção de de alguns valores, fundados principalmente em preceitos religiosos, por mais arcaicos e inúteis que sejam; a construção de obras faraônicas (levantar prédios, construir estradas e investir em segurança, em poderio militar, bélico, em todos os níveis) e limpeza, em todos os níveis, a qual inclusive pode envolver a matança de muitas pessoas que para elas representam o Mal.
Concebem a si mesmas como pessoas práticas, mas na verdade são somente toscas, pois carecem e repudiam um nível mínimo de conhecimentos básicos em relação a direitos humanos, ciência, meio ambiente, biologia, etc. Repudiam os avanços científicos, mas não deixam de fazer uso de seus benefícios, e também repudiam o investimento em cultura.
Enfim: repudiam a própria atividade reflexiva e o debate democrático. Gostam de mais ação e menos conversa, mas gostam de uma ação que é mais genuína e infantilmente retratada por filmes de ação. Esse pessoal ainda pensa e age como se estivesse dentro de um filme do Rambo.
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