Acabei de assistir a um vídeo incrível, no qual, em fevereiro de 2016, o biohacker Josiah Zayner tenta fazer um transplante de todo o seu microbioma.
O cara é PhD em biofísica, e durante um período foi pesquisador na NASA.
Assim como eu, ele vem há vários anos padecendo de problemas gastrointestinais os quais, segundo um corpo crescente de evidências científicas, podem ser eliminados, ou significativamente amenizados, com uma alteração radical do microbioma intestinal.
O primeiro passo foi encontrar um doador saudável. Escolheu um amigo que ele julgava como completamente saudável para lhe doar fezes, saliva e amostras de pele.
O segundo passo foi composto pela tentativa de esterilização total de seu organismo. Tomou antibióticos para esterilizar os intestinos e se utilizou de uma série de procedimentos bactericidas para esterilizar completamente a sua pele.
O terceiro passo foi o próprio transplante, o qual exigiu anteriormente uma preparação bastante trabalhosa, pois ele teve de transformar essas amostras de pele, saliva e fezes em amostras que se tornassem biodisponíveis para o transplante. Então teve de preparar, por exemplo, as fezes de modo adequado, em solução salina específica, na proporção adequada, em cápsulas que pudesse ingerir, e que se abrissem somente em seus intestinos.
Não tenho todos os detalhes desse autoexperimento porque assisti somente ao vídeo, no site do New York Times, que veicula uma parte de todo o documentário que foi feito a respeito, o qual inclusive também está integralmente disponível na internet, para que qualquer pessoa possa assisti-lo gratuitamente.
Esse vídeo, entretanto, mostra que esse terceiro passo, que é o da tentativa de transplante total, foi realizado durante o período de 72 horas.
O mais interessante é que os produtores desse documentário registraram as reações contrárias de diversos pesquisadores e especialistas ao que Zayner estava fazendo. Obviamente há diversos pesquisadores pelo mundo afora, que estão lidando em detalhes com esse tipo de evidência, os quais talvez não fizessem oposição ao que ele estava fazendo. Contudo, os produtores fizeram questão de registrar as reações contrárias, as quais provavelmente são de pesquisadores não familiarizados com esse campo de estudos. E nesse vídeo é possível ouvir os áudios dos depoimentos de alguns desses pesquisadores, dizendo que o que ele estava fazendo era simplesmente estúpido, pois não havia um controle adequado de variáveis, além de perigoso, pois havia sérios riscos de contaminação, de ficar seriamente doente.
Entretanto, o que esses pesquisadores talvez não soubessem é que se tratava de um biofísico, expert em técnicas de sequenciamento genético.
E então o que Zayner fez? Ele submeteu todo o seu microbioma a um sequenciamento genético, que foi realizado por um laboratório independente, antes do experimento e 8 semanas depois.
E vejam só que interessante foi o resultado. O sequenciamento genético de sua pele, depois de 8 semanas, se manteve exatamente como era originalmente. Contudo, o microbioma de seus intestinos se alterou completamente. Logo depois desse transplante fecal, e ainda 8 semanas depois, o microbioma de seus intestinos estava quase idêntico ao microbioma dos intestinos de seu amigo que lhe doou as fezes.
E, o melhor de tudo: seus sintomas gastrointestinais simplesmente desapareceram.
Ainda não li nada sobre como seu organismo vem reagindo a essas mudanças, meses após os transplantes. Mas sei que essa técnica, a do transplante fecal, tem uma história de centenas de anos na medicina chinesa.
Essa técnica inclusive foi submetida a um experimento bastante rigoroso, realizado por uma equipe numerosa de pesquisadores holandeses, cujos resultados foram publicados na mais conceituada revista científica de medicina (New England Journal) no início de 2013.
Esses resultados foram de grande impacto no meio científico, pois o transplante fecal se mostrou como definitivamente superior ao tratamento antibiótico (com vancomicina) de colite pseudomembranosa, em estágio grave, provocada por bactérias resistentes da espécie Clostridium difficile.
Para quem quiser se aprofundar nessas questões posto abaixo o link referente a esse documentário, no New York Times, assim como alguns links básicos referentes às evidências científicas desse tipo de abordagem.
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