Bauru, 08de maio de 1998
E ai cao selvagem! como vai tudo? Cheio de dividas para pagar? Essa
palavra nunca existiu em nosso vocabulario ne? E dinheiro entao, oque e
isso meu Deus do ceu? oque isssssso???? Edu, me responde Edu( o Edu ta
aqui do meu lado de novo, e ta peladao o filho duma puta) oque e o
maldito do dinheiro? Ecoisa de Deus? Deus e podre de rico Du? Assim que
chegar em casa a primeira coisa a fazer é abrir o Aurelio na letra "D",
ah! ODuzao disse pra deixar pra la , depois ele pergunta pessoalmente
pro Aurelio e depois me conta. Pois e Preto Cagao , sempre vivemos bem
com tao pouco, que nem entendemos direito oque e isso, de uma coisa eu
sei, que e feito de papel e que depois de pegá, tem de lavar as maos.
Fisiologicamente falando, aparte que mais me empolga no dinheiro, e
aquela tripinha preta, que o atravessa na transversal, aquilo sim, posso
dizer com toda certeza e sem sombra de duvidas que e a alma do dinheiro.
Um dos maiores prazeres que o dinheiro me traz desde que fiz esta
descoberta,e o poder que tenho de desalma-lo,puxar com amao em pinça ,
com toda delicadeza, olhar fixo de compenetracao, se babar eu nao ligo,
e finalmente la esta ela, tripinha nas minhas maos, dinheiro desalmado,
nao vai mais pro ceu, Dona Felicia, mae do pobre e gordo Sidney ja
dizia: "IIIHH!! Dinheiro sem esse fiozinho aí pode joga fora que ja nao
vale mais! Sabia mulher do sorriso estragado mas verdadeiro; pobre Dr.
Sidney,sua mae lhe dedicou sempre tanto carinho e
preocupacao(preocupava-se ate com sua higiene pessoal, vale ressaltar) e
hoje o balcao de doces felicianos ja nao o fascina como antes, so o crak
faz os olhinhos do minino brilhar. Bom, perguntinha pra voce, qual o
animal que aparece na nota de cinco reais?
CRÍTICA DO SENSO COMUM E PROSA - Quem quiser adquirir o livro, acesse o link do canto superior direito
Tuesday, November 23, 2004
CARTAS IMPAGÁVEIS DE CAKO 2
E ai Luz Vermelha como vai a vida bandida!
o eu aqui catando milho nesse tecclado, recebi o seu email e ele ja tava
ate meio embolorado. " Eu amo Jukie!" , deve ta se perguntando que porra
e essa e eu lhe digo que como bom PEPISIcologo nao e absolutamente nada.
Esse negocio de nao se preocupar com acentuacao e muito bom mas deixa a
gente muito relaxado. E o intestino e banda show , como que anda, durao,
ou pedindo uma banana maca e claro, em cada esquina do dia, se voce
comecar a cagar duro definitivamente um dia voce nao sera mais o mesmo,
se tornara outra pessoa, acho que ate a sua pele mudara de tonalidade, o
timbre da voz ficara mais grave, deixara de andar curvado e a mae nunca
mais falaria: "Estica esse corpo menino!", esqueceria ate das cores e
dos desenhos dos azuleijos do banheiro,ah! teria ate que mudar o
sobrenome, de acordo com a numerologia para Faciulu e ai viria o bordao
as avessas: "Adriano Machado Faciulu, peida mole e caga demasiado duro",
de acordo com a numerologia ,pessoas com esse sobrenome cagam com
facilidade e demasiadamente mole, bom, eu nao acredito em numerologia,
sou um sagitariano com ascendencia em virgem na casa 4, minha cor
predileta e o azul turquesa, pedra e o topazio, signo extremamente
ligado ao elemento terra e uma de minhas maiores caracteristicas e nao
acreditar em nada, DEUS e testemunha disso,nem na morte, e a prova disso
e que o Dr. Ponte Preta esta sentado aqui do meu Lado, com um buticao na
mao esquerda, rindo de tudo e de todos a me ditar insanidades pro meu
irmao numero 2, calango que foi tentar a vida no cu, no centro do pais.
Carinha como ce ta longe hein! mais nesse momento nem tanto,e o Du hein
cara? sera que da pra mandar um email desse pra ele la onde ele ta? Onde
que ele ta? Ah!Ta aqui do meu lado rindo gostoso: "E cakao ce e foda!"-
boto a mao no meu ombro e deu um apertao , so que dessa vez bem mais
forte e vigoroso do que das outras vezes, e eu nem fiquei com raiva
agora, senti e firmesa, os seus olhos me dizem que ele ta muito bem,eu
acho que nunca tinha visto ele tao bem assim. E Drizao o irmao 3 vai
ficando poraqui, mantenha contato irmao 2, o Cakao ti ama igualzinho o
Pai, a Mae e o numero 1.
o eu aqui catando milho nesse tecclado, recebi o seu email e ele ja tava
ate meio embolorado. " Eu amo Jukie!" , deve ta se perguntando que porra
e essa e eu lhe digo que como bom PEPISIcologo nao e absolutamente nada.
Esse negocio de nao se preocupar com acentuacao e muito bom mas deixa a
gente muito relaxado. E o intestino e banda show , como que anda, durao,
ou pedindo uma banana maca e claro, em cada esquina do dia, se voce
comecar a cagar duro definitivamente um dia voce nao sera mais o mesmo,
se tornara outra pessoa, acho que ate a sua pele mudara de tonalidade, o
timbre da voz ficara mais grave, deixara de andar curvado e a mae nunca
mais falaria: "Estica esse corpo menino!", esqueceria ate das cores e
dos desenhos dos azuleijos do banheiro,ah! teria ate que mudar o
sobrenome, de acordo com a numerologia para Faciulu e ai viria o bordao
as avessas: "Adriano Machado Faciulu, peida mole e caga demasiado duro",
de acordo com a numerologia ,pessoas com esse sobrenome cagam com
facilidade e demasiadamente mole, bom, eu nao acredito em numerologia,
sou um sagitariano com ascendencia em virgem na casa 4, minha cor
predileta e o azul turquesa, pedra e o topazio, signo extremamente
ligado ao elemento terra e uma de minhas maiores caracteristicas e nao
acreditar em nada, DEUS e testemunha disso,nem na morte, e a prova disso
e que o Dr. Ponte Preta esta sentado aqui do meu Lado, com um buticao na
mao esquerda, rindo de tudo e de todos a me ditar insanidades pro meu
irmao numero 2, calango que foi tentar a vida no cu, no centro do pais.
Carinha como ce ta longe hein! mais nesse momento nem tanto,e o Du hein
cara? sera que da pra mandar um email desse pra ele la onde ele ta? Onde
que ele ta? Ah!Ta aqui do meu lado rindo gostoso: "E cakao ce e foda!"-
boto a mao no meu ombro e deu um apertao , so que dessa vez bem mais
forte e vigoroso do que das outras vezes, e eu nem fiquei com raiva
agora, senti e firmesa, os seus olhos me dizem que ele ta muito bem,eu
acho que nunca tinha visto ele tao bem assim. E Drizao o irmao 3 vai
ficando poraqui, mantenha contato irmao 2, o Cakao ti ama igualzinho o
Pai, a Mae e o numero 1.
Tuesday, November 09, 2004
ABOUT CHAVEQUISM (INTRODUÇÃO)
A Chavecal Sciencie ou Chavecologia (tradução do original em português) emerge nesse final de século, caracterizando a era da ciências cosmopolitas. Mas, seu histórico e suas bases filosóficas já vem à longa data contribuindo para a sua formação.
Existe uma série de estudos antropo-paleontológicos que buscam precisar mais pontualmente onde estaria o elo que desvenda a cadeia filogenética do chaveco - objeto primário de estudo da Chavecal Science. Através de estudos da Universidade do Lesoto, pesquisadores bosquímanos estão chegando à conclusão de que o chaveco (chave (latim) = chave, co (grego) = conquista, significando, então, chave para a conquista) é algo muito frequente também entre animais. Sendo muito caracterizado por comportamentos de aproximação (cheirar ânus) e exibição (brigar, defecar em frente à fêmea, comer esterco, etc ). Através de todos esses estudos, vamos evolutivamente chegando ao ser humano.
O troglodita, no seu ato de agredir a fêmea com porretadas na cabeça ou de manipular o pênis em frente ao fogo na hora do jantar, se utilizava desses comportamentos como eficientes chavecos. Mas, o ser humano foi evoluindo e hoje esse fenômeno já é estudado com grande profundidade em todas as suas dimensões.
