A variedade de casos impressionantes no CAPS é grande. Atendo muitos pacientes que foram torturados, escravizados, estuprados. E muitos não se dão conta de que foram torturados, escravizados, ou estuprados.
Muitos familiares só se dão conta de que esses pacientes estão numa situação grave quando cortam sua própria traqueia ao meio ou matam seu amado cachorro a pauladas.
O fluxo de pacientes é tão grande que muitas vezes não damos conta de saber se hoje estão em melhor condição ou não.
Um desses, que foi esse que cortou a própria traqueia ao meio, em uma tentativa malograda de autoextermínio, somente fui ter conhecimento do fato em minha atuação na UTI, há uns 7 anos (por sorte já não atuo mais em ambiente de UTI há 5 anos).
Ele estava lá, internado na UTI, e era paciente registrado no CAPS, para acompanhamento conosco, em reabilitação psicossocial. É tanta correria que nem sei o nome dele, e nem tive tempo de acompanhar para saber se sobreviveu, se hoje está vivo ou como está.
Era ficar correndo atrás disso ou atender o outro que havia tomado um copo duplo de água sanitária e que, segundo ele, isso tinha sido lhe ofertado por um policial militar. Segundo ele, o policial militar teria lhe ofertado esse copo, e o obrigado a beber todo o conteúdo.
Ele tinha um histórico de drogadição, de morar nas ruas, e era com frequência torturado por policiais militares.
Nem sempre temos tempo para fazer tudo que gostaríamos de fazer. Muitos pacientes têm meu número pessoal de celular, e me enviam mensagens com sermões de insandescidos pastores neopentecostais, ou de que estão pensando em se matar, no meio da madrugada.
Hoje mesmo entrei na internet para abrir conta de e-mail, cadastro no governo federal e cadastro para microempreendedor individual para um paciente.
Reuni muitas dessas histórias em livro, e talvez haja ainda material para um segundo livro.
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