No final tudo dá certo. Porque no final de tudo há, muitas vezes, o descanso definitivo, a morte. O grande problema é que o final, às vezes, é a morte de quem a gente ama. E isso é só o começo.
CRÍTICA DO SENSO COMUM E PROSA - Quem quiser adquirir o livro, acesse o link do canto superior direito
Saturday, February 27, 2016
A racionalidade e a guerra
A racionalidade, ou a verdade, terão muito pouco efeito em quem já abraçou uma causa com unhas e dentes, separando tudo em pessoas imaculadas e demônios. Entregar-se à verdade, nesse caso, é uma espécie de suicídio para o qual se precisa de uma certa força de caráter e apoio social, e isso é coisa um pouco rara, pois a maioria das pessoas prefere se cercar de seus semelhantes.
Quem entrou em uma guerra pretende destruir seu inimigo. Nesse contexto a verdade não vale nada. E é por isso que às vezes a verdade dói, dói muito. Aceitar e ficar do lado da verdade pode implicar em solidão ou muito desconforto com quem nos ama, com quem nos sustenta, com quem (e o que) vem dando sentido à nossa vida durante muitos anos.
O exercício da racionalidade exige fidelidade à verdade, não a pessoas. A fidelidade à verdade é muitas vezes sentida, e ressentida, como traição, como traição ao amor que muitas pessoas nos devotaram por anos e anos a fio.
O exercício da racionalidade muitas vezes entra em conflito com toda uma vida de trabalho e dedicação a algumas causas e pessoas. A verdade tem um poder enorme para destruir amizades, amores e lares. Ela não combina nem um pouquinho com o figurino de militantes e políticos. Quem está disposto a dar a vida por uma causa geralmente não tem condições de ser fiel à verdade.
Saturday, February 20, 2016
RESPOSTA A DOIS ARGUMENTOS CONTRA A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO
Abaixo enuncio dois argumentos contrários à legalização do aborto os quais, na minha concepção, estão entre os mais convincentes.
Posteriormente apresento meus argumentos com o intuito de refutá-los.
1. O feto é um ser externo à mãe e com o material genético diferente da mãe. Não é propriedade da mãe.
2. O feto é um ser humano em potencial. Possui uma estruturação genética própria, a qual lhe confere as condições fundamentais para se transformar em um ser humano completo e com suas próprias características individuais.
Concordo todas as afirmações acima. Contudo penso que são insuficientes para se fundamentar uma posição contrária à legalização do aborto.
Certamente a mãe não é dona desse feto. Os pais não são donos de seus filhos. Os filhos somente estão sob a responsabilidade dos pais. Porém, mesmo se fossem donos dos filhos, isso não qualificaria esses pais a fazerem o que quisessem com seus filhos.
Mesmo sendo dono de seu cachorro, por exemplo, você não tem o direito de torturá-lo. Se seu cachorro estiver em estado terminal você, como dono dele, tem o direito de autorizar que ele seja eutanasiado (sacrificado).
Portanto temos o direito de matar nossos animais, os animais que são de nossa propriedade, se julgarmos que mortos eles estariam melhor do que vivos, se julgarmos que assim estaríamos poupando-os de sofrimentos insuportáveis e irremediáveis.
Então, tanto no caso dos animais quanto no caso dos fetos, podemos perceber que o fundamental, para se pensar sobre o direito à vida, se refere aos possíveis sofrimentos que a ausência desse direito pode gerar nesses sujeitos ou em quem os ama.
A ausência do direito à vida tende a gerar muito sofrimento em sujeitos sencientes (que sofrem), autônomos (ou que já foram autônomos; portanto donos de sua própria vida e de seu próprio corpo) e com capacidade intelectual para saberem que estão vivos e que são mortais (sujeitos dotados de consciência reflexiva, consciência de si mesmos), pois:
- Para os seres humanos, por exemplo, é importante saber que têm o direito à vida, que outras pessoas não podem simplesmente atentar contra a sua vida (ou contra a vida das pessoas que estimam) sem que isso tenha consequências sérias. Saber que o estado ou outras pessoas poderiam dar cabo de nossas vidas (ou da vida das pessoas que amamos), arbitrariamente, pode causar muita angústia e sofrimento em todas as pessoas, com sérios riscos de ruptura do tecido social. Isso é a barbárie, a guerra de todos contra todos.
