Todos os nossos sentimentos e ações possuem seus correlatos fisiológicos. Alterações fisiológicas ocorrem o tempo todo, e o que vai definir se existe doença, algum tipo de distúrbio, ou transtorno, são convenções.
Um determinado grupo social, segundo seus interesses e sua estruturação, vai definir se algumas alterações fisiológicas merecem tratamento/acompanhamento por meio do sistema de saúde, por meio de profissionais de saúde, e se também merecem alguns direitos, sejam eles de licença, afastamento do trabalho ou aposentadoria, por exemplo.
Se essas alterações produzem disfunções que venham a ser consideradas incapacitantes, seja para o trabalho ou até mesmo para o convívio social, logo essas alterações passam a ser classificadas como doença, distúrbio ou transtorno.
Então, obviamente, a definição do que seja, por exemplo, um transtorno mental possui um elemento valorativo. E valores, por sua vez, possuem em boa medida variação sócio-histórico-cultural.
Isso pode nos fazer pensar que esse elemento valorativo retira a objetividade da existência de transtornos mentais. Contudo, além de alterações fisiológicas (cuja detecção e mensuração por meio de exames laboratoriais ainda não é possível para a maioria dos transtornos mentais), existe um elemento bastante objetivo que pode atuar na compreensão ou na classificação mais objetiva do que sejam transtornos mentais: o sofrimento.
E o sofrimento talvez seja o elemento mais objetivo no combate ao relativismo moral, o qual costuma ser utilizado como argumento na defesa de que objetivamente não existiriam transtornos mentais.
Contudo, tanto o sofrimento quanto as alterações fisiológicas ainda não são facilmente ou comumente detectados e mensurados por exames físicos ou de laboratório.
Porém sabemos algumas coisas muito importantes. Sabemos que alterações de pressão arterial, de frequência respiratória e algumas alterações de potencial elétrico na atividade muscular e neurológica são evidências da existência de dor, de sofrimento.
Então creio que em um futuro próximo teremos recursos técnicos para que essas alterações fisiológicas, ou mesmo a magnitude de sofrimento, sejam detectados com mais precisão, podendo-se assim haver uma definição mais precisa do que poderia ser ou não classificado como transtorno mental.
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