Thursday, October 07, 2021

Caos e bom humor no CAPS

A depender da situação, os atendimentos em um CAPS podem se transformar em um verdadeiro caos, com o qual tem de se lidar com muita serenidade, tranquilidade e até bom humor.

Um paciente com autismo severo, incapaz de articular qualquer tipo de palavra, emitia gritos altos a cada 20 segundos, na recepção, e deixava todos muito estressados, porque não é nada fácil tentar trabalhar com alguém que está gritando o tempo todo. 

Seus gritos estavam comprometendo o trabalho de toda a equipe, com todos os outros pacientes. Entraram na sala na qual eu atendia um outro paciente, interrompendo o que eu fazia, para que eu pudesse atender a este caso severo.

Como se não bastasse essa interrupção, ainda houve outra interrupção, de uma paciente em crise, agitada e irritada, dizendo que queria ser atendida por mim. Esta paciente, por sua vez, não estava agendada comigo, e devia ser atendida por um outro profissional, escalado para as emergências.

Comecei a atender o autista e seus familiares. Ele continuava gritando, e emitindo sons em volumes bem altos, o que tornava difícil até mesmo escutar o que os familiares tinham a dizer. Ele andava constantemente de um lado para o outro dentro da sala. 

Por sorte a sala era grande. Os familiares me diziam que ele gostava de música. Colocamos algumas músicas de que ele gostava no volume mais alto possível dos aparelhos de celular, e ele parecia de vez em quando hesitar um pouco, para ouvir, e parecendo que ia se acalmar. Mas, 3 ou 4 segundos depois, tudo retornava à estaca zero.  

Então tivemos a ideia para que um dos familiares começassem a tentar dançar com ele, e mesmo assim pouco se resolveu. 

Porém, de repente, a mesma paciente que havia invadido a sala onde eu estava atendendo o paciente anterior, invadiu novamente a sala onde eu estava tentando atender agora esse autista grave com seus familiares, exigindo ser atendida por mim imediatamente.

- Só atenderei você, se você dançar com ele - disse a ela, apontando para o paciente com autismo severo.

Ela sorriu, e me respondeu:

- Sim, podemos tentar!

Tentamos, com muita suavidade e delicadeza, mais um movimento para que ele de repente se encontrasse um pouco com a música e algum movimento parecido com dança, mas nada disso resultou em qualquer resultado significativo.

Ela pelo menos se acalmou um pouco, ao ponto de entender que seria atendida por um outro profissional, porque havia outros pacientes agendados comigo, e eu não podia fazer com que ela furasse a fila. Não era justo com quem estava agendado.

O nível de energia e disposição para se lidar com uma situação dessas é bem alto. Mas para uma família conviver com aquela situação diuturnamente era certamente bem mais complicado.

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