- Não há garantia de uma organização social mínima sem que o direito à vida seja resguardado. Não teríamos nesse caso uma sociedade mas sim grupos, clãs, isolados e em constante tensão.
- Portanto, o direito à vida serve para proteger a vida dos indivíduos e da sociedade como um todo. Mesmo os mais niilistas e desapegados em relação à sua própria vida, tem de certo modo a obrigação moral de lutarem, na medida do possível, para se manterem vivos e bem, já que a vida de um ser humano costuma geralmente ser muito preciosa a outros seres humanos. Quando uma pessoa morre, geralmente outras ficam vivas e sofrendo muito em virtude dessa que se foi. Algumas pessoas, quando morrem, podem deixar danos irreparáveis nos que ficam.
Em relação às afirmações do item 2, não há como negar, são um fato: o feto, ou até mesmo o embrião, se configuram como um ser humano em potencial. São potencialmente um ser humano, em sentido pleno. Até as 12 semanas de gestação, o feto ainda não é capaz de sentir e sofrer, porém, dadas as devidas condições, um dia se transformará em um ser humano em sentido pleno, capaz de sofrer e de perceber sua própria existência no mundo enquanto passado presente e futuro, enquanto desejos e projetos de vida.
Contudo é também muito problemático tratar um ser somente em função do que ele poderá ser, em função do que ele tenderá a ser. Todos nós somos potencialmente mortos. Todos nós morreremos. Todos tendemos à morte. E isso não nos autoriza a tratar toda e qualquer pessoa como se ela já estivesse morta. Devemos tratar os seres vivos em respeito ao que eles são, no presente, sempre nos atentando para um imperativo ético fundamental: agir para diminuir e tentar não produzir sofrimentos que são evitáveis.
Um problema para que as pessoas compreendam a argumentação à favor da legalização do aborto é que historicamente estamos mais habituados com concepções éticas que valorizam a vida humana acima de tudo. Essas concepções prescrevem que a vida humana deve ser preservada e vivida sob toda e qualquer condição.
Desse modo, portanto, a compaixão ocupa um plano secundário. Não importa se o sujeito já está condenado ou padecendo de sofrimentos insuportáveis e irremediáveis, implorando para morrer. A vida humana é sagrada (o que não vale para a vida dos animais, muito menos para o seu sofrimento) e o sofrimento, não importando a sua magnitude, é fortalecedor, principalmente da alma, na qual a maioria dos adeptos dessas concepções acreditam.
Finalizando: o cenário atual é composto por muitos direitos a menos e muitas obrigações a mais, somente contribuindo para que a quantidade absurda de sofrimentos evitáveis, nesse mundo, continue exatamente do jeito que está.
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O que diferencia a visão determinista, da visão não
determinista de causalidade? Em qual condição se situa a posição
Behaviorista Radical?
E se existe uma visão 
não  determinista 
de causalidade, no que  ela  se basearia? Simplesmente 
não  consigo 
concebê-la ou  compreender 
como  uma concepção 
destas pode ser  defensável. A posição 
Behaviorista  Radical ,
obviamente, se alinha com  uma concepção  determinista .
A minha  impressão 
é que  a concepção 
não  determinista 
não  passa 
de uma sofística, cujos  objetivos  primários 
e inconfessos estão mais  a serviço  de jogos 
de poder  próprios 
ao obscurantismo  do qualquer 
outra  coisa .
2 – A visão  determinista  de causalidade do comportamento 
humano  poderia 
incluir  o livre 
arbítrio ? Por 
quê ?
...Liberdade ,
essa palavra 
que  o sonho 
humano  alimenta 
que  não 
há ninguém  que 
explique
eninguém 
que  não 
entenda..."
e
Cecília Meireles
A epígrafe 
de Cecília Meireles serve somente  como  inspiração  inicial  para  a reflexão , não  como  visão  modelar  do que 
pretendo tecer .
