Quando percebo manifestações de egoísmo nas pessoas que amo fico (como qualquer um ficaria) decepcionado, e sem muita vontade de dar carinho. E uma vez eu vi um documentário que aparentemente não teria relação alguma com o que acabei de falar. Era um documentário sobre cachorros selvagens, e eles caçavam um cervo. Assim que pegaram esse cervo, a cena foi das mais atrozes que já vi em minha vida.
E se você é uma pessoa gatilheira, já vou avisando que o que vou escrever agora é bastante chocante. Então não continue a leitura e, se continuar, depois não me encha o saco.
Esses cachorros selvagens pegaram esse cervo, e de forma instantânea o que já se podia ver na cena era o filhote do cervo sendo arrancado de dentro de seu ventre. Era uma fêmea que estava grávida.
Achei aquilo tão atroz, que fez com que eu sempre pensasse nos cachorros, mesmo os cachorros domésticos, como seres capazes de facilmente fazer isso.
Há poucos dias eu conversava com um colega e ele estava abismado com a capacidade para o amor e a fidelidade que têm os cães. E eu acabei me lembrando dessa cena horrível dos cães selvagens com o cervo, e acabei falando assim pra ele:
- Esses cães, que estão aqui em nossos pés, fofamente rolando pelo chão, e pedindo por carinho, são também capazes de verdadeiras atrocidades. Se eles agora encontrassem um filhotinho de gato, por exemplo, poderiam muito bem, em grupo, trucidar com esse bichinho. Não se engane. Estão somente puxando o nosso saco. Porque é isso que eles fazem com quem é mais forte do que eles. O amor de um cão é, com frequência, um amor por alguém mais forte. Bando de puxa-sacos do caralho!
Porém, alguns dias depois, estou novamente conversando com esse colega, e me dou conta de que eu amo basicamente por compaixão. A atrocidade provocada por qualquer ser que seja, os crimes hediondos que qualquer ser possa ter cometido em sua vida, não me impedem de amá-lo. Meu amor, ou uma boa parte dele, começa quando observo qualquer ser, capaz de sofrer, sofrendo.
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