Crescer em um ambiente machista é péssimo para as mulheres e também muito ruim para boa parte dos homens, e eu me incluo nessa parte. Fui um bebê que chorava muito, e um dia minha mãe me levou ao médico:
- Seu filho não tem problema algum. É um bebê sensível, que está assimilando tudo o que ocorre dentro de casa. Você e seu marido não estão bem, e ele está percebendo tudo...
Isso ajudou minha mãe a compreender um pouquinho mais o que estava ocorrendo comigo, mas não me poupou de um mundo machista, que maltrata intensamente meninas e também meninos sensíveis.
A luta para engolir o choro foi uma luta de toda a minha infância, e também de parte de minha adolescência, quando enfim consegui fazer com que minhas lágrimas secassem e hoje eu tenho (por outros motivos, obviamente, mas de forma coincidentemente irônica) disfunção da glândula meibomiana, que provoca ressecamento ocular, devido à falta de lágrimas mesmo.
Mas o problema de perder a capacidade de chorar em público, ou de conseguir demonstrar claramente o que está ocorrendo conosco (com toda a série de códigos e de linguagens corporais necessárias para que o outro entenda que não estamos bem) é que as pessoas simplesmente não percebem que estamos angustiados, desesperados e passando por um momento muito difícil em nossas vidas.
E isso, no meu caso, se expressa com bastante clareza em meus ambientes de trabalho, nos quais a maioria das pessoas é composta por mulheres. Muitas delas se assustam ao perceber que sou também uma pessoa sensível.
Porque para muitas delas é difícil de perceber a sensibilidade do outro se o outro está o tempo todo com aparência de pedra, de algo que aprendeu sem perceber, aprendeu a segurar aquela aparência de que não está mal, de que não está desesperado.
E é muito difícil aprender ou tentar reaprender a ter novamente uma linguagem corporal que consiga transmitir o que está acontecendo, sem que as pessoas nos desqualifiquem completamente em função disso. Porque foi exatamente isso que ocorreu em toda a minha vida: uma desqualificação dolorosa em função de ficar muito facilmente estampada na minha cara o meu desespero, a minha angústia, a minha tristeza.
Então para mim uma coisa é clara. O progresso em relação à igualdade de gêneros foi, em minha vida, uma coisa também muito boa. Viva o feminismo!
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