Platão já o estudava, caracterizando-o como algo inato. Sócrates, antes de ir para a seleção, dedicou grande parte de sua obra a esse tema, mas como na época ainda não existia imprensa, a publicação não ocorreu, havendo somente relatos de que, mesmos assim, saiu em manuscrito pela gazeta de Atenas, mais especificamente no Caderno de Esportes. Esses e outros pensadores antigos marcam o início do movimento chavequista.
O Chavequismo (movimento filosófico) vai estender-se e dar origem à Chavecologia ou Chavecal Science, como é conhecida no ramo científico internacional. Podemos considerá-la como uma ciência que tem se popularizado bastante, caracterizando a Era Cosmopolita, acima de tudo, como uma era chavecologizante.
OS TIPOS CHAVECOLÓGICOS
* Os Chavequeiros - são os tipinhos que se utilizam dos chavecos mais primitivos, diretos e grosseiros. Geralmente possuem as mãos calejadas, falam alto, são devotos de São Punheto e, quando crianças curtiam "troca-troca" ou campeonato de "esporradinha" (ejaculação à distância). Há milênios atrás fariam mais sucesso, concorrendo com os trogloditas.
* Os Chavequistas - esses são os pensadores que começaram a refletir à respeito do chaveco. Na sua maior parte são apenas teóricos, mas têm-se exceções como o próprio Sócrates, que apesar de ser médico e técnico em prótese dentária, nunca deixou de tomar suas pinguinhas e cair na farra, aplicando todos os seus constructos teóricos. O Biro-Biro, com aquela cabelereira loura (aliás, ele anda meio ofendido com aquela música, Loura- Burrra) também atraía muitas mulheres para a área, não deixando assim de fazer os seus golzinhos, apesar de ser volante. Como já foi mencionado, na sua parte são apenas teóricos. Geralmente são pessoas tímidas, que já refletiram muito à respeito do chaveco, até mesmo em cartas de amor que elaboravam para seus amigos conquistarem a mulher do outro.
* Os Chavecologistas - são os mais interessados nos estudos anatômicos e histológicos. Esses, sem dúvida, brincaram muito de médico quando criança. Os que tiveram um desenvolvimento menos estruturado, brincam até hoje, se auto-denominando de médicos ginecologistas. Os que tiveram um desenvolvimento de personalidade mais estruturado tornaram-se grandes pesquisadores, podendo dar início à regulamentação da profissão de Chavecologista, não só no Brasil, mas à nível internacional. Esses pesquisadores utilizam-se de muitos paradigmas, até mesmo da Física. Mas enquanto os físicos ainda buscam encontrar o Buraco Negro, os Chavecologistas já encontraram-no, e estão na busca de algo ainda mais profundo: o Ponto G. Então, vê-se que o físico, assim como o ginecologista, também pode ser um chavecologista recalcado, e que a questão chavecológica desafia as leis da Física, caracterizando-se, portanto, como uma questão META-física.
* Os chavecólogos - esses fizeram a graduação em Chavecologia, a qual oferece diversas áreas de especialização e residência. Essa é a área mais abrangente que concentra o maior número de profissionais e atividades. O Chavecólogo se caracteriza como aquela pessoa que sempre se interessou pelo fenômeno, tanto no seu aspecto teórico como na prática aplicada ou clínica (terapêutica). Esses, desde pequenos, já faziam perguntas indecorosas. Sempre se caracterizaram pela curiosidade e senso de observação, tanto que o bom Chavecólogo tem os olhos grandes e esbugalhados.
Esses são os tipos mais comuns, e somente foram introduzidos. Nos próximos capítulos, todos os assuntos aqui abordados e outros serão aprofundados.
FRANK JAWA, Sri-Lanka, 1991; copyright 1991.
O troglodita, no seu ato de agredir a fêmea com porretadas na cabeça ou de manipular o pênis em frente ao fogo na hora do jantar, se utilizava desses comportamentos como eficientes chavecos. Mas, o ser humano foi evoluindo e hoje esse fenômeno já é estudado com grande profundidade em todas as suas dimensões.
Platão já o estudava, caracterizando-o como algo inato. Sócrates, antes de ir para a seleção, dedicou grande parte de sua obra a esse tema, mas como na época ainda não existia imprensa, a publicação não ocorreu, havendo somente relatos de que, mesmos assim, saiu em manuscrito pela gazeta de Atenas, mais especificamente no Caderno de Esportes. Esses e outros pensadores antigos marcam o início do movimento chavequista.
O Chavequismo (movimento filosófico) vai estender-se e dar origem à Chavecologia ou Chavecal Science, como é conhecida no ramo científico internacional. Podemos considerá-la como uma ciência que tem se popularizado bastante, caracterizando a Era Cosmopolita, acima de tudo, como uma era chavecologizante.
OS TIPOS CHAVECOLÓGICOS
* Os Chavequeiros - são os tipinhos que se utilizam dos chavecos mais primitivos, diretos e grosseiros. Geralmente possuem as mãos calejadas, falam alto, são devotos de São Punheto e, quando crianças curtiam "troca-troca" ou campeonato de "esporradinha" (ejaculação à distância). Há milênios atrás fariam mais sucesso, concorrendo com os trogloditas.
* Os Chavequistas - esses são os pensadores que começaram a refletir à respeito do chaveco. Na sua maior parte são apenas teóricos, mas têm-se exceções como o próprio Sócrates, que apesar de ser médico e técnico em prótese dentária, nunca deixou de tomar suas pinguinhas e cair na farra, aplicando todos os seus constructos teóricos. O Biro-Biro, com aquela cabelereira loura (aliás, ele anda meio ofendido com aquela música, Loura- Burrra) também atraía muitas mulheres para a área, não deixando assim de fazer os seus golzinhos, apesar de ser volante. Como já foi mencionado, na sua parte são apenas teóricos. Geralmente são pessoas tímidas, que já refletiram muito à respeito do chaveco, até mesmo em cartas de amor que elaboravam para seus amigos conquistarem a mulher do outro.
* Os Chavecologistas - são os mais interessados nos estudos anatômicos e histológicos. Esses, sem dúvida, brincaram muito de médico quando criança. Os que tiveram um desenvolvimento menos estruturado, brincam até hoje, se auto-denominando de médicos ginecologistas. Os que tiveram um desenvolvimento de personalidade mais estruturado tornaram-se grandes pesquisadores, podendo dar início à regulamentação da profissão de Chavecologista, não só no Brasil, mas à nível internacional. Esses pesquisadores utilizam-se de muitos paradigmas, até mesmo da Física. Mas enquanto os físicos ainda buscam encontrar o Buraco Negro, os Chavecologistas já encontraram-no, e estão na busca de algo ainda mais profundo: o Ponto G. Então, vê-se que o físico, assim como o ginecologista, também pode ser um chavecologista recalcado, e que a questão chavecológica desafia as leis da Física, caracterizando-se, portanto, como uma questão META-física.
* Os chavecólogos - esses fizeram a graduação em Chavecologia, a qual oferece diversas áreas de especialização e residência. Essa é a área mais abrangente que concentra o maior número de profissionais e atividades. O Chavecólogo se caracteriza como aquela pessoa que sempre se interessou pelo fenômeno, tanto no seu aspecto teórico como na prática aplicada ou clínica (terapêutica). Esses, desde pequenos, já faziam perguntas indecorosas. Sempre se caracterizaram pela curiosidade e senso de observação, tanto que o bom Chavecólogo tem os olhos grandes e esbugalhados.
Esses são os tipos mais comuns, e somente foram introduzidos. Nos próximos capítulos, todos os assuntos aqui abordados e outros serão aprofundados.
FRANK JAWA, Sri-Lanka, 1991; copyright 1991.
MINUTOS DE ALFORRIA
Jarbas Pastorzinho
O primeiro mandamento erótico de nosso livro sagrado pode vir de um provérbio milenar, nascido de parto normal em terras muitas distantes, sem qualquer comunicação com a civilização. Dizem que fora criado por um velho sábio que era cego e pilotava caças supersônicos para a marinha norte-americana nas suas horas de folga. Um dia olhou para o horizonte e disse: "longe é um lugar que não existe...", acelerando o motor de seu F-15. Até os macacos escondidos nas palmeiras à beira da praia captaram os sentimentos expressos nas palavras daquele ancião, que aliás estava muito enxuto para a idade dele.
Edward Black Bridge nos dá seu comovente depoimento, e como a partir desse provérbio encontrou forças para iniciar a sua batalha (sem o uso de armas químicas) contra a calvíce e a aversão à quadrúpedes que carrega no lombo desde pequeno:
E. B. Bridge
"Longe é um lugar que não existe."
Não encontrei no atlas geográfico escolar. A professora me chamou de burro. Joguei o atlas no lixo. O mundo muda muito rápido, precisava de um atlas mais atualizado. A culpa não era minha, eu não era burro, eu era "Homo sapiens", tenho certeza. E todos, no fundo, sabiam disso.