Se por 
livre-arbítrio  nos 
reportarmos ao sentido  de arbitrário ,
ou  seja, aleatório ,
desprovido  de qualquer 
lei , de qualquer 
possibilidade de entendimento  ou  razoabilidade mínima ,
não  há, já 
de início , qualquer 
possibilidade de conciliação  com  uma visão  determinista  de causalidade do comportamento 
humano .
A leitura 
obrigatória , neste caso ,
é o clássico  de Skinner “Beyond freedom
and dignity”. Na ausência  de tempo  disponível 
para  tal ,
remeti-me à leitura  de William Baum
(1999) e boa parte  dos tópicos , em  seu  livro , em  que  tratava
da questão  do livre-arbítrio .
Segundo  este 
autor , a visão 
determinista  de causalidade do comportamento  postula “que 
o comportamento  é determinado 
unicamente pela  hereditariedade 
e pelo  ambiente ”.
“O livre-arbítrio  supõe um 
terceiro  elemento 
além  da hereditariedade 
e do ambiente , supõe algo  dentro  do indivíduo ”.  Ou  seja, “o livre-arbítrio 
afirma que  a escolha 
não  é uma ilusão ,
que  são 
as próprias pessoas  que 
causam o comportamento .”(p. 29). Pois , “na prática , tem-se a impressão  de que 
a negação  do livre-arbítrio 
poderia  solapar 
toda  a estrutura 
moral  de nossa 
sociedade ” (p. 30). Pois  muitos  poderiam argumentar :
se o livre-arbítrio  não 
existe, por  que 
lutar  por  ele ? Estariam assim 
justificadas todas as espécies  de autoritarismo .
“Embora 
seja verdadeiro  que 
a democracia  se baseia na escolha , é falso 
que  a escolha 
se torna  sem 
sentido  ou 
impossível  se não 
houver livre-arbítrio . A idéia 
de que  a escolha 
desapareceria provém de uma noção  excessivamente  simplista da alternativa 
ao livre-arbítrio . Se, numa eleição ,
uma pessoa  puder votar  de
duas formas , o voto 
que  de fato 
ocorrer  dependerá não 
apenas  de sua 
história  a longo 
prazo  (proveniência ,
educação , familiar ,
valores ), mas 
também  de eventos 
imediatamente  anteriores 
à eleição . As campanhas 
eleitorais  existem precisamente 
por  esta razão .
Posso mudar  de lado 
em  função 
de um  bom 
discurso , sem 
o qual  eu 
votaria em  outro 
candidato . Para 
que  uma eleição 
tenha sentido , as pessoas 
não  precisam ser 
livres ; basta 
apenas  que 
seu  comportamento 
esteja aberto  à influência 
e persuasão  (determinantes 
ambientais de curto  prazo )”.
(p.31)
Baum também 
ressalta que  nos 
sentimos mais  ou 
menos  livres 
em  função 
das contingências  a que 
estamos submetidos. Pois  “quando 
o comportamento  é modelado e mantido por  reforço  positivo , as pessoas 
não  se sentem coagidas, sentem-se livres ” (...) “O indivíduo 
que  coopera devido 
a uma ameaça  de punição 
pode, em  princípio ,
ser  livre  para  enfrentar  a ameaça ,
mas  não 
se sente livre  para 
fazê-lo.” (p. 178).
A idéia 
de que  existem escolhas 
absolutamente  livres 
é de fato  ilusória ,
ingênua :
“Os
homens  imaginam ser 
livres  porque 
têm consciência  das suas 
volições  e dos seus 
desejos , e não 
pensam, nem  em 
sonho , nas causas 
pelas quais  se dispuseram a desejar  e a querer , por  não  terem o
menor  conhecimento 
delas” (Spinoza, citado por 
Comte-Sponville, 2002, p. 67).
E
o mais  interessante é a ressonância  que 
uma consideração  como 
esta, de Spinoza, tem com  a concepção  da Análise 
do Comportamento . Existem causas  para  o desejar  e o querer , e isto  limita a liberdade ,
transformando-a em  mais 
um  evento 
sujeito  às contingências .
Dizer  que  o sujeito  age assim  ou  assado  porque  quer , porque  é livre ,
explica tão  pouco 
quanto  dizer  que  bebe água  porque  tem sede .
