Monday, November 18, 2019

Masculinidades doentias e sexualidade

Tenho visto muita gente tentando dar aulas de sexo para homens, com toda aquela questão das masculinidades doentias, coisa com a qual concordo bastante. Mas também tenho a impressão de que muito do que está emergindo nesse campo tem relação com um certo mercantilismo de terapias. Porque estão surgindo grupos terapêuticos alternativos, holísticos, de terapeutas que não tiveram uma formação sólida, tentando oferecer serviços nesta área, porque parece que aí está mesmo surgindo um filão saboroso de mercado.

E aí hoje me peguei lendo um texto, com um sujeito que, com um tom magistral, tenta dar uma aula, uma lição, para toda uma geração que estaria perdida por ter assistido demais a filmes pornográficos. 

E eu sempre fico me perguntando o seguinte: se o sujeito baseou todo seu repertório de comportamentos sexuais em filmes pornográficos, ou ele tem pouquíssima experiência na coisa (é talvez simplesmente alguém que acabou de perder sua virgindade), ou então é alguém que não tem um mínimo de inteligência para aprender por meio de seus relacionamentos amorosos. É sério que existe toda uma geração que está tão tosca assim? 

E talvez eu não consiga entender muito bem tudo isso, porque não sou eu que me relaciono sexualmente com essas pessoas. Parece-me que somente quem tem relacionamentos íntimos e sexuais com essas pessoas é que percebem isso. E isso geralmente se dá com as mulheres. Quem está percebendo isso são as mulheres e talvez sejam as mulheres quem mais tenham algo a dizer sobre o assunto, e não esses homens que estão dando cursos para outros homens. 

Talvez fosse melhor que muitos desses homens fizessem esses cursos não somente com outros homens, mas também com mulheres. E aí também eu já fico muito confuso porque fico sem entender algumas coisas. Por exemplo, que história é essa de agora os filmes pornográficos estarem se transformando em grandes vilões? 

Acho tão esquisito quando filmes, desenhos animados ou jogos de videogame se transformam em vilões, como se as pessoas fossem zumbis, que simplesmente imitam de uma forma muito burra o que vêem nesse tipo de produção.

E outra coisa também que não consegui engolir no referido texto, foi ele dizendo que sexo não tem nada a ver com uma performance esportiva, que sexo só tem relação com algo muito suave e sublime. 

Olha, me desculpem, mas eu acho que pode ter relação com as duas coisas. Sexo pode ser muito bom se você pensar nele como uma atividade física, esportiva, não de desempenho sexual, não de fazer a pessoa gozar mil vezes e gozar também mil vezes. Mas creio que, em alguns contextos, conceber a atividade sexual como também uma atividade física pode ajudar a melhorar a relação sexual de alguns casais. 

Porque já pude ouvir de muitas pessoas que o sexo como atividade física, como atividade que faz a pessoa ter um aumento de frequência cardíaca, se exercitar, no sentido de aquilo demandar um esforço físico (que essa pode ser uma conjunção muito boa, do orgasmo com a produção de endorfinas dele e da própria atividade sexual) é algo que as ajudou, no sentido de ter também mais vontade de fazer sexo (e não cair na mesmice) também em função disso, de ser algo que faz muito bem para a saúde, e depois produz uma sensação de relaxamento maravilhosa. Aliás, aproveito aqui para dar uma dica bem específica: relações sexuais em pé, quase como se fossem uma espécie de exercício de agachamento mais suave, são muito legais. Fazem muito bem para as pernas e para o coração rs.

Então o sexo não precisa ser somente uma atividade serena. Pode também ser visto como uma atividade física. E claro que sexo não é somente penetração. Pode ocorrer sem penetração e não deve haver esse compromisso com a penetração. 

Obviamente que deve haver sempre esse compromisso com o carinho, o respeito e o cuidado com o outro, e que isso também favorece a interação saudável de um casal, e que pode dessa maneira (com foco no cuidado para com o outro) despertar mais a libido. 

Mas não existe somente um caminho. Claro que o caminho tem que sempre ser  o do cuidado com o outro. Mas não quer dizer necessariamente que isso só implica em algo suave ou sublime. Necessariamente temos de ficar atentos para cada contexto específico. E é cada contexto específico das inúmeras interações que um casal tem que vai de certo modo ditar o que deverá ser feito. Porque não adianta nada ficar falando de masculinidades doentias com receitinhas.

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