"Não deixe para amanhã, o que se pode fazer hoje."
Segui inteligentemente esse conselho. No mesmo dia, quase fechando o expediente, fui à livraria e comprei um atlas mais novo, na caixa. Após 5 horas de intensa pesquisa, não consegui encontrar novamente. Corri para o banheiro com a foto de um jegue na mão, aquela da revista Olho Rural. Olho no espelho, olho na foto e a conclusão genial: preciso mudar de faculdade, essa professora é louca.
"Procure sempre ver o lado bom das coisas."
Não achei esse país chamado longe; às vezes até penso que era uma cidade ou estado, quem sabe? Aqueles pegas de professora perversa, não é? O lado bom disso tudo é que eu decorei o nome de todos os países em ordem alfabética e suas respectivas capitais. A lista telefônica é o meu próximo desafio. Eeeba...!
"Seja sempre você mesmo."
Diziam que eu era burro. E eu era sempre eu mesmo, os espelhos podem provar.
"Não viva em função da expectativa dos outros."
Queriam ver-me como um burro, ou que me comportasse como tal. Eu não andei de quatro nem uma só vez, nem precisei fingir que estava pastando no gramado em frente à faculdade. O duro mesmo era aguentar a inveja de algumas pessoas. Sinto que com esse método a minha capacidade estava aumentando. Algumas pessoas ficavam realmente muito incomodadas com isso.
"Na casa do ferreiro o espeto é de pau."
Não concordo. Apesar da calvíce, eu sou uma pessoa crítica, que questiona. Meu pai tinha um espeto para churrasco vegetariano de madeira, e no entanto ele não era ferreiro.
O primeiro mandamento erótico de nosso livro sagrado pode vir de um provérbio milenar, nascido de parto normal em terras muitas distantes, sem qualquer comunicação com a civilização. Dizem que fora criado por um velho sábio que era cego e pilotava caças supersônicos para a marinha norte-americana nas suas horas de folga. Um dia olhou para o horizonte e disse: "longe é um lugar que não existe...", acelerando o motor de seu F-15. Até os macacos escondidos nas palmeiras à beira da praia captaram os sentimentos expressos nas palavras daquele ancião, que aliás estava muito enxuto para a idade dele.
Edward Black Bridge nos dá seu comovente depoimento, e como a partir desse provérbio encontrou forças para iniciar a sua batalha (sem o uso de armas químicas) contra a calvíce e a aversão à quadrúpedes que carrega no lombo desde pequeno:
E. B. Bridge
"Longe é um lugar que não existe."
Não encontrei no atlas geográfico escolar. A professora me chamou de burro. Joguei o atlas no lixo. O mundo muda muito rápido, precisava de um atlas mais atualizado. A culpa não era minha, eu não era burro, eu era "Homo sapiens", tenho certeza. E todos, no fundo, sabiam disso.
"Não deixe para amanhã, o que se pode fazer hoje."
Segui inteligentemente esse conselho. No mesmo dia, quase fechando o expediente, fui à livraria e comprei um atlas mais novo, na caixa. Após 5 horas de intensa pesquisa, não consegui encontrar novamente. Corri para o banheiro com a foto de um jegue na mão, aquela da revista Olho Rural. Olho no espelho, olho na foto e a conclusão genial: preciso mudar de faculdade, essa professora é louca.
"Procure sempre ver o lado bom das coisas."
Não achei esse país chamado longe; às vezes até penso que era uma cidade ou estado, quem sabe? Aqueles pegas de professora perversa, não é? O lado bom disso tudo é que eu decorei o nome de todos os países em ordem alfabética e suas respectivas capitais. A lista telefônica é o meu próximo desafio. Eeeba...!
"Seja sempre você mesmo."
Diziam que eu era burro. E eu era sempre eu mesmo, os espelhos podem provar.
"Não viva em função da expectativa dos outros."
Queriam ver-me como um burro, ou que me comportasse como tal. Eu não andei de quatro nem uma só vez, nem precisei fingir que estava pastando no gramado em frente à faculdade. O duro mesmo era aguentar a inveja de algumas pessoas. Sinto que com esse método a minha capacidade estava aumentando. Algumas pessoas ficavam realmente muito incomodadas com isso.
"Na casa do ferreiro o espeto é de pau."
Não concordo. Apesar da calvíce, eu sou uma pessoa crítica, que questiona. Meu pai tinha um espeto para churrasco vegetariano de madeira, e no entanto ele não era ferreiro.
Monday, November 08, 2004
BRASIL-IA
Brasilia e essa ilha (bras-ilha) com o nome de um
quase-continente que navega no futuro do preterito (brasil-ia).
E o brasil do futuro de um passado. E futuro de um passado e somente uma
promessa, algo que nunca se realiza, que quase ocorreu. A morte dos
planos, a morte do futuro, o futuro como mentira, o futuro passado, na
lembranca do sonho, do sonho enterrado. O melhor tempo verbal para
expressar o que se projeta mas nao acontece.
O que o simples nome de uma cidade pode fazer a gente pensar...
quase-continente que navega no futuro do preterito (brasil-ia).
E o brasil do futuro de um passado. E futuro de um passado e somente uma
promessa, algo que nunca se realiza, que quase ocorreu. A morte dos
planos, a morte do futuro, o futuro como mentira, o futuro passado, na
lembranca do sonho, do sonho enterrado. O melhor tempo verbal para
expressar o que se projeta mas nao acontece.
O que o simples nome de uma cidade pode fazer a gente pensar...
GARGALO COMPADRE II
-Queria lhe contar das minhas vitórias.
-Quais?
-Nenhuma.
-Desde o último conto que a gente não se encontra.
-Conto? O que você quer dizer com conto?
-Não sei. Essa palavra (conto) surgiu intrusa no meio da minha frase, não sei de onde. Às vezes sinto que somos somente personagens de histórias cercadas de mistério e ignorância. Escuridão e noites embriagadas pra onde quer que se dirija o olhar. Tudo se distorcendo numa eterna questão faminta por resposta.
-Intrusos?
-É. Mas isso só ocorre depois de uma certa hora da noite. É bom. Começamos a dormir acordado e dizer do vôo das corujas, o olhar dos felinos nos absorvendo. Os sonhos não suportam esperar, vão entrando nas conversas, se semeando na mesmice. E a gente pensando que é a pinga.
-Que pinga?
-Não sei. A noite embriaga, não é ?
-Isso é um sono que você pode muito bem fazer-se acreditar que cavalga uma sabedoria inerente a qualquer ser que se recuse a acreditar no começo ou fim do dia. Essa pessoa se alojaria num intervalo do tempo onde jazem suas convicções.
-É, nasce uma... uma... uma...
E João começa a soluçar indefinidamente.
-Nasce uma forma de expressão visceral. É isso - completa Mané. Somente traduzida meio que telepaticamente pela outra pessoa que ouve, sintonizada. Palavras diferentes, de dois seres diferentes se magnetizando, soltando faíscas sobre qualquer razão mais estreita, alienada das possibilidades escondidas nos escuros da noite.
Mané termina o pensamento e João não está mais ali. Coisa de segundos, o homem pulverizou-se.Ventou. Teria ele sumido naquele vento frio da madrugada? Não, voltava andando, bem em frente de Mané.
-Tú sumiste de repente, João. Assustei.
-Não se assuste, pois era somente mijaneira.
-Isso não chega a ser visceral.
-Nem sideral.
-Quais?
-Nenhuma.
-Desde o último conto que a gente não se encontra.
-Conto? O que você quer dizer com conto?
-Não sei. Essa palavra (conto) surgiu intrusa no meio da minha frase, não sei de onde. Às vezes sinto que somos somente personagens de histórias cercadas de mistério e ignorância. Escuridão e noites embriagadas pra onde quer que se dirija o olhar. Tudo se distorcendo numa eterna questão faminta por resposta.
-Intrusos?
-É. Mas isso só ocorre depois de uma certa hora da noite. É bom. Começamos a dormir acordado e dizer do vôo das corujas, o olhar dos felinos nos absorvendo. Os sonhos não suportam esperar, vão entrando nas conversas, se semeando na mesmice. E a gente pensando que é a pinga.
-Que pinga?
-Não sei. A noite embriaga, não é ?
-Isso é um sono que você pode muito bem fazer-se acreditar que cavalga uma sabedoria inerente a qualquer ser que se recuse a acreditar no começo ou fim do dia. Essa pessoa se alojaria num intervalo do tempo onde jazem suas convicções.
-É, nasce uma... uma... uma...
E João começa a soluçar indefinidamente.