São  pseudo-explicações de caráter  circular , tautologias . Ou 
seja: bebe água  porque 
tem sede , e tem sede 
porque  bebe água .
“Somos
mais  livres 
do que  os animais 
porque  temos um 
eu , uma consciência 
que  se reconhece como 
tal . Isto 
nos  torna 
mais  livres ,
mas  não 
absolutamente  livres .
Adotar  a idéia 
de que  estamos condenados
inelutavelmente à liberdade , parece-me
uma fascinação  provocada pela  ilusão  que  a própria  condição  de possuir  um  eu  pode despertar , a ilusão 
de Narciso , que 
se entusiasma  com 
a própria  imagem 
e em  seus 
labirintos  se perde” (Facioli, 2003, p.
140).
Nossas
escolhas  são 
sempre  condicionadas a nossos  contextos 
e limitações . A liberdade 
absoluta  é uma ilusão 
de nosso  próprio 
narcisismo . 
Voltando
a Baum (1999): 
“Na
verdade , pode-se argumentar 
que  o livre-arbítrio 
é simplesmente  um 
nome  para  a ignorância  dos determinantes 
do comportamento . Quanto 
mais  sabemos das razões 
que  estão por 
trás  dos atos 
de uma pessoa , tanto 
menos  nos 
inclinamos a atribuir  esses 
atos  ao livre-arbítrio ”
(p. 32).
E
finalizando com  Comte-Sponville (2002):
“Ninguém 
nasce livre , torna-se livre . Pelo  menos  é o que  penso , e que , por  isso , a liberdade  nunca 
é absoluta , nem 
infinita , nem 
definitiva : que 
somos mais  ou  menos  livres  e que  se
trata , é claro ,
de o sermos o mais  possível .”
(p. 74)
3 – Que argumentos poderiam ser apresentados em defesa
do determinismo e da busca por regularidades no comportamento humano, a partir
das seguintes críticas (fonte: Chiesa, 1994, cap. 5).
            a.
argumento da individualidade humana.
            b.
argumento da complexidade do comportamento humano.
            c. argumento  do comportamento 
intencional .
a. A busca  por  leis  causais  não  nega  a unicidade dos fenômenos . Individualidade 
ou  unicidade também 
se aplicam a todos  os outros  fenômenos 
naturais .
b. O fato  de ser  complexo  não  prova  indeterminação .
Complexidade não  implica necessariamente
em  perplexidade ou 
desordem . A ciência 
progride da complexidade para  a ordem .
Segundo  Chiesa, o argumento 
da complexidade poderia  ser 
aplicado a qualquer  ramo 
científico  em 
seus  estágios 
iniciais  de desenvolvimento :
“durante  muito 
tempo , antes 
do desenvolvimento  científico 
da química , a redução de milhares  de compostos 
químicos  a um 
pequeno  e finito 
número  de elementos 
parecia meramente  fantasiosa .”
(p. 103)
c. Como  bem  diz Chiesa: “Um  evento  futuro , uma vez 
que  ainda 
não  aconteceu e talvez 
nunca  ocorra, não 
pode causar  um 
comportamento .” (p. 104)
Em  relação 
às previsões  místicas 
diz que  elas 
são  tão 
vagas  que 
não  há como 
confirmá-las nem  desmenti-las. Ou  seja, impera o obscurantismo 
e o desespero  em 
se encontrar  logo 
uma significação. E o desespero  em  se encontrar  um  sentido  pode
ser  concebido como 
superstição .Em  relação 
a correlações  entre 
comportamento  e estrutura 
corporal , o que 
Skinner escreve é digno  de nota :Isso  nos 
impõe sempre  lembrar 
que  correlação 
não  é causa .Outro  expediente ,
segundo  Skinner, também 
muito  utilizado pelo 
leigo  para  “explicar ” o comportamento 
é o apelo  à herança 
genética , ao “nasce assim ”,
o qual  teria pouco 
a ver  com  fatos  demonstrados, pois  “mesmo  quando 
pode ser  demonstrado que 
certo  aspecto 
do comportamento  é devido 
à estação  do nascimento, ao tipo  físico  de um  modo  geral , ou  à constituição  genética ,
o possível  uso 
desse conhecimento  é muito  limitado” (p. 27). 
