É muitíssimo gratificante e enriquecedor, profissional e existencialmente, trabalhar em um CAPS. Há aqui, no CAPS, várias dimensões possíveis de contato com a experiência das interações humanas.
Muitas pessoas, que um olhar exclusivamente biomédico classifica somente como doentes, têm a oportunidade, em um CAPS, de mostrarem ao mundo que são somente radicalmente diferentes dos padrões dominantes.
Chegam aqui massacradas pela violência de uma sociedade que não foi capaz de assimilá-las. Basicamente sofrem por que foram e são constantemente discriminadas e excluídas, mas não simplesmente em função de terem transtornos mentais, porque esses transtornos, em boa parte dos casos, surgiram como resultado desse processo de discriminação e exclusão.
Muito se fala que as pessoas com transtornos mentais sofrem muito preconceito, mas pouco se fala que a discriminação e a exclusão são inclusive fatores importantes na gênese desses transtornos. A discriminação e a exclusão, portanto, começam bem antes, e estão entremeadas no cotidiano de todos nós.
Reitero o que já afirmei antes, há a pouco mais de três anos, após a observação e acompanhamento de alguns casos aqui no CAPS:
"Se você é uma pessoa radicalmente diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade na qual está inserido, e se essa sociedade é socioculturalmente pobre, ela fará de você um marginal, herege ou doente mental. Se essa sociedade porém for socioculturalmente rica, se ela for uma sociedade que abriga a riqueza da diversidade humana, ela fará de você um artista ou uma pessoa que possa fazer parte dela em sua evolução e reinvenção criativa, a cada dia..."
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