Andar por Brasília é perder-se no deserto e alucinar. Há uma distância dentro de cada um, a distância de si mesmo ou a proximidade frágil do amor-próprio impróprio para a vida selvagem que pulsa nas profundezas do planalto central. Mas que deserto é este, de vidro, pedra e luz? Metereologicamente, o clima é tropical seco e longe de desértico. O que faz desta terra um deserto está no simbolismo que a cidade esconde. Ruas e paisagens desertas são lugar comum.
A própria vegetação do cerrado não oferece muito refúgio ou abrigo. Tudo parece estar sempre aberto, o relevo de horizontes infinitos e os ventos que passam arrastando o que encontram. Ao andar o que observamos são vazios. E sentimos o vazio dentro de nós mesmos, como se tudo sempre se evaporasse. Toda a atmosfera, física ou psíquica, parece sempre responder aos ciclos vorazes da evaporação, onde tudo se esvai, inclusive o tempo.
Como o tempo passa rápido em Brasília! Parece caminhar junto com os ventos. Algumas pessoas não sentem esses ventos. Claro, eles somente passam por aqui, não ficam para contar estória nenhuma. E o tempo aqui não voa, ele esvoaça, se esfarela. Como se pudesse carregar toda a lembrança que persiste quieta por debaixo da poeira e da luz. Milhões de insetos neste momento estão silenciosamente preparando-se para tomar conta da cidade, pois a vida pulsa nos subterrâneos de Brasília. Tudo se movimento escondido tecendo a vida encoberta de pedra, terra, vidro e luz.
Aqui é uma terra de miragens onde o que existe some, se esvai, e o que não existe aparece, brota e surpreende. Terras de ondas e energias despertadas pelos incansáveis reflexos deste mundo de luz, que vai do céu para a terra e da terra para o céu. Aqui se trava uma guerra de luzes, de quente e frio. A amplitude térmica durante o dia é grande, como se aqui tivéssemos um simulacro de deserto, como se tudo por aqui brincasse de ser deserto, sem a fatalidade e irrevogabilidade deste último.
Andar e poder observar tudo, mas sem nada poder tocar. Tudo ao alcance dos olhos e nada das mãos. Natural que se sonhe acordado. Estar em Brasília é continuar vendo-a pela televisão, tudo aos olhos e nada às mãos. E a paisagem, sua arquitetura, não se cansa de repetir. Tudo com cara de mesmo, sendo diferente somente para quem vive aqui. Este cenário virtual lembra as rotinas de video-game, bonecos e paisagens que se repetem. Brasília parece ter sido feita com tal programação para compensar a voracidade da natureza pungente de seu cerrado, esta savana brasileira. Como se chegássemos no meio da savana com todas as suas feras e tivéssemos que erguer monumentos para nos proteger, essa arquitetura fria de pedra e vidro cheia de vazios por dentro.
E para alguns, esses vazios cheiram a morte. Mas estar em Brasília é isto, ruminar vazios e ausências. De modo geral as pessoas reagem ao vazio fechando-se em suas tribos. As pessoas se aglomeram e se isolam para não evaporarem, para que sua sanidade não se volatilize neste oceano de coisa alguma e na solidão dos monumentos.
Andar por Brasília é rumar em direção ao distante. Horizonte-redondo-perdido-redor é o que podemos aqui sentir. O horizonte é redondo, todos os lados estão presentes e equidistantes: estamos sempre no centro, há uma reprodução do espaço essencial, o espaço cósmico, o qual é sempre circular. Brasília é cósmica, sob vários aspectos. Os mais evidentes são compostos pela tríade fundamental luz-espaço-tempo. Luz que carrega o tempo, o qual povoa o espaço e habita os homens. Luz e mais luz, que faz ver mais ainda. E quanto mais se vê menos se tem. Tudo ver e nada ter, nada poder. Aqui tudo é pura visão. Somos todos visionários, pois somos todos cheios de luz. Natural imaginar que por aqui proliferam “profetas” e “visionários”.