Efeito : variável 
dependente , a qual 
ocorre em  função 
de determinadas causas , as chamadas  variáveis 
independentes . Assim 
o Behaviorismo  prefere adotar 
a concepção  de relações 
funcionais , invés 
de simplesmente  causais .
Pois  estas últimas muitas vezes 
possuem implicações  de cunho  mecanicista.
4 – Por  que  algumas causas 
populares  do comportamento ,
tais  como 
as citadas por  Skinner (1953), se mantêm
em  nossa 
cultura ?
Skinner (1953) diz: “Qualquer  evento 
conspícuo  que 
coincida com  a emissão 
de um  comportamento 
humano  pode bem 
ser  tomado como 
uma causa ” (p. 25). Ele 
continua o texto  com 
o exemplo  da astrologia 
e numerologia . E termina por  enunciar  duas razões  básicas para  que  se mantenham como 
causas  populares 
do comportamento  em 
nossa  cultura :
o sentido  de coincidência 
ou  correlação 
que  produzem e suas 
previsões  vagas .
O fato 
de existirem correlações  ou  coincidências 
não  prova  o que  produziu o que ,
o que  é causa 
e o que  é efeito .
Além  também 
do fato  de algumas coincidências 
serem supervalorizadas. São  valorizados
os acertos  e desprezados os erros : “as falhas 
são  encobertas enquanto 
um  acerto 
ocasional  é bastante 
dramático  para 
manter  o comportamento 
crédulo  suficientemente 
forte ”.
“Mesmo 
quando  se demonstra uma correlação  entre 
comportamento  e estrutura 
corporal , nem 
sempre  se distingue qual 
é a causa  e qual 
é a conseqüência . Mesmo 
que  métodos 
estatísticos  possam demonstrar 
que  os homens 
gordos  são 
especialmente  propensos 
à alegria , ainda 
não  se conclui que 
o físico  determina o temperamento .” (p. 27). 
5 – Quais  as críticas  de Skinner (1953) às seguintes 
causas  internas do comportamento :
            a.
causas neurais
            b.
causas internas psíquicas
            c.
causas interiores conceituais.
“Não 
há nada  de errado em 
uma explicação  interior ,
como  tal ,
mas  os eventos 
que  se localizam no interior 
de um  sistema 
tendem a ser  difíceis de se observar .
Por  essa razão 
é fácil  conferir-lhes propriedades  sem 
justificação . Pior 
ainda , é possível 
inventar-se causa  desta espécie 
sem  medo  de contradição ” (Skinner, 1953, p. 28)
“As causas 
a serem buscadas no sistema  nervoso  são , destarte , de utilidade 
restrita na previsão  e controle  de um  comportamento  específico ”
(p. 30). 
De modo 
geral , as chamadas 
causas  neurais 
parecem não  passar 
de correlatos das chamadas  causas  internas. Exemplo :
o sujeito  se encontra 
ansioso  e logo 
uma região  específica 
de seu  cérebro 
demonstra atividade  fisiológica
correlata e significativa , ou  neurotransmissores 
correlatos possuem sua  taxa 
significativamente  alterada. Estas
alterações neurais , contudo ,
podem ser  produzidas por 
alterações externas  e estas é que  irão interessar  à análise  do comportamento .
Correlatos neurais , assim 
como  os internos ,
implicam em  redundância ,
em  explicações 
tautológicas. Uma análise  destas “explicações ” prova  que  não  passam
de “meras descrições  redundantes ”, como 
muito  bem 
enuncia Skinner.
6 – O que  vem a ser  uma “causa ” e um  “efeito ” na concepção  Behaviorista 
Radical ?
O que  me  possibilita entender  um  pouco  mais  dessas explicações 
reporta-se ao princípio  leibniziano da causa  suficiente . Se
adotarmos uma visão  linear 
e restrita de causa , a de que 
tudo  tem uma causa ,
uma causa  acaba levando a outra 
e isso  até 
o infinito : “o que 
causa  x? y. e o que 
causou y? z....”. E assim  encadeamos uma
série  infinita .
