Uma vez um amigo me perguntou assim:
"Como psicólogo, pra você qual é uma das maiores causas de infelicidade no mundo atual?"
Na hora ele me fez lembrar também da consideração de uma grande amiga minha, a qual mencionava três grandes fatores que podem enlouquecer uma pessoa: religião, sexo e dinheiro.
São três elementos muito inflamáveis, os quais têm um peso muitas vezes excessivo e até mesmo patológico na configuração de diversas interações humanas. Quando combinados, seu efeito pode ser ainda mais devastador. Possuem um potencial enorme para a inflação do ego. O narcisismo pode se valer de qualquer uma dessas três fontes em seu descolamento para com a realidade.
Nesse texto quero me ater somente à questão da sexualidade, pois talvez seja ela o que atualmente melhor representa a nossa desatenção. Com o advento da liberação dos costumes, conseguimos reduzir de modo saudável uma série de tabus em relação à sexualidade. Contudo, surgiram outros, os quais ainda não estão muito bem identificados e assim podem produzir muita infelicidade.
A pressão pela contenção, abafamento e diminuição da atividade sexual (prevalente até poucas décadas atrás) somente foi substituída por algo parecido com o seu oposto. Já há algum tempo uma série de autores vinculados ao pensamento psicanalítico vêm alertando para uma espécie de inversão do mal-estar na cultura. A pressão atual é para a fruição (desfrute) máxima, irrestrita e constante. Vou tentar colocar da forma que me parece ser a mais clara e simples possível: existe atualmente uma supervalorização da atividade sexual, a qual tem produzido, para muitas pessoas, mais infelicidade do que felicidade.
Há uma idealização de que a atividade sexual deve se realizar segundo padrões de intensidade, desempenho, frequência e variedade de parceiros, os quais são inatingíveis para a maioria das pessoas.
São muitas pessoas lutando para serem felizes com base em alguma coisa repleta de imperfeições, furos, idealizações baratas, e ainda com o acréscimo de que a sua realização repousa no nevoeiro caótico do desejo de quem desejamos sexualmente.
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