Monday, January 10, 2022

Banho quente pra quem é gente

Nunca tive nem cuidei de gatos. Em casa somente tivemos dois vira-latas, nas décadas de 80 e 90. Um deles, inclusive, cujo nome era Fred, nos deixou maravilhosas lembranças. 

Fred nasceu em 1987 e desapareceu 7 anos depois, em 1994. Era um típico vira-lata, querido da vizinhança, de periferia. 

Comia muito da comida que sobrava em nossos pratos e também um pouquinho de ração. O portão vivia trancado, mas havia uma abertura pela qual ele podia entrar e sair quando quisesse. Foi atropelado uma vez, tomou facada de bandido, que pulou dentro do nosso quintal. Tomou tiro de chumbinho, que não sabemos quem foi que deu. Mas sabíamos que ele tinha um chumbinho no corpo, porque dava para apalpar e sentir certinho o formato do chumbinho diabolô em sua pele.

Tomava banho de mangueira. Era um cachorro de quintal, e jamais entrava dentro de casa. Lembro-me bem que ele ficava bastante abatido durante o banho, ou tranquilo, não sei. E que Ribeirão Preto sempre foi muito quente. 

Então hoje tenho dificuldades para saber se aquele banho de água fria era muito sofrido ou não. Porque a água em Ribeirão não era, de modo geral, fria. Durante o verão a água não ficava muito fria, e era possível tomar banho frio normalmente, dentro de casa. Isso ajudava a refrescar.

Mas sei muito bem que naquela época eu era muito mais tosco do que hoje, e bem menos sensível ao fato de que, se estamos tomando banho quente, logo nossos animais de estimação também têm de tomar banho quente.

Sabendo muito bem disso, hoje fiz uma coisa que nunca fiz na vida, porque nunca tive gatos. Entrei dentro do box com a gatinha que peguei na rua, e dei um banho quente, presumo eu, bem gostoso nela. 

Porque ela ficou muito molinha. Ao ponto de eu enrolá-la na toalha, e ficar com ela no colo, olhando para a carinha dela, e sentindo que ela ronronava o tempo todo, e quase dormia. 

E tentamos fazer tudo baseados nos protocolos atuais, com shampoo especial, e todos os detalhes necessários para que não houvesse nenhum contratempo.

Mas eu jamais me imaginei em tal situação. Ontem, quando esse animalzinho entrou debaixo de meu carro, eu simplesmente não tinha a menor ideia do que fazer. Porque eu não tinha nem coragem de pegá-lo em minhas mãos. Fazia mais de 20 anos que eu não pegava um gato no colo.

E hoje foi isso. Tomamos banho juntos.

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