Acho muito interessante a utilização da retórica, da ornamentação da escrita, da linguagem poética, carregada de efeitos de sentido, para poder expressar melhor um sentimento e conseguir talvez fazer com que o leitor de certo modo sinta o que estou sentindo.
Penso que a retórica é um meio para conseguirmos comunicar o que geralmente é concebido como incomunicável ou como da ordem do indizível. Quem alcança esse nível de expressividade costuma despertar nas pessoas a sensação de que conseguiu dizer aquilo que elas sempre tiveram vontade de dizer, mas para o qual não encontravam palavras.
Acho interessantíssimo e sei como me utilizar de uma série de recursos retóricos porém, infelizmente, acho que podem também ser usados como um um meio muito poderoso para iludir e enganar as pessoas. Os efeitos de sentido, inclusive também, obviamente, aqueles utilizados pelos humoristas, costumam conquistar as pessoas, contudo há o risco da excitação de uma série de emoções, de modo excessivo, que pode abafar uso da racionalidade.
Há cerca de 20 anos eu gostava muito de ler Arnaldo Jabor. Aos poucos, porém, fui me desiludindo com seu estilo, o qual cabe muito bem para se falar da vida afetiva, por exemplo, mas não para se colocar na mesa os argumentos relativos a um debate que demanda racionalidade.
A retórica e a oratória têm um poder muito grande de enfeitiçamento. Outro colunista que também sempre abusou disso é Luiz Felipe Pondé, com o agravante de se beneficiar inclusive de uma certa blindagem em virtude de ser uma pessoa do meio acadêmico, um doutor em filosofia. Já li muitos de seus artigos em jornais, e venho acompanhando o que ele escreve há mais de 10 anos, e a impressão que tive da maioria de seus textos é que ele geralmente nem mesmo se dá ao trabalho de argumentar. Somente tece suas piadas e trocadilhos, desfilando uma série de figuras de linguagem e efeitos de sentido, esparramados no que escreve, para enfeitiçar o leitor e parecer que saiu vitorioso de algum debate.
Portanto hoje desconfio muito de quem abusa da retórica. Esse abuso está mais próximo da sofística, da arte do engano e da trapaça, do que da transparência, da humildade e da vulnerabilidade de quem está de fato tentando compreender como as coisas são.
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