-Nasce uma forma de expressão visceral. É isso - completa Mané. Somente traduzida meio que telepaticamente pela outra pessoa que ouve, sintonizada. Palavras diferentes, de dois seres diferentes se magnetizando, soltando faíscas sobre qualquer razão mais estreita, alienada das possibilidades escondidas nos escuros da noite.
Mané termina o pensamento e João não está mais ali. Coisa de segundos, o homem pulverizou-se.Ventou. Teria ele sumido naquele vento frio da madrugada? Não, voltava andando, bem em frente de Mané.
-Tú sumiste de repente, João. Assustei.
-Não se assuste, pois era somente mijaneira.
-Isso não chega a ser visceral.
-Nem sideral.
Sunday, November 07, 2004
Brasília é alucinógena
Andar por Brasília é perder-se no deserto e alucinar. Há uma distância dentro de cada um, a distância de si mesmo ou a proximidade frágil do amor-próprio impróprio para a vida selvagem que pulsa nas profundezas do planalto central. Mas que deserto é este, de vidro, pedra e luz? Metereologicamente, o clima é tropical seco e longe de desértico. O que faz desta terra um deserto está no simbolismo que a cidade esconde. Ruas e paisagens desertas são lugar comum.
A própria vegetação do cerrado não oferece muito refúgio ou abrigo. Tudo parece estar sempre aberto, o relevo de horizontes infinitos e os ventos que passam arrastando o que encontram. Ao andar o que observamos são vazios. E sentimos o vazio dentro de nós mesmos, como se tudo sempre se evaporasse. Toda a atmosfera, física ou psíquica, parece sempre responder aos ciclos vorazes da evaporação, onde tudo se esvai, inclusive o tempo.
Como o tempo passa rápido em Brasília! Parece caminhar junto com os ventos. Algumas pessoas não sentem esses ventos. Claro, eles somente passam por aqui, não ficam para contar estória nenhuma. E o tempo aqui não voa, ele esvoaça, se esfarela. Como se pudesse carregar toda a lembrança que persiste quieta por debaixo da poeira e da luz. Milhões de insetos neste momento estão silenciosamente preparando-se para tomar conta da cidade, pois a vida pulsa nos subterrâneos de Brasília. Tudo se movimento escondido tecendo a vida encoberta de pedra, terra, vidro e luz.
Aqui é uma terra de miragens onde o que existe some, se esvai, e o que não existe aparece, brota e surpreende. Terras de ondas e energias despertadas pelos incansáveis reflexos deste mundo de luz, que vai do céu para a terra e da terra para o céu. Aqui se trava uma guerra de luzes, de quente e frio. A amplitude térmica durante o dia é grande, como se aqui tivéssemos um simulacro de deserto, como se tudo por aqui brincasse de ser deserto, sem a fatalidade e irrevogabilidade deste último.
Andar e poder observar tudo, mas sem nada poder tocar. Tudo ao alcance dos olhos e nada das mãos. Natural que se sonhe acordado. Estar em Brasília é continuar vendo-a pela televisão, tudo aos olhos e nada às mãos. E a paisagem, sua arquitetura, não se cansa de repetir. Tudo com cara de mesmo, sendo diferente somente para quem vive aqui. Este cenário virtual lembra as rotinas de video-game, bonecos e paisagens que se repetem. Brasília parece ter sido feita com tal programação para compensar a voracidade da natureza pungente de seu cerrado, esta savana brasileira. Como se chegássemos no meio da savana com todas as suas feras e tivéssemos que erguer monumentos para nos proteger, essa arquitetura fria de pedra e vidro cheia de vazios por dentro.
E para alguns, esses vazios cheiram a morte. Mas estar em Brasília é isto, ruminar vazios e ausências. De modo geral as pessoas reagem ao vazio fechando-se em suas tribos. As pessoas se aglomeram e se isolam para não evaporarem, para que sua sanidade não se volatilize neste oceano de coisa alguma e na solidão dos monumentos.
Andar por Brasília é rumar em direção ao distante. Horizonte-redondo-perdido-redor é o que podemos aqui sentir. O horizonte é redondo, todos os lados estão presentes e equidistantes: estamos sempre no centro, há uma reprodução do espaço essencial, o espaço cósmico, o qual é sempre circular. Brasília é cósmica, sob vários aspectos. Os mais evidentes são compostos pela tríade fundamental luz-espaço-tempo. Luz que carrega o tempo, o qual povoa o espaço e habita os homens. Luz e mais luz, que faz ver mais ainda. E quanto mais se vê menos se tem. Tudo ver e nada ter, nada poder. Aqui tudo é pura visão. Somos todos visionários, pois somos todos cheios de luz. Natural imaginar que por aqui proliferam “profetas” e “visionários”.
A alucinação ocorre sempre que não podemos estabelecer o concreto e ficamos à mercê de movimentos que não são nossos ou de uma imobilidade incontornável. Andar, andar e ver que nada se move, nada muda, eis uma receita para a-luz-cinar, devolver a luz e a imobilidade que nos penetra. Aqui secretamos luz, podemos reverberar no vazio cósmico ou aceitar o silêncio dos espaços siderais que fazem revoluções por dentro de nossos corpos.
A própria vegetação do cerrado não oferece muito refúgio ou abrigo. Tudo parece estar sempre aberto, o relevo de horizontes infinitos e os ventos que passam arrastando o que encontram. Ao andar o que observamos são vazios. E sentimos o vazio dentro de nós mesmos, como se tudo sempre se evaporasse. Toda a atmosfera, física ou psíquica, parece sempre responder aos ciclos vorazes da evaporação, onde tudo se esvai, inclusive o tempo.
Como o tempo passa rápido em Brasília! Parece caminhar junto com os ventos. Algumas pessoas não sentem esses ventos. Claro, eles somente passam por aqui, não ficam para contar estória nenhuma. E o tempo aqui não voa, ele esvoaça, se esfarela. Como se pudesse carregar toda a lembrança que persiste quieta por debaixo da poeira e da luz. Milhões de insetos neste momento estão silenciosamente preparando-se para tomar conta da cidade, pois a vida pulsa nos subterrâneos de Brasília. Tudo se movimento escondido tecendo a vida encoberta de pedra, terra, vidro e luz.
Aqui é uma terra de miragens onde o que existe some, se esvai, e o que não existe aparece, brota e surpreende. Terras de ondas e energias despertadas pelos incansáveis reflexos deste mundo de luz, que vai do céu para a terra e da terra para o céu. Aqui se trava uma guerra de luzes, de quente e frio. A amplitude térmica durante o dia é grande, como se aqui tivéssemos um simulacro de deserto, como se tudo por aqui brincasse de ser deserto, sem a fatalidade e irrevogabilidade deste último.
Andar e poder observar tudo, mas sem nada poder tocar. Tudo ao alcance dos olhos e nada das mãos. Natural que se sonhe acordado. Estar em Brasília é continuar vendo-a pela televisão, tudo aos olhos e nada às mãos. E a paisagem, sua arquitetura, não se cansa de repetir. Tudo com cara de mesmo, sendo diferente somente para quem vive aqui. Este cenário virtual lembra as rotinas de video-game, bonecos e paisagens que se repetem. Brasília parece ter sido feita com tal programação para compensar a voracidade da natureza pungente de seu cerrado, esta savana brasileira. Como se chegássemos no meio da savana com todas as suas feras e tivéssemos que erguer monumentos para nos proteger, essa arquitetura fria de pedra e vidro cheia de vazios por dentro.
E para alguns, esses vazios cheiram a morte. Mas estar em Brasília é isto, ruminar vazios e ausências. De modo geral as pessoas reagem ao vazio fechando-se em suas tribos. As pessoas se aglomeram e se isolam para não evaporarem, para que sua sanidade não se volatilize neste oceano de coisa alguma e na solidão dos monumentos.
Andar por Brasília é rumar em direção ao distante. Horizonte-redondo-perdido-redor é o que podemos aqui sentir. O horizonte é redondo, todos os lados estão presentes e equidistantes: estamos sempre no centro, há uma reprodução do espaço essencial, o espaço cósmico, o qual é sempre circular. Brasília é cósmica, sob vários aspectos. Os mais evidentes são compostos pela tríade fundamental luz-espaço-tempo. Luz que carrega o tempo, o qual povoa o espaço e habita os homens. Luz e mais luz, que faz ver mais ainda. E quanto mais se vê menos se tem. Tudo ver e nada ter, nada poder. Aqui tudo é pura visão. Somos todos visionários, pois somos todos cheios de luz. Natural imaginar que por aqui proliferam “profetas” e “visionários”.
