Empatia é conexão, é estar junto, é ser companheiro, de verdade. E muitas vezes somente isso já ajuda bastante. Mas há também a questão técnica de como podemos aprofundar a empatia, e isso pode variar bastante em função do problema pelo qual alguém está passando.
Empatia não é sentir o que o outro sente. É compreender o outro a partir dos referenciais dele. É mais cognitiva do que afetiva. Disposição afetiva para sentir o que o outro sente, sem preparo técnico adequado, pode gerar projeções, confusões. Sentir o que o outro sente é compaixão, não é necessariamente empatia.
É importante ser afetado, ter compaixão. A compaixão é um motor, um motivador. Mas muito do que chamam de compaixão é somente projeção, altruísmo desesperado. Compreendo o poder motivador da compaixão. Mas o que discrimina melhor é a empatia, esse processo "infinito" de estar junto e conhecer melhor o outro a partir dos referenciais dele.
E ter uma relação de empatia com alguém já é fazer algo por essa pessoa: é estar junto, ser companheiro, ouvir, tentar compreender em detalhe, construindo com o outro os caminhos para possíveis resoluções.
E o risco da compaixão sem empatia, do afeto sem a compreensão, é o sentimento de pena, o qual é pura projeção de si sobre o outro. A pena é sempre produzida de modo vertical, assimétrico. Costuma estabelecer mais uma relação de poder do que de ajuda respeitosa. E o mais doido é o senso comum se apropriando da coisa. Muita gente diz assim: "eu tenho pena de você”, e isso na verdade pode ser traduzido assim: "eu acho você inferior, um idiota desprezível". E aí, claro, as pessoas vão dizer que não querem que ninguém sinta pena delas...
A empatia é um regulador da compaixão.
Para quem quiser ainda se aprofundar um pouquinho mais nessa questão, trabalhei um pouco esses conceitos a partir de Comte-Sponville, nesse vídeo aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=7Ro9ASkgDCM
A empatia é mais cognitiva do que afetiva em virtude da definição de empatia que estou adotando: a compreensão do outro a partir dos referenciais dele.
Muitas pessoas costumam definir empatia como a capacidade de sentir o que o outro sente. Não é essa a definição que adoto, pois pra mim isso é compaixão (sentir com o outro, sentir junto). Já existe um conceito para se definir o que seria essa capacidade de sentir juntamente com o outro, que é a compaixão. Então, na minha compreensão, não faz o menor sentido chamar isso de empatia.
Sentir é da ordem do afeto e compreender é da ordem da cognição. Portanto a empatia está mais para a cognição e a compaixão está mais para o afeto.
Não é possível sentir exatamente o que o outro sente. Existe sempre um elemento de equívoco contido na compaixão, o qual pode e deve ser modulado pela empatia.
Pra mim é muito claro que é impossível sentir, perfeitamente, o que o outro sente. Mas será que é impossível compreender o outro a partir de seus referenciais? Se você agora, por exemplo, está compreendendo a partir de quais conceitos estou falando, a partir de que lugares estou falando, você está de certo modo me compreendendo a partir de meus referenciais.
Se o conceito de empatia está atrelado ao conceito de compreensão, a coisa muda muito de figura. Estaremos desse modo aproximando o conceito de empatia de conceitos tais como o conceito de racionalidade, a qual em tese pressupõe universalidade, objetividade.
Penso que a empatia demanda um certo preparo técnico, o qual pode variar em função do tipo de problema apresentado, porque alguém que tenha técnica, que seja mais versado nas questões que estão sendo apresentadas, já conhece melhor o caminho e algumas estratégias de enfrentamento.
Se a empatia é da ordem da compreensão a questão é como vamos fazer para que essa compreensão se aprofunde, para que o conhecimento se acumule. Alguém que não esteja preparado tecnicamente fará as perguntas erradas e de modo inadequado. Simplesmente não saberá o que fazer diante do dilema, do problema apresentado.
Obviamente que esse preparo técnico, ou o que estamos chamando de empatia, pode ser adquirido simplesmente pelo volume de convivência que se tem com o outro. Já interagi com muitos familiares de pacientes que tinham um conhecimento muito grande das necessidades e desejos da pessoa que estava em tratamento.
O familiar sabia o que estava acontecendo. O familiar não sentia o que o doente estava sentindo. Sofria junto. Não sentia junto. E talvez seja esse um conceito mais preciso de compaixão: sofrer junto, sofrer também, sofrer por que o outro está sofrendo, porque sentir a mesma coisa, vivenciar igualzinho, é impossível.
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