Penso que uma grande dificuldade nas relações amorosas é muitas vezes o desgaste. Se após as devidas ponderações e reflexões, junto ao paciente, ele decidir que irá tentar permanecer no relacionamento em que já está, a mudança será incentivada através da proposição e obediência a novas regras, as quais muitas vezes também contemplam por uma certa renovação no círculo de influências.
Porque é muito difícil, por exemplo, uma mudança no sentido de um homem começar a ter comportamentos menos machistas, em um relacionamento conjugal, se seu círculo de amigos, de influência, é bastante machista.
Sobre essa questão do machismo inclusive pude atender um paciente que tinha um problema sério com sua ex-esposa. Ela não era mais sua esposa há alguns anos, e mesmo assim ainda era fonte de muitos problemas.
Haviam se separado devido a infidelidade por parte dela. E a vida dele havia simplesmente despencado depois da descoberta de sua infidelidade. Percebi, juntamente com ele, que o que mais o fazia sofrer era a pressão de sua família para que ela fosse agredida ou morta, coisa que ele não fez. Quando o adultério dela se tornou público, o status social dele despencou.
Os grupos sociais com os quais ele convivia eram extremamente machistas. Nesse contexto, ele não ter matado a mulher ou o amante dela gerava-lhe bastante sofrimento. Acreditar que ele iria resolver o problema dele continuando a conviver com as mesmas pessoas seria insensato. A renovação de seu círculo de influências era algo urgente, e essa oportunidade logo se insinuou com a possibilidade da mudança de endereço. Foi essa a meta que estabelecemos na última vez em que nos vimos. Contudo não mais o vi, e não sei se veio de fato a se mudar, para ficar longe daquelas pessoas que o influenciavam de modo bastante nefasto.
Conseguir dizer adeus, e ir embora, é muitas vezes o primeiro passo para um processo de construção de uma nova identidade. E isso não encerra com o trabalho de prevenção de generalizações e reconstrução das interações em novas bases, para se forjar novas estruturas. Certamente que a pessoa muitas vezes troca de endereço, de casamento, ou de amigos, e continua a se comportar do mesmo modo que se comportava antes. Porém parece-me que, apesar da tendência à repetição, essa fica muito menos facilitada se a pessoa consegue escapar de relacionamentos nos quais seu papel estava estereotipado, ou então passa a conviver com pessoas cujos valores são completamente diferentes daqueles dos círculos dos quais fazia parte anteriormente.
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