A alucinação ocorre sempre que não podemos estabelecer o concreto e ficamos à mercê de movimentos que não são nossos ou de uma imobilidade incontornável. Andar, andar e ver que nada se move, nada muda, eis uma receita para a-luz-cinar, devolver a luz e a imobilidade que nos penetra. Aqui secretamos luz, podemos reverberar no vazio cósmico ou aceitar o silêncio dos espaços siderais que fazem revoluções por dentro de nossos corpos.
DEVOLUÇÃO
Certa vez um amigo disse-me que eu havia evoluido bastante, em pouco tempo (apenas quatro meses). Não concordava, dizia que era muito pouco tempo para tanta evolução. Sentia-me ofendido, pois ele estava dizendo que antes eu era um completo imbecil. Precisei de uma revolução para me tornar um ser aceitável. Não, na verdade puro lisonjeio, massagem no ego. Que capacidade a minha, evoluir tanto em tão pouco tempo. Não é para qualquer um. Senhor Evolução...
Enfim, não concordo. Alguém pode até sentir duas coisas ao mesmo tempo, mas em um mesmo parágrafo jamais!
Então resolvi mandar um carta ao Sr. Involução:
"Caro amigo,
Não importa se evolui ou não. O importante, de fato, é que você me viu diferente."
É importante ressaltar que essa mensagem não possui conteúdo sexual. E nem é por isso que não foi assinada. Pois sem assinatura, é de ninguém. Sendo de ninguém, ele falou com o nada, escuro completo, homem penumbra. Aliás, belo nome para um super-herói. Aquele que vive nas moitas, sombra, o lado negro da lua, místico, fantasioso, sensual. O buraco negro que atrai tudo, a vulva perfeita. Maravilhoso, não? O homem penumbra... Só não quero imaginar os seus odores. Cruz-credo!
Bom. Voltando. Como dizia, certa vez o homem penumbra disse-me que eu havia involuido bastante. Que eu estava diferente. Diferente dele. A minha luz agora ofuscava-lhe a vista. Quem me dera ser tão iluminado... Mas não concordava, dizendo-lhe que eu não havia involuido. Sempre fora sombra, sujeito indefinido.
Resolvi mandar-lhe uma carta, pois os buracos negros sempre me fascinaram, desde os seis anos de idade, quando tomei banho com a minha tia mais boa. É essa mesmo, uma puta beata. Aquela Católica Genorosa na Cama.
"Querido amigo penumbra,
Não fique triste, o sol um dia se apagará e você poderá morrer em paz pro resto da vida. Só não conte com o ovo da galinha.
Se eu evolui ou involui, não tem importância. Se evolui, me transformei de buraco preto, quente e fedido em uma lâmpada fosforescente, fálica e fria. E involuindo, as coisas certamente não deixaram de ser tão pretas. Então, o que realmente não importa é o fato de você ter me visto diferente."
É importante ressaltar que essa carta não possui conteúdo racista. O homem penumbra, apesar da cor, não é preto...
Enfim, não concordo. Alguém pode até sentir duas coisas ao mesmo tempo, mas em um mesmo parágrafo jamais!
Então resolvi mandar um carta ao Sr. Involução:
"Caro amigo,
Não importa se evolui ou não. O importante, de fato, é que você me viu diferente."
É importante ressaltar que essa mensagem não possui conteúdo sexual. E nem é por isso que não foi assinada. Pois sem assinatura, é de ninguém. Sendo de ninguém, ele falou com o nada, escuro completo, homem penumbra. Aliás, belo nome para um super-herói. Aquele que vive nas moitas, sombra, o lado negro da lua, místico, fantasioso, sensual. O buraco negro que atrai tudo, a vulva perfeita. Maravilhoso, não? O homem penumbra... Só não quero imaginar os seus odores. Cruz-credo!
Bom. Voltando. Como dizia, certa vez o homem penumbra disse-me que eu havia involuido bastante. Que eu estava diferente. Diferente dele. A minha luz agora ofuscava-lhe a vista. Quem me dera ser tão iluminado... Mas não concordava, dizendo-lhe que eu não havia involuido. Sempre fora sombra, sujeito indefinido.
Resolvi mandar-lhe uma carta, pois os buracos negros sempre me fascinaram, desde os seis anos de idade, quando tomei banho com a minha tia mais boa. É essa mesmo, uma puta beata. Aquela Católica Genorosa na Cama.
"Querido amigo penumbra,
Não fique triste, o sol um dia se apagará e você poderá morrer em paz pro resto da vida. Só não conte com o ovo da galinha.
Se eu evolui ou involui, não tem importância. Se evolui, me transformei de buraco preto, quente e fedido em uma lâmpada fosforescente, fálica e fria. E involuindo, as coisas certamente não deixaram de ser tão pretas. Então, o que realmente não importa é o fato de você ter me visto diferente."
É importante ressaltar que essa carta não possui conteúdo racista. O homem penumbra, apesar da cor, não é preto...
Saturday, November 06, 2004
As miragens de Brasília
Acordo, na estrada. Pela janela vejo campos imensos, distâncias que ainda não sei como ver. Como pode a vista ir tão longe? E o céu, invadido pelo fogo da aurora, imenso pai iluminado arrastando nuvens, nos abraça a todos. “Estamos perto de Brasília”, diz o motorista. Espero, com o olhar perdido na multidão infinita de arvorezinhas retorcidas e o jeito de savana do cerrado. Estas árvores, esta terra, quanta terra... Brasília está no meio da terra? Do planeta? Ou do Brasil? Não sei, a geografia que aprendi na escola não foi capaz de transportar meus olhos para cá.
Por que construiram a capital desse imenso país no meio do mato, do sertão, no meio do nada? Para afastar o poder político dos grandes centros? Para povoar o Brasil, garantir a guarda de nossas fronteiras? Levar desenvolvimento para o interior? Levar desenvolvimento para o “interior” é se isolar no meio do mato, como queriam os românticos? Isso, fujo de tudo e monto minha vida no sertão. Vou meditar por quarenta dias no vazio do deserto para desenvolver o meu “interior”. E o interior do cerrado é cheio de vazios. Adentrar o cerrado é continuar de fora. E o que o cerrado tem dentro nem o fogo alcança. São aquelas plantas que plantam sementes que sobrevivem ao fogo. Tudo se esvai e se desfaz com o fogo e com a seca e estabelece uma espera latente até um novo despertar de vida pelas chuvas. Existem contudo as flores da seca, desafiadoras, esplendidamente audazes, mártires da beleza, iscas que heroicamente pescam vida no seco da natureza do cerrado. Elas brotam repentinamente no vazio da seca para lançar seu explosivo espetáculo de vida. O carnaval da seca dos seres do cerrado são essas flores e seu desafio à morte.
Ainda estou na estrada e ainda não chegamos à Brasília. Vejo algumas casas, quase-cidades. Cidades? Brasília na TV é de vidro e mármore, chão incerado e frio, e muita luz, talvez muito calor. Tive medo do calor. Não gosto de calor. Contudo, uma amiga me garantiu que o clima era ameno e menos quente do que no Rio. Pensei, vamos ver como é. Olho para a janela e estão lá as árvores “pixaim”, nanicas e retorcidas, com terra e algum mato em volta. Na televisão Brasília é de mármore branco e vidro lustroso. Como pode esta terra? Lembrei de Caetano cantando “eu sou neguinha”. Não importa o disfarce, Brasília é Brasil, Brasília também é “neguinha”. Uma neguinha tecno, plugada no mundo e no cosmo. Uma, diríamos, globalizada “globeleza”, do interior, que esqueceu do samba.
Pronto, de satélite em satélite, chegamos. Eixo monumental, rumo à esplanada. Quanto carro, quanta pista em volta? Onde estão as casas, as pessoas? Nada. Afinal, a cidade começou ou não? Já estamos no Plano Piloto? E por que está tudo tão vazio? Brasília é assim, vai começar, vai acontecer, e não acontece, “ia”? “Brasíl-ia”, o Brasil que “ia”, mas não foi? Não, é o seguinte, todo o grande espetáculo começa com um certo atraso. O aumento de expectativas faz parte do acúmulo de energias a ser liberado no grande acontecimento. Então é isso, Brasília ainda não foi? Era para ser e não foi? É somente um sonho? Não, calma. O problema é somente terminológico. Ordem e progresso são coisas que não se efetivam com uma simples bordada na bandeira nacional. Brasília é somente um nome. Quer ele se pareça com “Bras-ilha” ou com um projeto frustrado, continua sendo somente um nome. Se tudo isso “ia” ou “é”, no nome, não importa, a emenda pode ficar pior que o soneto. Se trocássemos o “ia” frustrado pela efetividade do “é”, teríamos Brasilé, e isso ia dar em chulé. Já pensou: “eu sou de Brasilé e você, de onde é?”. Evidente, todos logo percebemos, esse nome não soa bem, não possui ressonância com nada que seja elevado na língua portuguesa.
