Coringa é um filme com cenas belíssimas, mas não porque se traduzem em beleza natural. Em vez disso trabalha com uma estética da feiura, do contraste e da dor.
Na expressão da feiura, o caos, a desordem, o desconjuntamento dançam no olho do furacão de uma música crescente e grandiosa, com imagens de câmera rodando e subindo para a onisciência, para mostrar que é possível garimpar beleza mesmo ali, no lixo, nos becos da existência.
Na representação de contrastes alguns quadros mostram a urbanização desenfreada, o entardecer poluído, que são quase fotografias em preto e branco, para machucar o olhar de quem assiste com a aridez de cidades descontroladas, estéreis e sem fim.
E a dor aparece em cada lance de escada que não termina, nos poucos segundos em que isso foi representado, repetidamente, por várias vezes, nos passos moucos, quase mancos, de alguém que está sendo cotidianamente massacrado pelo mundo desde o dia em que nasceu. Porém com alguns respiros insanos de fumaça de tabaco e psicotrópicos a lhe entupir as veias, para poder dançar ridícula e inebriadamente, em sonhos de amor, no final de mais um dia em que o universo desabou sobre sua cabeça.
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