Por  outro 
lado , a idéia 
de relações  funcionais 
remete a noção  de teias ,
redes  causais 
e muitas situações  de múltipla  e mútua 
determinação . Mas 
este  é ainda 
um  tópico 
em  que 
guardo inúmeras questões  a serem melhor  pensadas. 
O que , de fato ,
Ernest Mach propunha com  o princípio  das relações 
funcionais ? E o argumento 
de Hume então , o qual 
nunca  compreendi plenamente ?
Por  falta 
de tempo , não 
tive como  escrever 
e ler  mais  sobre  esta questão , apesar  de ter  lido tudo  em  Chiesa
a respeito . 
Baum, W.M. (1999). Compreender  o Behaviorismo .
Porto  Alegre : Artmed.
Chiesa, M. (1994). Behaviorismo 
radical  : a filosofia 
e a ciência . Brasília: IBAC. 
Comte-Sponville, A. (2002). Apresentação  da filosofia . São  Paulo:
Martins Fontes .
Comte-Sponville, A. (2003). Dicionário 
filosófico. São  Paulo: Martins Fontes .
Facioli,
A. M. (2003). “Narcisismo  e liberdade ”. Em :
O espírito  da ironia 
na clínica  psicológica .
Tese  de Doutorado ,
Universidade  de Brasília, Brasília.
Moreira, M.B. &
Medeiros, C.A. (2007). Princípios 
Básicos  de Análise 
do Comportamento . Porto 
Alegre :
Artmed.
Skinner,
B. F. (1953/1981). Ciência  e comportamento  humano .
São  Paulo: Martins Fontes .
Wednesday, February 17, 2016
Prevenção ao suicídio: você pode ajudar a salvar vidas!
Uma vez me fizeram a seguinte questão:
Como interferir no desejo de alguém que não quer mais viver? Temos esse direito, ou estamos sendo egoístas?
Acho que temos o direito de intervir sim. Aliás, não temos somente o direito: temos o dever de intervir. É nossa obrigação lutarmos para ajudar a reorganizar as interações do suicida com o mundo e com as outras pessoas, para que a sua vida tenha mais prazer, para que essa pessoa volte a ter o desejo de viver.
O suicídio é danoso para a família e para a sociedade porque:
1. Geralmente inspira outros suicídios. Essa consequência inclusive tem um nome: é o chamado Werther Effect. Nome inspirado no livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774), de Goethe, cujo protagonista, Werther, comete suicídio no final da história. Nos anos em que esse livro fez sucesso aconteceram muitos suicídios que foram inspirados nele.
2. Aumenta o risco de suicídio dos filhos em 5 vezes. Pessoas que tiveram um dos pais que cometeu suicídio são cinco vezes mais suscetíveis a também cometerem. Um pai que comete suicídio, portanto, gera um grande dano para os filhos. Esse dano não se limita a simplesmente perderem um pai ou uma mãe (o que por si só já causa um dano geralmente muito grande). O dano portanto pode ser muito maior, pois no futuro esses filhos estarão muito mais propensos a também cometerem suicídio.
3. O ato suicida geralmente ocorre em momentos de impulsividade, de desespero, os quais poderiam ser prevenidos, de modo consistente e duradouro, com intervenções biopsicossociais adequadas.
Então se essa pessoa não é um paciente terminal e não está padecendo de uma condição irremediável, devemos fazer de tudo para remediar, para resolver a situação. Para quem não é paciente terminal, não sofre irremediavelmente e tem uma família ou amigos que tem muita estima por essa pessoa (ou então tem filhos, o que é ainda um fator mais relevante), eu diria que viver, e tentar viver bem, é praticamente um dever, um dever para com a família, um dever para com toda a sociedade, pois o suicídio de uma pessoa causa muitos danos para os que ficam.
Contudo trata-se de uma questão ética de difícil percepção pra quem está desesperado ou sofrendo muito. Portanto, como eu já disse, é dever da família, dos amigos e da sociedade como um todo, lutar para que a vida dessa pessoa melhore, para que ela retome o desejo de viver. E não bastam jargões e mandamentos de autoajuda a buzinar na orelha do suicida que ele "precisa querer, porque se ele quiser ele muda".