Por outro lado, temos também “Bras-ilha” e seus sentidos. Pois Brasília é uma ilha, é inusitada, única. Como muitos dizem, não há nada que se pareça com esta cidade, ela é ímpar. É uma ilha, uma porção de singularidades e vida pulsante, cercada de Brasil por todos os lados. Confluência de etnias, culturas, crenças, projetos e sonhos. Brasília é foz ou fonte dos sonhos do Brasil? Se for foz que seja o delta onde esses sonhos venham a florescer. Se for fonte, que os sonhos aqui semeados sejam paridos para o bem de toda a humanidade. Desde antes de nascer, Brasília “existe” sob o signo de profecias, como a de Dom Bosco, a dizer que iremos para o mundo, que estamos no centro e no alto. E Brasília sonha tacitamente em, um dia, projetar a sua existência e seus sentidos em todo o mundo, pois já disse Dom Bosco que daqui surgiria uma nova e rica civilização.
Tento escrever e homenagear a cidade, mas ela já foi projetada para ser uma homenagem a si mesma e aos sonhos da nação. Brasília é uma auto-homenagem monumental. Brasília aspira profeticamente a projeção, a irradiação de sua existência, a eternidade. Os projetos, as visões e as expectativas são às vezes messiânicos. Uma idéia latente em nosso amor incondicional pela capital é: Brasília irá, um dia, salvar a humanidade. Antônio Conselheiro talvez tivesse o mesmo sonho para Canudos. Não, o nosso messianismo latente é diferente, pois está calcado na racionalidade sistemática e “segura” da “modernidade”. Com a “modernidade” podemos exercer um ufanismo irônico ou um messianismo alegre e “esclarecido”.
Assim, chego à rodoviária do Plano Piloto. Agora sim, vejo pessoas, muitas pessoas. A rodoviária do Plano Piloto é assim, meio como o centro do centro, pessoas de quase todos os cantos da cidade, de pessoas de todos cantos do Brasil, passam por ali todos os dias. Olho para o horizonte e não acredito no que vejo, a esplanada, bem ali, na minha frente, perto das pessoas comuns da rodoviária. Vou até lá. Saí andando e pensei: “é logo ali”. Pra quê? Tive de andar muito mais do que imaginei. Não era logo ali, era lá. O ali é lá. Brasília é a capital do ali é lá. Esqueçam tudo o que disse, eu me enganara, o meu olho de estrangeiro ainda não sabe olhar para Brasília.
Por que construiram a capital desse imenso país no meio do mato, do sertão, no meio do nada? Para afastar o poder político dos grandes centros? Para povoar o Brasil, garantir a guarda de nossas fronteiras? Levar desenvolvimento para o interior? Levar desenvolvimento para o “interior” é se isolar no meio do mato, como queriam os românticos? Isso, fujo de tudo e monto minha vida no sertão. Vou meditar por quarenta dias no vazio do deserto para desenvolver o meu “interior”. E o interior do cerrado é cheio de vazios. Adentrar o cerrado é continuar de fora. E o que o cerrado tem dentro nem o fogo alcança. São aquelas plantas que plantam sementes que sobrevivem ao fogo. Tudo se esvai e se desfaz com o fogo e com a seca e estabelece uma espera latente até um novo despertar de vida pelas chuvas. Existem contudo as flores da seca, desafiadoras, esplendidamente audazes, mártires da beleza, iscas que heroicamente pescam vida no seco da natureza do cerrado. Elas brotam repentinamente no vazio da seca para lançar seu explosivo espetáculo de vida. O carnaval da seca dos seres do cerrado são essas flores e seu desafio à morte.
Ainda estou na estrada e ainda não chegamos à Brasília. Vejo algumas casas, quase-cidades. Cidades? Brasília na TV é de vidro e mármore, chão incerado e frio, e muita luz, talvez muito calor. Tive medo do calor. Não gosto de calor. Contudo, uma amiga me garantiu que o clima era ameno e menos quente do que no Rio. Pensei, vamos ver como é. Olho para a janela e estão lá as árvores “pixaim”, nanicas e retorcidas, com terra e algum mato em volta. Na televisão Brasília é de mármore branco e vidro lustroso. Como pode esta terra? Lembrei de Caetano cantando “eu sou neguinha”. Não importa o disfarce, Brasília é Brasil, Brasília também é “neguinha”. Uma neguinha tecno, plugada no mundo e no cosmo. Uma, diríamos, globalizada “globeleza”, do interior, que esqueceu do samba.
Pronto, de satélite em satélite, chegamos. Eixo monumental, rumo à esplanada. Quanto carro, quanta pista em volta? Onde estão as casas, as pessoas? Nada. Afinal, a cidade começou ou não? Já estamos no Plano Piloto? E por que está tudo tão vazio? Brasília é assim, vai começar, vai acontecer, e não acontece, “ia”? “Brasíl-ia”, o Brasil que “ia”, mas não foi? Não, é o seguinte, todo o grande espetáculo começa com um certo atraso. O aumento de expectativas faz parte do acúmulo de energias a ser liberado no grande acontecimento. Então é isso, Brasília ainda não foi? Era para ser e não foi? É somente um sonho? Não, calma. O problema é somente terminológico. Ordem e progresso são coisas que não se efetivam com uma simples bordada na bandeira nacional. Brasília é somente um nome. Quer ele se pareça com “Bras-ilha” ou com um projeto frustrado, continua sendo somente um nome. Se tudo isso “ia” ou “é”, no nome, não importa, a emenda pode ficar pior que o soneto. Se trocássemos o “ia” frustrado pela efetividade do “é”, teríamos Brasilé, e isso ia dar em chulé. Já pensou: “eu sou de Brasilé e você, de onde é?”. Evidente, todos logo percebemos, esse nome não soa bem, não possui ressonância com nada que seja elevado na língua portuguesa.
Por outro lado, temos também “Bras-ilha” e seus sentidos. Pois Brasília é uma ilha, é inusitada, única. Como muitos dizem, não há nada que se pareça com esta cidade, ela é ímpar. É uma ilha, uma porção de singularidades e vida pulsante, cercada de Brasil por todos os lados. Confluência de etnias, culturas, crenças, projetos e sonhos. Brasília é foz ou fonte dos sonhos do Brasil? Se for foz que seja o delta onde esses sonhos venham a florescer. Se for fonte, que os sonhos aqui semeados sejam paridos para o bem de toda a humanidade. Desde antes de nascer, Brasília “existe” sob o signo de profecias, como a de Dom Bosco, a dizer que iremos para o mundo, que estamos no centro e no alto. E Brasília sonha tacitamente em, um dia, projetar a sua existência e seus sentidos em todo o mundo, pois já disse Dom Bosco que daqui surgiria uma nova e rica civilização.
Tento escrever e homenagear a cidade, mas ela já foi projetada para ser uma homenagem a si mesma e aos sonhos da nação. Brasília é uma auto-homenagem monumental. Brasília aspira profeticamente a projeção, a irradiação de sua existência, a eternidade. Os projetos, as visões e as expectativas são às vezes messiânicos. Uma idéia latente em nosso amor incondicional pela capital é: Brasília irá, um dia, salvar a humanidade. Antônio Conselheiro talvez tivesse o mesmo sonho para Canudos. Não, o nosso messianismo latente é diferente, pois está calcado na racionalidade sistemática e “segura” da “modernidade”. Com a “modernidade” podemos exercer um ufanismo irônico ou um messianismo alegre e “esclarecido”.
Assim, chego à rodoviária do Plano Piloto. Agora sim, vejo pessoas, muitas pessoas. A rodoviária do Plano Piloto é assim, meio como o centro do centro, pessoas de quase todos os cantos da cidade, de pessoas de todos cantos do Brasil, passam por ali todos os dias. Olho para o horizonte e não acredito no que vejo, a esplanada, bem ali, na minha frente, perto das pessoas comuns da rodoviária. Vou até lá. Saí andando e pensei: “é logo ali”. Pra quê? Tive de andar muito mais do que imaginei. Não era logo ali, era lá. O ali é lá. Brasília é a capital do ali é lá. Esqueçam tudo o que disse, eu me enganara, o meu olho de estrangeiro ainda não sabe olhar para Brasília.
Friday, November 05, 2004
JABOR ESCREVE COMO SE ESTIVESSE CANTANDO...
