Sunday, June 28, 2015

Liberdade, responsabilidade e psicoterapia

Quando o assunto é liberdade ou a responsabilização pelos próprios atos, há algumas coisas que para mim não fazem o menor sentido de serem ditas a pacientes. Jamais digo que qualquer coisa que esteja acontecendo é uma opção, ou que para haver mudança o sujeito precisa querer, por exemplo. As formas verbais desse tipo de fala seriam mais ou menos as seguintes:

“Mas isso é uma opção sua...”, “Mas quando a gente quer, a gente muda”, “Para mudar, precisa querer...”.

Ressalto que não estou falando aqui de pessoas refratárias à psicoterapia, as quais estão muito bem adaptadas aos seus estilos de vida - embora alguns familiares, ou pessoas ligadas a elas, queiram que ela se submeta a um processo psicoterápico para mudarem em alguma coisa que elas mesmas não desejam mudar.

Estou falando somente daquelas pessoas que procuraram por um psicólogo porque estão sofrendo, não estão encontrando alternativas, e talvez a pior coisa que possa ocorrer com elas é ouvirem (de quem teria de ajudá-las) que isso é somente uma opção, ou que (bem ao estilo Paulo Coelho) basta querer, que elas mudam.

Para ser sincero, eu até acho esse tipo de fala meio covarde e pouco dotado de empatia. É covarde justamente porque é pouco empático. Quem diz isso, me parece, se esmerou muito pouco em tentar compreender o outro a partir de suas próprias condições, a partir de seu próprio referencial. Ouviu pouco, acompanhou muito pouco. E, na minha concepção, se ouviu bastante e acompanhou o suficiente, perdeu a oportunidade de compreender que existem caminhos mais eficazes para a mudança.

Se a pessoa está sem motivação eu, como terapeuta, tenho de ajudá-la a encontrar o caminho para ter mais motivação. Tenho de ajudá-la também a querer, a desejar mais. Temos juntos, eu e paciente, de descobrir o que pode facilitar a mudança e, na minha compreensão, não basta somente incutir culpa, ou dizer que as mazelas vividas pela pessoa são simplesmente resultado de uma opção ou de suas opções.

Esse texto ainda poderia render muito. Há muito ainda o que ser dito por aqui. Contudo, prefiro deixar para a discussão, para o debate...

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