Friday, November 05, 2004

JABOR ESCREVE COMO SE ESTIVESSE CANTANDO...

Jabor canta o que escreve. Mago sarcástico das infindáveis jornadas orgiásticas das palavras, Jabor sabe que o cordel e o improviso são protagonistas do palco de suas estripulias associativas cobertas de uma história carregada de arte e de um espírito etílico, noturno. Não é de graça que seu nome, Jabor, seja consonante com a palavra sabor: o homem da língua onisciente, sábia. Sua onisciência associativa, delirante, pode até nos fazer terror. Jabor é terrível ou, como diria Eiseinstein,
Jabor é pior, é mais, é "torrível" (horrível + terrível). O homem que sabe se fazer "torrível", conjugando insana e harmoniosamente universos tão distantes. Jabor é um conciliador. Jabor é antiacadêmico. Por mais que queira parir lógicas retilíneas e categóricas, o samba sem enredo do carnaval eterno dessa sua fatalidade estilística, fermentada por muitos carnavais, não se esquece do caos que lhe pariu. Não há porque mandar Jabor para o caos que lhe pariu. Esse poeta já toma e bebe no caos há muitas vidas. Jabor atravessa vidas que não viveu, sabe falar do que não viveu e do que não viu. É um Tirésias perdido no coração das engrenagens da mídia brasileira. Sabe como esse mundo, a mass media, funciona. Ofereceu-se como um kamikase para mergulhar no epicentro dos ocasos políticos e culturais desse final de século, para confirmar a carótida podre ou, sei lá, por um acaso, encontrar a "utopia possível" - oxímoro oxiúrico do cú do Tudo, onde Jabor sabe que se encontra a impossível chave pra sempre perdida que faz o devir. Repito, Jabor brinca no olho do furacão da mídia brasileira: "Já que a morte tarda, mas não falha... que seja no centro do furacão, vendo o olho de Deus. Já que nosso destino humano é irremediavelmente um certo martírio. Já que somos todos meio que invariavelmente prendas de um sacrifício arquitetado por um indecifrável elemento X (jaborianamente dizendo: o "DNA"? o "mercado"? quem?). Já que um fim é certo, então, que seja no cú do Tudo..." Assim cantava nosso filósofo falante em seus reversos filosofantes. Isso, reversos filosofantes, pois Jabor não somente lê as coisas, ele sabe e adora ler e desler, reverter, perverter, verter baldes de agonia na cabeça dos patrulheiros da burrice nacional, do escroto e impiedoso mundo das tirânicas lógicas áridas e retilíneas forjadas pelos "chapas negras" da razão e do conhecimento. Do fundo do seu ateísmo da "turma do Marx mal lido", Jabor conversa com Deus quando escreve, ou melhor, quando canta... Jabor, você consegue fazer do sim-bólico algo dia-bólica e dionisíacamente penetrante. O problema, como diria Freud, é que esse negócio de penetrante, quanto maior o falo maior a chance da história continuar lhe parindo, passando seu nome (o "DNA"?) pra frente. No entanto, também quanto maior o falo, você sabe, maior a dor da sua letra, da sua investida. Jabor, esse seu gozo literário já é um borrão na cara da mídia brasileira. Para terminar...O mais fascinante é que a Globo, a qual você chifra tão bem, nem se apercebe das suas traições e deixa lânguida e apaixonadamente se sodomizar pelas dionisíacas sacanagens ideológicas que você apronta.

1 comment:

Anonymous said...

Ah, pelamorded-s, Nhô Adriano, esta aqui ainda não tinha lido. Defender o Jabor? Puta-que-pariu! Esta crônica eu passo. Desta não dá pra gostar. Prefiro comer cocô a curtir o Arnaldo Jabô (viu a rima?)!

Vou fingir que não ví,
he he he,
um grande abraço,

Ioda