Nós, profissionais da área de saúde mental, precisamos ajudar essa pessoa a querer. Nós precisamos trabalhar no sentido de tentar reorganizar as interações dessa pessoa (ou até mesmo o seu equilíbrio fisiológico) para que ela comece a desejar e querer mais.
Como interferir no desejo de alguém que não quer mais viver? Temos esse direito, ou estamos sendo egoístas?
Acho que temos o direito de intervir sim. Aliás, não temos somente o direito: temos o dever de intervir. É nossa obrigação lutarmos para ajudar a reorganizar as interações do suicida com o mundo e com as outras pessoas, para que a sua vida tenha mais prazer, para que essa pessoa volte a ter o desejo de viver.
O suicídio é danoso para a família e para a sociedade porque:
1. Geralmente inspira outros suicídios. Essa consequência inclusive tem um nome: é o chamado Werther Effect. Nome inspirado no livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774), de Goethe, cujo protagonista, Werther, comete suicídio no final da história. Nos anos em que esse livro fez sucesso aconteceram muitos suicídios que foram inspirados nele.
2. Aumenta o risco de suicídio dos filhos em 5 vezes. Pessoas que tiveram um dos pais que cometeu suicídio são cinco vezes mais suscetíveis a também cometerem. Um pai que comete suicídio, portanto, gera um grande dano para os filhos. Esse dano não se limita a simplesmente perderem um pai ou uma mãe (o que por si só já causa um dano geralmente muito grande). O dano portanto pode ser muito maior, pois no futuro esses filhos estarão muito mais propensos a também cometerem suicídio.
3. O ato suicida geralmente ocorre em momentos de impulsividade, de desespero, os quais poderiam ser prevenidos, de modo consistente e duradouro, com intervenções biopsicossociais adequadas.
Então se essa pessoa não é um paciente terminal e não está padecendo de uma condição irremediável, devemos fazer de tudo para remediar, para resolver a situação. Para quem não é paciente terminal, não sofre irremediavelmente e tem uma família ou amigos que tem muita estima por essa pessoa (ou então tem filhos, o que é ainda um fator mais relevante), eu diria que viver, e tentar viver bem, é praticamente um dever, um dever para com a família, um dever para com toda a sociedade, pois o suicídio de uma pessoa causa muitos danos para os que ficam.
Contudo trata-se de uma questão ética de difícil percepção pra quem está desesperado ou sofrendo muito. Portanto, como eu já disse, é dever da família, dos amigos e da sociedade como um todo, lutar para que a vida dessa pessoa melhore, para que ela retome o desejo de viver. E não bastam jargões e mandamentos de autoajuda a buzinar na orelha do suicida que ele "precisa querer, porque se ele quiser ele muda".
Nós, profissionais da área de saúde mental, precisamos ajudar essa pessoa a querer. Nós precisamos trabalhar no sentido de tentar reorganizar as interações dessa pessoa (ou até mesmo o seu equilíbrio fisiológico) para que ela comece a desejar e querer mais.
Saturday, February 06, 2016
ZIKA VÍRUS E ABORTO
Primeiramente, um recado pra quem é contra a legalização do aborto:
Você vai ajudar a criar e educar essa criança que não está sendo desejada? Coloque-se no lugar da mulher que não está desejando ter um filho, que não se sente em condições de ter essa criança, sendo obrigada a gestar por 9 meses e a parir.
É um processo muito longo e delicado para alguém que não está se sentindo em condições de mergulhar nessa jornada. É um ser da espécie humana que está para chegar e ele precisa ser muito bem recebido. Tudo isso precisa ser preparado com muito amor e dedicação. É por caso você quem vai passar por todas as dificuldades de uma gravidez? Você vai estar lá na hora do parto dessa mulher? Vai ser você quem vai sofrer todas as dores e percalços envolvidos numa gravidez e num parto, e com todas as obrigações de se criar um filho, para o resto da vida?