Jabor canta o que escreve. Mago sarcástico das infindáveis jornadas orgiásticas das palavras, Jabor sabe que o cordel e o improviso são protagonistas do palco de suas estripulias associativas cobertas de uma história carregada de arte e de um espírito etílico, noturno. Não é de graça que seu nome, Jabor, seja consonante com a palavra sabor: o homem da língua onisciente, sábia. Sua onisciência associativa, delirante, pode até nos fazer terror. Jabor é terrível ou, como diria Eiseinstein,
Jabor é pior, é mais, é "torrível" (horrível + terrível). O homem que sabe se fazer "torrível", conjugando insana e harmoniosamente universos tão distantes. Jabor é um conciliador. Jabor é antiacadêmico. Por mais que queira parir lógicas retilíneas e categóricas, o samba sem enredo do carnaval eterno dessa sua fatalidade estilística, fermentada por muitos carnavais, não se esquece do caos que lhe pariu. Não há porque mandar Jabor para o caos que lhe pariu. Esse poeta já toma e bebe no caos há muitas vidas. Jabor atravessa vidas que não viveu, sabe falar do que não viveu e do que não viu. É um Tirésias perdido no coração das engrenagens da mídia brasileira. Sabe como esse mundo, a mass media, funciona. Ofereceu-se como um kamikase para mergulhar no epicentro dos ocasos políticos e culturais desse final de século, para confirmar a carótida podre ou, sei lá, por um acaso, encontrar a "utopia possível" - oxímoro oxiúrico do cú do Tudo, onde Jabor sabe que se encontra a impossível chave pra sempre perdida que faz o devir. Repito, Jabor brinca no olho do furacão da mídia brasileira: "Já que a morte tarda, mas não falha... que seja no centro do furacão, vendo o olho de Deus. Já que nosso destino humano é irremediavelmente um certo martírio. Já que somos todos meio que invariavelmente prendas de um sacrifício arquitetado por um indecifrável elemento X (jaborianamente dizendo: o "DNA"? o "mercado"? quem?). Já que um fim é certo, então, que seja no cú do Tudo..." Assim cantava nosso filósofo falante em seus reversos filosofantes. Isso, reversos filosofantes, pois Jabor não somente lê as coisas, ele sabe e adora ler e desler, reverter, perverter, verter baldes de agonia na cabeça dos patrulheiros da burrice nacional, do escroto e impiedoso mundo das tirânicas lógicas áridas e retilíneas forjadas pelos "chapas negras" da razão e do conhecimento. Do fundo do seu ateísmo da "turma do Marx mal lido", Jabor conversa com Deus quando escreve, ou melhor, quando canta... Jabor, você consegue fazer do sim-bólico algo dia-bólica e dionisíacamente penetrante. O problema, como diria Freud, é que esse negócio de penetrante, quanto maior o falo maior a chance da história continuar lhe parindo, passando seu nome (o "DNA"?) pra frente. No entanto, também quanto maior o falo, você sabe, maior a dor da sua letra, da sua investida. Jabor, esse seu gozo literário já é um borrão na cara da mídia brasileira. Para terminar...O mais fascinante é que a Globo, a qual você chifra tão bem, nem se apercebe das suas traições e deixa lânguida e apaixonadamente se sodomizar pelas dionisíacas sacanagens ideológicas que você apronta.
Jabor é pior, é mais, é "torrível" (horrível + terrível). O homem que sabe se fazer "torrível", conjugando insana e harmoniosamente universos tão distantes. Jabor é um conciliador. Jabor é antiacadêmico. Por mais que queira parir lógicas retilíneas e categóricas, o samba sem enredo do carnaval eterno dessa sua fatalidade estilística, fermentada por muitos carnavais, não se esquece do caos que lhe pariu. Não há porque mandar Jabor para o caos que lhe pariu. Esse poeta já toma e bebe no caos há muitas vidas. Jabor atravessa vidas que não viveu, sabe falar do que não viveu e do que não viu. É um Tirésias perdido no coração das engrenagens da mídia brasileira. Sabe como esse mundo, a mass media, funciona. Ofereceu-se como um kamikase para mergulhar no epicentro dos ocasos políticos e culturais desse final de século, para confirmar a carótida podre ou, sei lá, por um acaso, encontrar a "utopia possível" - oxímoro oxiúrico do cú do Tudo, onde Jabor sabe que se encontra a impossível chave pra sempre perdida que faz o devir. Repito, Jabor brinca no olho do furacão da mídia brasileira: "Já que a morte tarda, mas não falha... que seja no centro do furacão, vendo o olho de Deus. Já que nosso destino humano é irremediavelmente um certo martírio. Já que somos todos meio que invariavelmente prendas de um sacrifício arquitetado por um indecifrável elemento X (jaborianamente dizendo: o "DNA"? o "mercado"? quem?). Já que um fim é certo, então, que seja no cú do Tudo..." Assim cantava nosso filósofo falante em seus reversos filosofantes. Isso, reversos filosofantes, pois Jabor não somente lê as coisas, ele sabe e adora ler e desler, reverter, perverter, verter baldes de agonia na cabeça dos patrulheiros da burrice nacional, do escroto e impiedoso mundo das tirânicas lógicas áridas e retilíneas forjadas pelos "chapas negras" da razão e do conhecimento. Do fundo do seu ateísmo da "turma do Marx mal lido", Jabor conversa com Deus quando escreve, ou melhor, quando canta... Jabor, você consegue fazer do sim-bólico algo dia-bólica e dionisíacamente penetrante. O problema, como diria Freud, é que esse negócio de penetrante, quanto maior o falo maior a chance da história continuar lhe parindo, passando seu nome (o "DNA"?) pra frente. No entanto, também quanto maior o falo, você sabe, maior a dor da sua letra, da sua investida. Jabor, esse seu gozo literário já é um borrão na cara da mídia brasileira. Para terminar...O mais fascinante é que a Globo, a qual você chifra tão bem, nem se apercebe das suas traições e deixa lânguida e apaixonadamente se sodomizar pelas dionisíacas sacanagens ideológicas que você apronta.
ADEUS. AH, DEUS. Ó, MEU DEUS!
- Adeus, Luísa, Telma, Júlia, Heloísa... Seu nome, eu já ia me esquecendo...
- Rafaela, muito prazer - estendendo a mão cínica ou ingenuamente?
- Adeus, menina.
- Triste você partir. Mas volte algum dia.
- Volto quando você resolver essa questão.
- Qual questão?
- Essa que acabou por fazer neste exato momento.
- Raimundo, você não pode partir assim...!
- Assim como?
- Me deixando sozinha com essa questão.
- É uma questão sua, não minha.
- Mas eu fiz pra você.
- É, tem razão. Então eu volto, algum dia.
- Em "algum dia" eu morro.
- Rafaela, muito prazer - estendendo a mão cínica ou ingenuamente?
- Adeus, menina.
- Triste você partir. Mas volte algum dia.
- Volto quando você resolver essa questão.
- Qual questão?
- Essa que acabou por fazer neste exato momento.
- Raimundo, você não pode partir assim...!
- Assim como?
- Me deixando sozinha com essa questão.
- É uma questão sua, não minha.
- Mas eu fiz pra você.
- É, tem razão. Então eu volto, algum dia.
- Em "algum dia" eu morro.
Clínico clitoris: 45 minutos
(Crônica em construção)
Fora buscar o sentido da palavra clitoris. Estava numa biblioteca enorme, onde cabia todo o mundo de livros que os homens ficaram aí, inventando de escrever.
Fora buscar o sentido da palavra clitoris. Estava numa biblioteca enorme, onde cabia todo o mundo de livros que os homens ficaram aí, inventando de escrever.
Estava lá: “Clitoris”, do grego “klitoridea”, “klito” alguma coisa, sei lá. O negócio é que o nome do negócio é bem velho, apesar do assunto ser bem atual.
O dia estava bem propício para se procurar um clitoris, mas não exatamente numa enciclopédia. Queria encontrar um atlas anatômico do corpo, coisa do tipo. Mas foi é na enciclopédia ilustrada. Queria ver o clitoris, mas só encontrava definições. Um clitoris pode dar mais trabalho do que se imagina. Ele simplesmente não aparecia em desenho, foto ou pele. Encontrou o nome de um dicionário médico, mas não sabia a estante. O autor era, pasmem, P.A. Pinto. Procurou no arquivo: Pinto, P.A.. Era um dicionário do século passado, mil oitocentos e não sei quanto. Pior, o Pinto era metido a entender de tudo, metia o nariz em tudo, sabichão da hora, rei da patota. Seus livros abordavam temas diversos: “Estudo sobre a língua: alguns pontos de vulgarização”, “Botânica descritiva”, “Etimologia crítica” e “Entomolgia comparada”, “Colonização das mamas bovinas no pós-guerra”... Era todo o tipo de assunto, não se assuste. Correu os olhos e não era possível, ou o Dr. Pinto - assim devia gostar de ser chamado - era um gênio, “dead german”, ou um puta de um sem-vergonha salafrário, ou eram vários com o mesmo nome: Pelvio Armando Pinto, o bola preta da época, o fala-bunito, o cospe com classe, o Dr. Pinto total.
