Vou tentar falar sobre sabedoria sem parecer brega. Não sei se conseguirei. Mas talvez valha o intento...
Sim, sabedoria é diferente de conhecimento. Sabedoria é o conhecimento no lugar certo ou conhecimento sendo aplicado da forma mais eficaz possível, por alguém que parece que descobriu isso sozinho. Seria a melhor relação custo-benefício quando o assunto é o conhecimento e suas possíveis aplicações.
Tem também um pouco a ver com criatividade. As pessoas costumam olhar para quem elas julgam que é uma pessoa sábia como alguém que tirou aquele conhecimento da cartola, ou então construiu seu percurso em muitos anos de experiência. Se for idoso e falar devagar, de forma serena e sensata, logo algumas pessoas já irão lhe atribuir alguma sapiência.
Porém, no caso dos idosos, é patente muitas vezes o fato de que muitas pessoas mais maduras, por experiência, costumam dispender menos energia para as mesmas tarefas também realizadas por pessoas mais jovens. É aquela velha história das milhares de horas que são necessárias para se ter maestria em relação a um determinado campo de atuação.
Mas também as surras e os fracassos que a vida nos apresenta funcionam muitas vezes como elementos constitutivos de uma atuação mais sábia. Nossos erros e fracassos podem ser muito pedagógicos.
Sabedoria não combina muito com onipotência. O sábio faz e deixa fazer, fala e deixa falar, permite que o outro também aja sobre ele. O sábio de alguma forma é aquele que aprendeu a apanhar. Não nega a existência do peso do mundo sobre nós, não nega nossa impotência fundamental. Porque culturalmente concebemos a sabedoria como mais próxima da aceitação do que do repúdio exasperado.
Enquanto muitas pessoas negam o peso do mundo e da realidade, o sábio aceita e a partir disso consegue fugir por alguns flancos, comer por alguns cantos.
Já tive contato com algumas definições de sabedoria:
1. O máximo de felicidade no máximo de lucidez possível.
2. Não lamentar o passado e não esperar nada do futuro: o sábio como aquele que não tem nostalgia nem esperança.
3. O saber com sabor: o sábio como aquele que vive o que sabe, o que conhece, e portanto assim faz uma aplicação muito mais eficaz e saudável de seus próprios conhecimentos.
São possíveis várias associações em relação às três definições acima enumeradas. Fiquem à vontade para fazer as suas associações em relação às duas primeiras definições. Porque eu pretendo me concentrar na terceira, e finalizar esse texto falando um pouco dela.
O sábio não é um caminhão de pólvora. É uma espingarda que atira. De nada adianta ter lido muitas obras clássicas, ou livros que são conceituados como estando no ápice da produção do conhecimento humano, se tudo isso estiver servindo somente como lustre cultural, como algo para somente afirmar seu próprio narcisismo.
Ser um caminhão de "conhecimentos", utilizados de modo exibicionista, para tentar seduzir o planeta inteiro, somente atesta um certo desespero em ser amado.
Finalizando...
Há uma história (não sei se é real, e isso também pouco importa) que contam, sobre a vinda de Albert Einstein ao Brasil. Em companhia dele estava Austregésilo de Athayde. Este tinha um caderno e anotava sem parar. A conversa teria se desenrolado mais ou menos assim: “O que você tanto escreve nesse caderno?”, indagou Einstein. “São minhas ideias. Você não tem também um caderno ou bloco de notas para registrar as suas?”. “Não. Só tive uma”.
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