Agora multiplique essas dificuldades. Transforme-as em algo muito maior. Imagine se há uma possibilidade significativa de que essa criança tenha microcefalia ou se no ventre materno ela já tenha o diagnóstico de microcefalia. Se uma mãe não está se sentindo em condições de ter essa criança por que você acha que ela obrigatoriamente deve tê-la? Você acha que vai ser bom para o futuro dessa criança e dessa família o fato de que ela simplesmente não está sendo desejada?
E também, por favor, tome cuidado antes de ir logo rotulando esse tipo de reivindicação em relação aos direitos humanos como eugenia, como se um rótulo como esse fosse simplesmente suficiente para se encerrar a discussão. Eugenia diz respeito à eliminação de pessoas com algum tipo de deficiência, com o objetivo de melhoria genética da espécie. Tem, portanto, objetivos relacionados a um plano coletivo, os quais geralmente são colocados em prática por meio de coerção, de imposição. A moral eugenista ordena que os deficientes ou os mais fracos sejam eliminados, mesmo contra a vontade das mães dessas pessoas.
Quem é a favor da legalização do aborto está somente reivindicando um direito individual. Não está dizendo que obrigatoriamente os fetos com microcefalia devem ser abortados para o bem da humanidade. Isso seria eugenia, do modo como as pessoas logo entendem e se horrorizam. E não é isso o que está sendo reivindicado. Rotular de eugenista, acreditando que isso basta para refutar os argumentos de quem é a favor da legalização do aborto, é falacioso.
Mas você pode responder que uma das soluções seria facilitar a adoção nesses casos. Mas quem disse que essa mulher quer passar por tudo isso e depois entregar seu filho para terceiros que ela nem conhece? Você passaria por tudo isso para depois entregar seu filho para terceiros que você nem conhece?
Encerro com um texto de Heloisa Salgado, psicóloga, pesquisadora em saúde materno-infantil e direitos sexuais e reprodutivos, colega de 20 anos atrás, da época em que fiz em psicologia na USP:
“Sinto muitíssimo se alguém vai ficar chocado ou indisposto - é que eu sou completamente a favor de uma mulher que, ao descobrir que está gestando um bebê com microcefalia, independente de sua idade gestacional, tenha o direito de interromper esta gravidez.
Nenhuma mulher deveria ter negado o seu direito de decidir privar um filho de sofrimento.
Nenhuma mulher deveria ter negado seu direito de decidir privar a si e a todos em seu entorno do sofrimento por ter um bebê/criança/adulto portador de microcefalia.
Nenhuma mulher deveria ser obrigada a ter um bebê com uma má-formação tão grave e que, me desculpe, tem muitas explicações e nenhuma delas passa por questões religiosas ou espirituais. Pelo contrário. A saúde pública está aí para explicar.
Escolher interromper uma gestação de um bebê acometido por síndrome tão severa não é crime, ainda que a arcaica legislação brasileira insista em colocar nesses termos. E também não é egoísmo. É simplesmente empatia e respeito para com os limites e possibilidades individuais de cada um de nós.
Caso ainda tenha dúvidas de que a microcefalia leva a sofrimento, favor pesquisar os danos que a microcefalia causada pelo Zika vírus causa no cérebro e, consequentemente, no desenvolvimento global de uma pessoa.
Agora, se você tem relatos de casos de sucesso e de “não-sofrimento” de famílias e crianças acometidas pela microcefalia, por favor, comemore! Que bom que esse bebê/criança/adulto que possui a síndrome tenha nascido e ido para os braços dessa família que conseguiu acolhê-lo e dar todo o amor e o suporte necessários para conviver com suas dificuldades e limitações. No entanto, lembre-se de que somos todos diferentes e que não dá para usar a mesma régua para medir o sentimento, as possibilidades e os recursos (físicos e emocionais) de pessoas diferentes.
Ressalto que a única coisa que nunca, jamais, em hipótese alguma deveria acontecer é que pessoas que tenham decidido interromper a gestação de um bebê acometido por microcefalia - após ter sido devidamente informadas da situação e das consequências de sua decisão - sejam julgadas.
Lembrem-se: alguém que fez escolhas a partir de sua própria realidade, de sua história de vida e de seus limites e possibilidades, considerando uma tragédia tão grande como essa que estamos vivendo, merece nosso carinho, nosso respeito, nossa solidariedade e nossa compreensão."
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