Estava lá : Clítoris, Gr. klitori... . Cadê o desenho? a foto? Bem, aquele dicionário não era ilustrado, vejamos neste: “Dicionário H. Fortes de termos médicos”. Forte procura em fortes e nada de foto, isso é foda. Melhor este: Stedman’s Ilustrated, logo veio à cabeça, esmegma (ingl. smegma) ilustrado? O que seria um Smegman’s Ilustrado? Esmegma, para quem não sabe, é um secreção patológica do pinto. Será que a gente encontra o clitoris no meio do Smegman’s? Que nojo... Só queria o clitoris, mais nada.
Êta clitoris difícil, o Stedman’s Ilustrated também não tinha a ilustração - Porrrraaaa!! Esmeeeegmaaaa!!! Quase gritou, no meio do infinito silêncio das pessoas que liam, dormiam ou estudavam: CLITTOOORRRIIIISSS!!!!, com se chamasse alguém que estivesse bem longe, como se disesse que a ama demais, no meio da chuva, choro e água, abraço eterno. Como se continuasse procurando o amor louco da sua vida. Como se continuasse louco e sabendo que aquilo era o amor: “CLITTTOOOOOOOOORISSSS!!!! Apareça!!! Cresça e apareça!!! Eu te aaammmooo!!!!”. Tenho certeza, o mundo todo iria parar para ouvi-lo, mas esta podia não ser a melhor maneira de encontrar o clitoris.
Foram 45 minutos de pesquisa. Todos os dicionários diziam a mesma coisa, e com as mesmas palavras. Um chupou do outro. É B. Fortes que chupou o Pinto, o qual chupou o Smegman’s, ou melhor, Stedman’s? Sei lá, só sei que todos diziam que o clitoris era uma espécie de pinto chupado, atrofiado, o qual se ramificava nos pequenos lábios. Também pensou que era a essência do pinto e que ninguém queria dizer isto. Também pensou, não sabe por quê, que um pinto frustrado não aparece e rende muita conversa fiada, como a de que existe o Pinto Total. Pinto Total é uma lenda que já morreu há um século. Um pinto é sempre parcial. A civilização nasceu de uma hipertrofia material mas que mutilou para sempre a totalidade que guarda e esconde muito bem um clitoris. O clitoris guarda toda a verdade mas a ela não podemos ascender.
O dia estava bem propício para se procurar um clitoris, mas não exatamente numa enciclopédia. Queria encontrar um atlas anatômico do corpo, coisa do tipo. Mas foi é na enciclopédia ilustrada. Queria ver o clitoris, mas só encontrava definições. Um clitoris pode dar mais trabalho do que se imagina. Ele simplesmente não aparecia em desenho, foto ou pele. Encontrou o nome de um dicionário médico, mas não sabia a estante. O autor era, pasmem, P.A. Pinto. Procurou no arquivo: Pinto, P.A.. Era um dicionário do século passado, mil oitocentos e não sei quanto. Pior, o Pinto era metido a entender de tudo, metia o nariz em tudo, sabichão da hora, rei da patota. Seus livros abordavam temas diversos: “Estudo sobre a língua: alguns pontos de vulgarização”, “Botânica descritiva”, “Etimologia crítica” e “Entomolgia comparada”, “Colonização das mamas bovinas no pós-guerra”... Era todo o tipo de assunto, não se assuste. Correu os olhos e não era possível, ou o Dr. Pinto - assim devia gostar de ser chamado - era um gênio, “dead german”, ou um puta de um sem-vergonha salafrário, ou eram vários com o mesmo nome: Pelvio Armando Pinto, o bola preta da época, o fala-bunito, o cospe com classe, o Dr. Pinto total.
Estava lá : Clítoris, Gr. klitori... . Cadê o desenho? a foto? Bem, aquele dicionário não era ilustrado, vejamos neste: “Dicionário H. Fortes de termos médicos”. Forte procura em fortes e nada de foto, isso é foda. Melhor este: Stedman’s Ilustrated, logo veio à cabeça, esmegma (ingl. smegma) ilustrado? O que seria um Smegman’s Ilustrado? Esmegma, para quem não sabe, é um secreção patológica do pinto. Será que a gente encontra o clitoris no meio do Smegman’s? Que nojo... Só queria o clitoris, mais nada.
Êta clitoris difícil, o Stedman’s Ilustrated também não tinha a ilustração - Porrrraaaa!! Esmeeeegmaaaa!!! Quase gritou, no meio do infinito silêncio das pessoas que liam, dormiam ou estudavam: CLITTOOORRRIIIISSS!!!!, com se chamasse alguém que estivesse bem longe, como se disesse que a ama demais, no meio da chuva, choro e água, abraço eterno. Como se continuasse procurando o amor louco da sua vida. Como se continuasse louco e sabendo que aquilo era o amor: “CLITTTOOOOOOOOORISSSS!!!! Apareça!!! Cresça e apareça!!! Eu te aaammmooo!!!!”. Tenho certeza, o mundo todo iria parar para ouvi-lo, mas esta podia não ser a melhor maneira de encontrar o clitoris.
Foram 45 minutos de pesquisa. Todos os dicionários diziam a mesma coisa, e com as mesmas palavras. Um chupou do outro. É B. Fortes que chupou o Pinto, o qual chupou o Smegman’s, ou melhor, Stedman’s? Sei lá, só sei que todos diziam que o clitoris era uma espécie de pinto chupado, atrofiado, o qual se ramificava nos pequenos lábios. Também pensou que era a essência do pinto e que ninguém queria dizer isto. Também pensou, não sabe por quê, que um pinto frustrado não aparece e rende muita conversa fiada, como a de que existe o Pinto Total. Pinto Total é uma lenda que já morreu há um século. Um pinto é sempre parcial. A civilização nasceu de uma hipertrofia material mas que mutilou para sempre a totalidade que guarda e esconde muito bem um clitoris. O clitoris guarda toda a verdade mas a ela não podemos ascender.
Tuesday, November 02, 2004
SESSÃO DIÁLOGOS INDIGENTES (PÓS-INDÍGENAS)
BOBEIRA
- O bobo repete, repete, repete...e... pára?
- Não, ele repete.
- Quem repete?
- O bobo.
- Quem é ele?
- Aquele que repete.
- Por que é bobo?
- Porque repete.
- Repetir é bobo? Me responda, repetir é bobo? Me responda, repetir é bobo? Repetir é bobo?
- Pode ser, pode ser, pode ser.
- Que idiota.
- Não.
- Você não acha idiota?
- Não.
- Por que não?
- Porque é bobo, idiota.
- Sua mãe!
- Onde?
- Idiota é a sua mãe.
- E bobo é você.
- Sou, repito, sou um bobo.
- Repita, se for mesmo.
- Eu sou um bobo, aliás, o bobo: beó-beó-bó-bó. Bobo!
- Você assume a sua bobeira?
- Assumo, é minha. É minha e de todo mundo.
- Quanto bobeira...
- E você quer mais?
- Não. Torrou a paciência. Ninguém mais suporta ou admite uma coisa dessas. Coloquemos um ponto final nesse assunto realmente de uma vez por todas!
- Tá bom. Mas que tal umas reticências... assim...bonitas...
- Não combina com a história, é muito cor-de-rosa, muito drama sem fim, muita manha. O melhor mesmo é o IDEM-IBIDEM!
- Remédio forte, mas bom. Legal!
- IDEM!
- O bobo repete, repete, repete...e... pára?
- Não, ele repete.
- Quem repete?
- O bobo.
- Quem é ele?
- Aquele que repete.
- Por que é bobo?
- Porque repete.
- Repetir é bobo? Me responda, repetir é bobo? Me responda, repetir é bobo? Repetir é bobo?
- Pode ser, pode ser, pode ser.
- Que idiota.
- Não.
- Você não acha idiota?
- Não.
- Por que não?
- Porque é bobo, idiota.
- Sua mãe!
- Onde?
- Idiota é a sua mãe.
- E bobo é você.
- Sou, repito, sou um bobo.
- Repita, se for mesmo.
- Eu sou um bobo, aliás, o bobo: beó-beó-bó-bó. Bobo!
- Você assume a sua bobeira?
- Assumo, é minha. É minha e de todo mundo.
- Quanto bobeira...
- E você quer mais?
- Não. Torrou a paciência. Ninguém mais suporta ou admite uma coisa dessas. Coloquemos um ponto final nesse assunto realmente de uma vez por todas!
- Tá bom. Mas que tal umas reticências... assim...bonitas...
- Não combina com a história, é muito cor-de-rosa, muito drama sem fim, muita manha. O melhor mesmo é o IDEM-IBIDEM!
- Remédio forte, mas bom. Legal!
- IDEM!
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