É divertido ir para o banho, e deixar a porta do banheiro um pouquinho aberta. Lua, nossa gatinha, ouve o barulho da água caindo e sai, de onde estiver, para atentamente assistir a todo o nosso banho. Chega de mansinho, se senta bem comportadinha em frente à porta do box, e fica observando tudo o que fazemos, e cada gota d'água que cai no chão ou escorre pelo vidro.
Gatos, assim como todo e qualquer felino, são programados para se dirigir a tudo o que se mexe, seja para caçar ou para interagir de modo fortuito ou lúdico.
E água caindo costuma despertar muito a atenção desses animais. Lua muitas vezes tenta caçar cada uma das gotinhas que escorre pelo vidro, e está sempre atenta, até mesmo quando o chuveiro já foi desligado e cai uma ou outra gota.
Quando entro para o banho, e que ela fica me assistindo, sinto que entrei em em um espaço de alta tecnologia, uma câmara da construção de uma outra dimensão.
Porque um box de banho produz algo parecido. De um lado há vapores, corpos nus, água caindo e uma temperatura geralmente bem mais quente. Do outro estamos com roupas, o ambiente é totalmente seco e com outra temperatura.
O que ali ocorre parece estar cozinhando uma outra realidade. E isso de certo modo ocorre. Porque a expressão "tomar um banho" geralmente se liga a alguma transformação. Saímos diferentes. Não saímos somente nos sentindo mais limpos. Saímos com outra temperatura, com outras sensações, nos sentindo, amiúde, um pouco renovados pelo banho.
E a gatinha permanece ali, totalmente atenta, com seu olhar aparentemente enigmático, mergulhado em seu mundo sem palavras. Esse mundo, de um presente constante, de comunhões rápidas, do esquecimento como regra, da escuridão dos silêncios eternos, da singela e atenta audiência de banhos como se fossem espetáculos milenares.
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