A alucinação ocorre sempre que não podemos estabelecer o concreto e ficamos à mercê de movimentos que não são nossos ou de uma imobilidade incontornável. Andar, andar e ver que nada se move, nada muda, eis uma receita para a-luz-cinar, devolver a luz e a imobilidade que nos penetra. Aqui secretamos luz, podemos reverberar no vazio cósmico ou aceitar o silêncio dos espaços siderais que fazem revoluções por dentro de nossos corpos.
A própria vegetação do cerrado não oferece muito refúgio ou abrigo. Tudo parece estar sempre aberto, o relevo de horizontes infinitos e os ventos que passam arrastando o que encontram. Ao andar o que observamos são vazios. E sentimos o vazio dentro de nós mesmos, como se tudo sempre se evaporasse. Toda a atmosfera, física ou psíquica, parece sempre responder aos ciclos vorazes da evaporação, onde tudo se esvai, inclusive o tempo.
Como o tempo passa rápido em Brasília! Parece caminhar junto com os ventos. Algumas pessoas não sentem esses ventos. Claro, eles somente passam por aqui, não ficam para contar estória nenhuma. E o tempo aqui não voa, ele esvoaça, se esfarela. Como se pudesse carregar toda a lembrança que persiste quieta por debaixo da poeira e da luz. Milhões de insetos neste momento estão silenciosamente preparando-se para tomar conta da cidade, pois a vida pulsa nos subterrâneos de Brasília. Tudo se movimento escondido tecendo a vida encoberta de pedra, terra, vidro e luz.
Aqui é uma terra de miragens onde o que existe some, se esvai, e o que não existe aparece, brota e surpreende. Terras de ondas e energias despertadas pelos incansáveis reflexos deste mundo de luz, que vai do céu para a terra e da terra para o céu. Aqui se trava uma guerra de luzes, de quente e frio. A amplitude térmica durante o dia é grande, como se aqui tivéssemos um simulacro de deserto, como se tudo por aqui brincasse de ser deserto, sem a fatalidade e irrevogabilidade deste último.
Andar e poder observar tudo, mas sem nada poder tocar. Tudo ao alcance dos olhos e nada das mãos. Natural que se sonhe acordado. Estar em Brasília é continuar vendo-a pela televisão, tudo aos olhos e nada às mãos. E a paisagem, sua arquitetura, não se cansa de repetir. Tudo com cara de mesmo, sendo diferente somente para quem vive aqui. Este cenário virtual lembra as rotinas de video-game, bonecos e paisagens que se repetem. Brasília parece ter sido feita com tal programação para compensar a voracidade da natureza pungente de seu cerrado, esta savana brasileira. Como se chegássemos no meio da savana com todas as suas feras e tivéssemos que erguer monumentos para nos proteger, essa arquitetura fria de pedra e vidro cheia de vazios por dentro.
E para alguns, esses vazios cheiram a morte. Mas estar em Brasília é isto, ruminar vazios e ausências. De modo geral as pessoas reagem ao vazio fechando-se em suas tribos. As pessoas se aglomeram e se isolam para não evaporarem, para que sua sanidade não se volatilize neste oceano de coisa alguma e na solidão dos monumentos.
Andar por Brasília é rumar em direção ao distante. Horizonte-redondo-perdido-redor é o que podemos aqui sentir. O horizonte é redondo, todos os lados estão presentes e equidistantes: estamos sempre no centro, há uma reprodução do espaço essencial, o espaço cósmico, o qual é sempre circular. Brasília é cósmica, sob vários aspectos. Os mais evidentes são compostos pela tríade fundamental luz-espaço-tempo. Luz que carrega o tempo, o qual povoa o espaço e habita os homens. Luz e mais luz, que faz ver mais ainda. E quanto mais se vê menos se tem. Tudo ver e nada ter, nada poder. Aqui tudo é pura visão. Somos todos visionários, pois somos todos cheios de luz. Natural imaginar que por aqui proliferam “profetas” e “visionários”.
A alucinação ocorre sempre que não podemos estabelecer o concreto e ficamos à mercê de movimentos que não são nossos ou de uma imobilidade incontornável. Andar, andar e ver que nada se move, nada muda, eis uma receita para a-luz-cinar, devolver a luz e a imobilidade que nos penetra. Aqui secretamos luz, podemos reverberar no vazio cósmico ou aceitar o silêncio dos espaços siderais que fazem revoluções por dentro de nossos corpos.
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