Nos EUA um passageiro, sem qualquer experiência de voo, teve a infelicidade de estar dentro de um monomotor, sozinho, com um piloto que desmaiou. Por sorte, com auxílio do controlador de voo, por rádio, conseguiu pousar com segurança.
Isso me fez lembrar de quando voei pela segunda vez na vida, em 1987, com 15 anos de idade, também em um monomotor, de 4 lugares, acompanhando uma aula de voo. Era o chamado voo de peru, um jeito de voar de graça, de carona, em lugares que ficavam vagos, dentro de um avião no qual ocorria uma aula de voo.
Em meu primeiro voo de peru, não houve clemência. Os dois pilotos, instrutor e aluno, não hesitaram em tentar me assustar, e conseguiram. Primeiro fizeram o avião entrar em queda livre (estol), como se estivessem perdendo o controle da aeronave, por repetidas vezes.
E, enquanto estolavam, olhavam para trás, para ver eu me contorcer de medo. E assim deram boas gargalhadas. Depois estolaram novamente, e ambos simularam um desmaio. Mas aí eu já saquei que era pura trolagem. Só fiquei um pouco tenso de sentir que o avião estava instável e um pouco sem rumo, com dois caras que podiam estar se excedendo em suas tentativas de me aterrorizar.
Eu pensava:
“Estão tentando me zoar. Ok. Mas espero, sinceramente, que não exagerem ao ponto de causaram um acidente...”.
O terceiro voo que fiz na vida foi num planador, no mesmo ano. Sim, voei algumas vezes em 1987, porque eu era o office-boy do aeroclube de Ribeirão Preto. E meu pai era instrutor teórico. Dava aula geralmente na disciplinas de Motores e Dinâmica de Voo.
Dentro do planador estávamos somente eu e o piloto, de 20 anos de idade.
Ele também fingiu que estava passando mal.
- Eu não tô bem, eu não sei o que tá acontecendo. Você terá de assumir o comando – disse-me, ofegante, simulando uma voz de sofrimento, com desmaio na sequência.
E fez isso com a manche puxada para cima, com a aeronave cada vez mais lenta, e a velocidade rumando para o estol.
Assumi os comandos, mas eu simplesmente não sabia o que fazer.
- Vai estolar, vai estolar! Pelo amor de Deus, pelo amor... – eu gritava, um pouco desesperado.
E assim entramos em queda livre, com apito de estol na orelha. Mas foi um estol suave, agradável, bem diferente daqueles que eu havia experimentado no monomotor.
Ele continuou simulando desmaio e eu saquei que era zoeira. Mas mesmo assim minha adrenalina subiu. Afinal de contas esse era somente meu terceiro voo na vida.
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