Monday, April 16, 2018

É possível "evoluir" sem sofrimento?

Há poucos dias recebi, por mensagem privada, a seguinte pergunta:

"Adriano, como as pessoas "evoluem" sem o sofrimento? Existe uma forma de "evoluir" o caráter de alguém que não seja invasiva e muitas vezes agressiva?"

Essa talvez seja uma das grandes contribuições da Análise do Comportamento, pois seus achados, os quais foram replicados tanto com modelos animais quanto com modelos humanos, corroboram a hipótese de que é possível sim, em boa medida, aprendermos muitas coisas nessa vida com muito menos sofrimento do que usualmente costumávamos pensar.

As evidências de que o condicionamento aversivo não é o caminho mais desejável, e de que há alternativas concretas para ele, demonstram isso com clareza.

É comum o enunciado de que "se não vai por amor, vai pela dor". Contudo quem assim se expressa está tentando adotar o caminho mais rápido, o mais fácil, ou então não tem conhecimento suficiente de como é possível atuar, de modo significativo e muito mais eficiente, com base no que as pessoas comumente chamam de amor.

Não estou dizendo que o que conhecemos hoje é infalível, mas que atualmente existem técnicas, ou até mesmo tecnologias, que ajudaram em boa medida a diminuir o sofrimento envolvido em todo o nosso processo de aprendizagem e conquista da maturidade.

Quero somente lhes dar um exemplo bem simples. Imagine que alguém esteja sofrendo de uma fobia específica em relação a altura. Uma descoberta muito antiga é que uma das estratégias mais eficazes para se combater a ansiedade, o medo, é o enfrentamento. Desse modo não faltaram pessoas, durante a história, expondo outras, às quais estavam com medo, de forma muito abrupta aos objetos dos quais essas pessoas tinham medo.

Lembro-me inclusive de uma de uma aluna que tive, a qual me relatou que, para acabar com seu medo de altura, lhe sugeriram que ela saltasse de paraquedas. O problema é que esse tipo de técnica produz uma inundação de estimulação aversiva, a qual possui muitos riscos, pois a pessoa pode, após esse tipo de manejo, ficar ainda mais sensibilizada, traumatizada com altura. O risco é muito grande, e há também o risco da pessoa, por exemplo, desmaiar, e simplesmente não entrar em contato com a experiência aversiva.

Para que qualquer pessoa possa entender, sem que eu precise fazer o uso de jargão técnico, eu diria que basicamente nos comportamos segundo dois vetores: nos comportamos para conseguir algo bom ou para evitar algo ruim. No primeiro caso o comportamento está sendo mantido por reforçamento positivo. No segundo caso ocorre o reforçamento negativo, o qual corresponde ao que é classificado como condicionamento aversivo.

O condicionamento aversivo então pode ser realizado por meio de reforçamento negativo e punição (positiva ou negativa). E a punição por sua vez se refere à consequências que diminuem a frequência de respostas. Ou seja: quando o sujeito é punido a tendência é que o comportamento punido diminua em frequência ou venha a se extinguir.

Há porém evidências científicas consolidadas de que o condicionamento aversivo possui inúmeras desvantagens. É definitivamente mais desejável adotar o reforçamento positivo.

Se queremos, por exemplo, que uma criança comece a estudar mais, e de modo mais motivado e saudável, é necessário se pensar que o mais desejável será o reforçamento positivo do comportamento de estudar. O comportamento de estudar precisa produzir consequências aprazíveis para essa pessoa. Estudar precisa ser prazeroso. 

As gratificações pelo comportamento de estudar deverão ocorrer de forma um pouco mais imediata, no próprio cotidiano das atividades acadêmicas. Gratificações que se distanciam dos próprios comportamentos de estudar serão menos eficientes. Se o próprio comportamento de estudar, em si, for gratificante, será muito mais efetiva a aprendizagem, a cultura, o gosto por estudar.

E talvez as gratificações mais poderosas são as gratificações sociais as gratificações que advém da companhia prazerosa de outras pessoas. Muitas pessoas inicialmente nem gostam de algumas atividades específicas Porém quando são submetidas à realização dessas atividades na companhia de pessoas que lhes fazem bem, há a possibilidade do estabelecimento de um processo que faz com que essa pessoa passe a gostar até mesmo daquelas atividades que inicialmente nem gostava.

Os analistas do comportamento, na minha concepção, são os maiores conhecedores de como fazer para que as pessoas se sintam mais motivadas e felizes em relação às atividades que desenvolvem na vida. 

E é importante obviamente tentar perceber quais são os comportamentos que são emitidos com mais facilidade ou até mesmo, eu diria, ser bastante otimista em relação aos sujeitos com os quais estamos lidando. Porque qualquer comportamento desejável, por mais minúscula que seja a sua frequência e magnitude, é uma semente que pode ser irrigada e gerar uma série de outros comportamentos adequados e desejáveis. 

É importante então olhar para as pessoas, para qualquer ser cujo comportamento ocorre por meio da seleção por consequências, com muito otimismo. Porque qualquer simples resposta, que seja parecida com algo desejável, deve ser gratificada. Então esse olhar é um olhar eminentemente otimista, porque olha para o que o outro tem de bom, mesmo que isso se apresente em uma quantidade minúscula. 

É a partir do que as pessoas têm de agradável, de aprazível, bom, desejável, que iremos atuar. Há um foco no que o outro tem de bom: eis o otimismo, e um tipo bom de otimismo, pois é focado na ação. É a partir disso que o outro irá crescer, e crescer com um nível de interação o menos violento e hostil possível, porque o que dá mais certo, e a Análise do Comportamento sabe muito bem disso, é a gentileza, o trato afetuoso, o que a maioria das pessoas conhece e classifica como sendo da ordem do amor.

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