Já atendi pessoas, estudantes, que diziam ter diagnóstico de TDAH, mas não comprovavam isso ou o processo de diagnóstico havia sido realizado de modo muito rápido ou mal feito.
Um deles não deixou de mexer em seu celular enquanto falava comigo.
- É urgente? – perguntei.
- Não.
Mesmo assim, mesmo depois de me responder que não era urgente, em atitude até um pouco desrespeitosa, não desgrudou do celular. Não costumava fazer anotações durante as aulas. Tinha caderno, mas não o usava para isso.
Se você é estudante, e tem problemas de concentração, precisa ter caderno e durante as aulas saber fazer anotações nele. E é caderno mesmo, de preferência aqueles que são divididos em matérias. Porque, comprovadamente, anotações no celular ou no computador, não tem o mesmo nível de eficácia. Fora o risco de, numa aula ou numa simples conversa, ser constantemente sequestrado para os algoritmos da internet. E, claro, precisa guardar o celular enquanto conversa com as pessoas.
Outro me disse que tinha o diagnóstico de TDAH, que tinha dificuldades para se concentrar, para manter o foco, que se distraia com facilidade. Porém, enquanto conversava com ele, e sempre que eu tinha algo a dizer, eu falava e logo em seguida lhe perguntava sobre o conteúdo do que eu havia dito, se ela havia compreendido, pedindo-lhe para que dissesse a mim o que havia entendido.
Nossa conversa, frente a frente, olho no olho, nosso diálogo, foi avançando. E uma coisa para mim estava clara: em um diálogo, em que ambas as pessoas se alternam de modo equilibrado na fala, e que o tempo de cada um falando ininterruptamente não se estende muito, é bastante difícil que alguém se distraia ou perca o foco.
Eis a importância do diálogo, dessa interação cooperativa e naturalmente motivante entre seres humanos, na qual uma pessoa constantemente estimula a outra, fazendo com que se mantenham conectadas, sintonizadas, sincronizadas, para juntas construírem alguma coisa para si ou para o mundo.
O rapaz do celular não queria, naquele dia, naquele contexto, se conectar, e não houve tempo para que eu investigasse melhor por que se comportava assim. Tinha seus motivos. Todos temos nossos motivos
Porém, para mim, por vezes, uma coisa é certa: tentar se esconder debaixo de algum diagnóstico de transtorno mental costuma não ajudar, e pode até piorar alguns problemas, seja lá quais forem.
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