Epiteto teria dito assim: “O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz destes”.
As pessoas costumam citar esta frase para ressaltar que somos responsáveis pelo modo como interpretamos o que acontece conosco.
Muitas dessas pessoas inclusive ressaltam que podemos interpretar nossas desventuras de modo vitimista ou transformá-las em uma visão mais otimista e fortalecedora. Chegam a dizer que não somos responsáveis pelo que nos ocorreu, mas que somos totalmente responsáveis pelo modo como interpretamos o que nos ocorreu.
Então imaginemos uma pessoa que tenha sido, por exemplo, torturada. E imaginemos também que esta pessoa, durante um certo tempo, tenha tido uma interpretação “vitimista” do ocorrido. Durante um certo tempo ela costumava relacionar as torturas que sofreu com tudo o que havia de errado em sua vida.
Porém, agora imaginemos que há alguns anos ela vem convivendo com um novo grupo de amigos e que, a partir dessa convivência, essa interpretação tenha mudado.
Sabemos muito bem que esse tipo de coisa ocorre na vida das pessoas. Muitas mudam a partir de novas influências. E se mudam sua interpretação a partir de novas influências, faz sentido dizer que são as responsáveis, ou as únicas responsáveis pelo modo como interpretam o mundo?
Dizer que somos os responsáveis pelo modo como interpretamos o mundo, que interpretar de modo otimista ou pessimista é simplesmente um ato de escolha, individual, é assumir que não existe influência possível. Se somos totalmente responsáveis pelo modo como interpretamos a realidade, somos todos ilhas incomunicáveis umas com as outras.
O mesmo se aplica a uma frase que é geralmente atribuída a Sartre, que teria dito que “não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.”
Mas se essa frase faz você agir, logo o que você faz é resultado de algo que fizeram com você.
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