Saturday, October 19, 2019

Colegas médicos, atenção...

Há algumas coisas que me deixam bem irritado. Quero falar de quando pacientes chegam ao CAPS, já vindos de alguma Unidade Básica de Saúde.

Muitos, que estão com insônia pela primeira vez na vida, já chegam com prescrições de medicamentos tarja preta (benzodiazepínicos), para uso contínuo. Contudo o médico poderia antes ter tentado várias outras opções menos deletérias, que fazem todo sentido para primeira linha de tratamento para insônia. Somente para citar alguns exemplos, poderia ter tentado antes prescrever algum antialérgico, relaxante muscular ou algum antiemético.

Outra coisa que também me tira um pouco do sério é ver paciente, que nunca tomou medicação psicotrópica na vida, já chegar ao CAPS com prescrição off-label e para uso contínuo.

E para quem não entendeu o termo aí, em inglês, ele se refere a prescrições não aprovadas. Ou seja: o paciente chega ao CAPS, relatando que estava com problemas de constipação ou diarreia, por exemplo, com prescrição de antidepressivo e benzodiazepínico em uso contínuo. E, veja bem, benzodiazepínico se usado continuamente por mais de 20 dias já é suficiente para que a pessoa se transforme em um dependente químico dessa substância.

Certa vez, me lembro claramente, uma senhora chegou o CAPS, e já estava tomando um benzodiazepínico e um antidepressivo, em uso contínuo, há 6 meses, para tratar constipação. E o médico nem mesmo havia tentado prescrever psyllium (Metamucil). Essa senhora nem mesmo sabia o que era o Metamucil.

E reitero o que já escrevi em postagens anteriores: não existe medicação psiquiátrica que cure. Nenhuma das medicações psiquiátricas existentes trabalha segundo parâmetros etiológicos. Para praticamente todo o restante das especialidades médicas trabalhar sem perspectiva etiológica é algo temerário.

Porque não faz o menor sentido ficar indefinidamente prescrevendo medicações que somente atuam sobre os sintomas. É sempre necessário tentar compreender quais são os agentes causadores desses sintomas. Imagine, por exemplo, que alguém esteja gripado, e o médico lhe prescreva repetida e indefinidamente paracetamol.

Agora imagine que o uso não aprovado (off-label) é pior ainda. Porque ocorre a prescrição para sintomas para os quais não há qualquer tipo de evidência consolidada de que esses medicamentos sejam eficazes.

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