O que é uma psicoterapia eficaz? Existe uma abordagem que seja superior às demais? Ouço muito esse tipo de pergunta, principalmente de pessoas que estão iniciando o querendo iniciar um processo psicoterápico. Existem pesquisas a apontar que o mais importante são alguns fatores comuns às práticas de alguns terapeutas, e não necessariamente de uma linha psicoterápica em particular. Essas pesquisas compõem o arcabouço da Teoria dos Fatores Comuns.
As evidências produzidas pelas pesquisas que fundamentam essa teoria apontam então para fatores comuns às práticas de alguns terapeutas, independentemente da abordagem ou linha de psicoterapia que adotam.
Os principais deles são: o estabelecimento de uma relação empática, pouco defensiva e o menos punitiva possível com os pacientes; capacidade para lidar com emoções intensas, e motivar os pacientes para o desenvolvimento de novas estratégias e formas de enfrentamento; capacidade para para conseguir gentilmente confrontar contradições e comportamentos problemáticos dos pacientes; e saber quando e como fazer uso de técnicas baseadas em evidências.
Mas penso que eu talvez possa também acrescentar alguns elementos a esta lista, em função de minha experiência clínica e do que já escutei por parte de muitas pessoas e pacientes que não tiveram bons resultados em processos psicoterápicos pelos quais passaram.
Ouvi, e não foram poucas vezes, o relato de pessoas e pacientes que abandonaram precocemente algumas terapias, que estavam em curso, em função de não terem sentido que aquilo estava sendo útil, porque sentiam que estavam o tempo todo falando sozinhos, como se estivessem falando com uma porta, porque os terapeutas não lhes davam qualquer tipo de retorno. Seu sentimento era o de que falavam indefinidamente e não conseguiam perceber que estavam chegando em lugar algum, devido a uma espécie de apatia por parte do terapeuta. Eu classifico isso como processos que deixam os pacientes à deriva, geralmente influenciados por doutrinas que se autoproclamam como não-diretivas, e que muitas vezes na verdade estão somente produzindo uma interação estéril entre terapeuta e paciente.
Ecoando um pouco com os fatores comuns, mas dito de uma outra maneira, penso que uma coisa importantíssima é o terapeuta conseguir se colocar na posição de algo que é muito parecido com o que a gente chama de uma relação de companheirismo.
É o mínimo que qualquer terapeuta pode fazer: estar junto e dedicar-se ao paciente. Uma terapia, quando minimamente bem feita, faz isso. mas não duvido que muitos profissionais, que se julgam terapeutas, mais fazem sermões e admoestações do que sentar e se transformar em depositários da fala dos pacientes, ou pelo menos se colocar constantemente na posição de investigador.
Porque o buraco é sempre mais embaixo, e não é nada fácil chegar a algumas boas hipóteses acerca dos determinantes do que vem ocorrendo com os pacientes. E mesmo quando algumas boas hipóteses são formuladas elas devem ser testadas então o trabalho é frequentemente relacionado a formular hipótese e fazer com que elas sejam testadas, e ter a capacidade de motivar o paciente para testar uma quantidade razoável dessas hipóteses.
É importante não ser seduzido por pirâmides teóricas, que na verdade são verdadeiras castelos de cartas em relação à realidade concreta e profunda da vida das pessoas.
Boas teorias são embasadas em evidências científicas, as quais muitas vezes se manifestam por meio de replicação em áreas diferentes. As pirâmides teóricas, por sua vez, estão mais atreladas a autores, à autoridade de quem as construiu.
O fetiche com autores pode ser extremamente nefasto. A evolução do conhecimento científico se dá sempre pelo debate em um universo abrangente de pesquisas, pesquisadores e avaliação de pares, nunca pelo elogio constante de autoridades.
Esse debate deve sempre se trilhar pela força das evidências e pela testagem de hipóteses a qual, se possível, deve ocorrer de forma rigorosa e controlada. Ou seja: se possível, a testagem tem que se dar em nível experimental.
Para isso é necessário toda uma cultura científica, que é menos livresca e mais votada à produção de artigos, que devem ser publicados em revistas períodicas, que tem como base a avaliação por pares. Livros não estão excluídos de todo esse processo, mas não são o foco principal.
O conhecimento científico é marcado pela refutabilidade, por ser refutável, passível de constante questionamento e refutação, com base em evidências, e não algo baseado em teses infalíveis, provindas de autoridades que são fetichizadas.
E, para finalizar, é importante que os psicoterapeutas não sejam seduzidos por pacotes fechados. A escuta dos pacientes não pode ficar em segundo plano. O acompanhamento terapêutico não pode se transformar em meros pacotes que prescrevem coisas aos pacientes. Uma psicoterapia não é da ordem de um tratamento prescritivo. Está mais voltada para uma ordem do cuidado.
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