Wednesday, August 03, 2016

Ninja 7 (o que vem antes do 7 eu pulei)

Jamais imaginei que um final de tarde seria tão repleto de aventuras, e isso tudo em pouco mais de 30 minutos. Pela manhã tentei fazer um depósito para uma determinada pessoa, com a qual não tenho qualquer tipo de relação pessoal. Ela porém forneceu informações confusas acerca de seus dados bancários. Então tentei por várias vezes fazer esse depósito pela manhã, sem sucesso, e no final da tarde lá estava eu novamente caminhando em direção ao banco. Mas eu mal imaginava que a partir dali, em poucos minutos, teria três grandes momentos ninja, em uma surpreendente configuração cósmica-triangular-ninja-da-morte.

O primeiro momento foi o momento ninja míope. Estava caminhando na mesma via em que muitas pessoas fazem suas caminhadas vespertinas quando, de repente, em um universo de centenas de pessoas se movimentando ao mesmo tempo e em diversos pontos de meu raio de visão quase nula (já que tenho seis graus de miopia), percebi que uma delas a dezenas de metros de mim. Era possivelmente alguém que conhecia mas para a qual muito sabiamente não olhei diretamente, com o intuito de não fazer com que ela percebesse que eu já a havia percebido, e isso obviamente incorreria em algum constrangimento, já que sou míope e na verdade não saberia de fato o que eu estava vendo.

Olhei somente de rabo de olho e pensei: deve ser aquela senhora, minha vizinha... E ela, coitadinha, nem mesmo percebeu que eu já a havia localizado.

Quando, de repente e muito tranquilamente, ela já estava ao meu lado e fez questão de me cumprimentar. E convenhamos, ela também foi um pouco ninja nesse ponto. Resumindo: não passei por constrangimento nem mico. Andei no fio da navalha, e isso é ninja.

O segundo momento ninja se deu dentro da agência bancária, quando tive de digitar os dados bancários do favorecido, para depósito, e não precisei nem mesmo recorrer a qualquer tipo de anotação, pois inconscientemente memorizei todos os 12 algarismos referentes aos seus dados. Tentei por tantas vezes fazer aquela porra de depósito pela manhã, com um ou dois números errados que o favorecido me fornecera, que no final da tarde eu já estava ninja, sabendo todos os seus dados bancários, sendo que não sei de cor nem o número de minha própria conta no banco.

E, convenhamos, essa memorização inconsciente, e sem esforço, que fiz, é um típico momento ninja de quando se é atropelado por um carro e, girando, no alto, a cerca de uns cinco do chão, o ninja ainda consegue disparar a sua pistola, acertando fatalmente vários de seus oponentes antes de perder a consciência e ir a óbito.

O último momento ninja foi o mais espetacular. Foi o momento ninja peidorreiro. Há cerca de 10 metros da portaria de meu prédio, não conseguindo saber se de fato havia um elevador que subiria para meu andar, corri feito um louco e consegui chegar a tempo, com uma mulher adentrando esse clássico cubículo de onde brota um anedotário imenso em que os peidos reinam como protagonistas de uma sufocante saga sem fim. Mas foi tudo tão rápido que eu mesmo tenho dificuldades de narrar a peripécia. O que fiz é mais rápido do que qualquer possibilidade de concepção ou planejamento.

Como disse, corri como nunca, sem fazer qualquer tipo de ruído. Ou seja, ninguém percebeu que naquele ambiente havia alguém correndo desesperadamente, e isso já é meio ninja. Cheguei até o elevador e estendi meus braços, para que o sensor infravermelho já captasse minhas intenções, e adentrei completamente dentro do mesmo, sem que a mulher que estava lá dentro percebesse que havia mais alguém, porque ela ainda estava de costas pra mim. 

Ou seja, adentrei o elevador juntamente com essa mulher, bem perto dela, e ela nem percebeu que alguém passou por ali e saiu muito rapidamente, deixando no ar um cheiro absurdamente impressionante de merda. Eu já estava dentro do elevador mas não poderia dar continuidade à viagem, pois aquela senhora iria saber que, nessa corrida louca de 10 metros, eu tinha quase me cagado devido a tal esforço. 
Senti-me um verdadeiro fantasma peidorreiro. Essa senhora não deve ter entendido patavinas, pois adentrou um ambiente em condições normais, e teve de se direcionar para seu andar em um elevador podre, caindo aos pedaços, pela bomba involuntária que lá deixei.

Voltei para casa com um sorriso nos lábios e um sentimento de missão cumprida, de que mais uma vez a humanidade foi salva de seu extermínio total.

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