Sunday, December 04, 2022

O fim de Jair

Aliados e amigos alegam que Bolsonaro está com depressão. Ele já se comporta ou tenta aparentar que está retraído socialmente. Está recluso, interagindo bem pouco e apático.

Foi ontem que li sobre isso, sobre seu suposto quadro depressivo. E esta noite acabei sonhando com ele, como alguém próximo. No sonho ele exercia o papel de alguém como um tio, um colega de trabalho ou até mesmo um paciente.

Já não estava mais simplesmente em retraimento social. Já estava padecendo de algo bem mais grave, isolamento social, que ocorre quando há desqualificação e marginalização social. Nesse sentido não é mais a pessoa que não quer interagir com o mundo. É o mundo que já não interage mais com ela, isolando-a, marginalizando-a. É um estado cruel de desqualificação, de descrédito social. 

E era esse o Jair de meu sonho. Um desqualificado. Alguém em quem ninguém mais confiava, em casa, nas ruas e no trabalho. Ele estava sempre por perto. Mas quase nada do que dizia era valorizado. No trabalho era aquele colega que todos evitavam e detestavam. Ele, como sempre, fazia o tempo todo diversos comentários inconvenientes e horrorosos. As pessoas, porém, não davam mais bola. Somente toleravam aquele sujeito inútil e infeliz. 

E eu ali, por perto, fazendo meu trabalho. Tratando Jair como trato qualquer paciente que apareça para mim, seja no CAPS ou na UTI. 

Por sorte não trabalho mais na UTI, desde 2016. Ali muitas vezes ajudei os fisioterapeutas, fazendo massagens nos pacientes ou tentando alongar um pouco suas pernas. 

E lá estava eu, no sonho desta noite:

- Diga, Jair, o que está acontecendo? 

Ele então olhou para mim, sorrindo, como sempre, com seus dentes cariados, me pegou pelo braço, e falou bem perto de meu rosto, soltando perdigotos: 

- Ah, Adriano, não repare no que vou lhe dizer, mas esse pessoal aqui do CAPS é meio fresco. É tudo meio boiola, hahahaha... 

Alguns dos servidores o olhavam com expressão de desdém ou nojo. 

Ele continuava me segurando pelo braço, me abraçando. 

- Então, Adriano, a gente tem que namorar, cara! Eu sou apaixonado por você – tentando me abraçar. 

- Abraça, direito, seu Adriano! 

Apontava para os colegas e dizia: 

- O Adriano fica fugindo de mim. Acho que ele tem algo de boiola, de verdade. Eu abraço e ele fica irritado. O que é, tá com medo de sentir que gosta? Se você é macho, de verdade, não tem porque ter medo... 

E ele sempre se aproximava, com uma mão boba. Eu o segurava com uma chave de braço, imobilizando-o.

- Caraio, seu Adriano. Cê tá manjando do jiu-jitsu, hein? 

- Pois é, seu Jair. Não pode fazer isso com as pessoas. Eu não posso deixar que o senhor faça isso. É estupro, sabia? 

- Tá bom, tá bom. Prometo que não faço mais. Agora me solta e vamos só conversar, vai... 

Soltei. 

- Ah, seu bichinha, eu sabia que você não ia aguentar muito tempo – e tentou me dar um soco. 

- Poxa, seu Jair. Assim fica difícil, hein... 

- Hehehe, quase te peguei. 

E novamente o contive, por alguns minutos. 

- Tudo bem, Adriano. Pode soltar. Eu desisto. Você ganhou. 

Despedi-me dele e fui fazer relatórios. 

Depois de cerca de uma hora cruzo com ele novamente nos corredores. Estava chorando, com uma coriza que lhe escorria pelo rosto, seus olhos azuis se destacavam na vermelhidão do choro e das lágrimas. 

- Ninguém gosta de mim. Essa vida não tem mais valor. Eu vou lá pra a avenida. Vou me jogar na frente dos carros... 

- Jair, querido. Mas você tava tão bem agora há pouco? Até tinha feito piada e lutado jiu-jitsu comigo, lembra? O que tá acontecendo? 

- Ninguém gosta de mim. Desse jeito é melhor morrer... 

- Senta aqui. 

- Não consigo. Eu tô com o corpo todo doendo. Tá tudo ruim. Não tenho mais porque viver. 

Coloquei-o então sentado em um colchonete e comecei a ajudá-lo a se alongar. Apareceu um fisioterapeuta, que me instruiu. 

Eu fazia por Jair, aquele genocida do passado, agora em séria convalescença, tudo de melhor que já tinham feito por mim um dia. Porque minha especialidade não era matar.

 

 

2 comments:

Anonymous said...

Grelo duro...
Democracia é relativa...
Polo exportador de viados...
Roubar apenas um celular...
👆Frases de... Lula
Amizade com ditadores...
Fazer discurso político no funeral da mulher...
Aparecer embriagado em público...
Roubar [Mensalão e Petrolão]...
Querer controlar redes sociais...
☝🏻Atitudes de Lularapio
Acorda, meu velho!
Está cego?
----
Att
Ronan

ADRIANO FACIOLI said...

Frases de Bolsonaro:

"Preocupação com o meio ambiente é coisa de vegano."
"Não sou coveiro." (sobre as centenas de milhares de mortes da pandemia).
Ligação com milícias, tentativa de superfaturamento de vacinas, negacionismos climático, antivacina e sanitário, corrupção com barras de ouro no MEC, peculatos diversos (rachadinhas), presentes de milhões vindos da ditadura sanguinária da Arábia Saudita (com indícios de corrupção em venda de refinaria), etc.
Que perda de tempo... Me poupe, nos poupe, Ronan...