Pelé é para nós, brasileiros, um ícone de uma grandeza única. Simétrico, olímpico. A perfeição. Garrincha e Maradona, por outro lado, eram mais trágicos e me encantam mais, sem nem mesmo eu precisar entrar no mérito de quem foi melhor. Isso não me importa. Garrincha e Maradona eram mais marcados por imperfeições e surpresas. E como conheci melhor Maradona, quero me ater a ele.
A baixa estatura e as pernas curtas ajudavam em muito a lhe conferir a surpresa e a sensação de absurdo ao vê-lo jogar. Conduzia e tocava a bola com toques curtos. Eu sinto que mal consigo ver os movimentos de suas pernas, já que eram curtas. Era como se ele rolasse junto com a bola, como se seus movimentos também fossem todos esféricos e de rolamento, e isso me remete ao andrógino, esse ser da mitologia grega, que era perfeito e todo esférico.
Maradona era aquele sujeito nada simétrico, que produzia simetrias complexas. E de repente lá estava Maradona, correndo com a bola, que também, assim como com Messi, parecia impossivelmente grudar em seus pés.
Bola grudada no pé. Mas não perfeitamente, porque grudava e escapava, repetidamente, enganando a legião de zagueiros que o perseguia e o cercava. Aquele mundo de jogadores juntos a correr atrás de algo, que sumia no meio dessa multidão. Era Maradona.
E de repente essa bola parece que espirrava de seus pés para algum colega, que marcava o gol.
Ele praticamente fez só isso contra o Brasil nas oitavas da copa de 1990. E bastou isso para vencerem, por 1X0. Como todo craque, bastou um único lance.
E quem acompanhou a copa de 1986 sabe muito bem do que estou falando.
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