No final tudo dá certo. Porque no final de tudo há, muitas vezes, o descanso definitivo, a morte. O grande problema é que o final, às vezes, é a morte de quem a gente ama. E isso é só o começo.
CRÍTICA DO SENSO COMUM E PROSA - Quem quiser adquirir o livro, acesse o link do canto superior direito
Saturday, February 27, 2016
A racionalidade e a guerra
A racionalidade, ou a verdade, terão muito pouco efeito em quem já abraçou uma causa com unhas e dentes, separando tudo em pessoas imaculadas e demônios. Entregar-se à verdade, nesse caso, é uma espécie de suicídio para o qual se precisa de uma certa força de caráter e apoio social, e isso é coisa um pouco rara, pois a maioria das pessoas prefere se cercar de seus semelhantes.
Quem entrou em uma guerra pretende destruir seu inimigo. Nesse contexto a verdade não vale nada. E é por isso que às vezes a verdade dói, dói muito. Aceitar e ficar do lado da verdade pode implicar em solidão ou muito desconforto com quem nos ama, com quem nos sustenta, com quem (e o que) vem dando sentido à nossa vida durante muitos anos.
O exercício da racionalidade exige fidelidade à verdade, não a pessoas. A fidelidade à verdade é muitas vezes sentida, e ressentida, como traição, como traição ao amor que muitas pessoas nos devotaram por anos e anos a fio.
O exercício da racionalidade muitas vezes entra em conflito com toda uma vida de trabalho e dedicação a algumas causas e pessoas. A verdade tem um poder enorme para destruir amizades, amores e lares. Ela não combina nem um pouquinho com o figurino de militantes e políticos. Quem está disposto a dar a vida por uma causa geralmente não tem condições de ser fiel à verdade.
Saturday, February 20, 2016
RESPOSTA A DOIS ARGUMENTOS CONTRA A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO
Abaixo enuncio dois argumentos contrários à legalização do aborto os quais, na minha concepção, estão entre os mais convincentes.
Posteriormente apresento meus argumentos com o intuito de refutá-los.
1. O feto é um ser externo à mãe e com o material genético diferente da mãe. Não é propriedade da mãe.
2. O feto é um ser humano em potencial. Possui uma estruturação genética própria, a qual lhe confere as condições fundamentais para se transformar em um ser humano completo e com suas próprias características individuais.
Concordo todas as afirmações acima. Contudo penso que são insuficientes para se fundamentar uma posição contrária à legalização do aborto.
Certamente a mãe não é dona desse feto. Os pais não são donos de seus filhos. Os filhos somente estão sob a responsabilidade dos pais. Porém, mesmo se fossem donos dos filhos, isso não qualificaria esses pais a fazerem o que quisessem com seus filhos.
Mesmo sendo dono de seu cachorro, por exemplo, você não tem o direito de torturá-lo. Se seu cachorro estiver em estado terminal você, como dono dele, tem o direito de autorizar que ele seja eutanasiado (sacrificado).
Portanto temos o direito de matar nossos animais, os animais que são de nossa propriedade, se julgarmos que mortos eles estariam melhor do que vivos, se julgarmos que assim estaríamos poupando-os de sofrimentos insuportáveis e irremediáveis.
Então, tanto no caso dos animais quanto no caso dos fetos, podemos perceber que o fundamental, para se pensar sobre o direito à vida, se refere aos possíveis sofrimentos que a ausência desse direito pode gerar nesses sujeitos ou em quem os ama.
A ausência do direito à vida tende a gerar muito sofrimento em sujeitos sencientes (que sofrem), autônomos (ou que já foram autônomos; portanto donos de sua própria vida e de seu próprio corpo) e com capacidade intelectual para saberem que estão vivos e que são mortais (sujeitos dotados de consciência reflexiva, consciência de si mesmos), pois:
- Para os seres humanos, por exemplo, é importante saber que têm o direito à vida, que outras pessoas não podem simplesmente atentar contra a sua vida (ou contra a vida das pessoas que estimam) sem que isso tenha consequências sérias. Saber que o estado ou outras pessoas poderiam dar cabo de nossas vidas (ou da vida das pessoas que amamos), arbitrariamente, pode causar muita angústia e sofrimento em todas as pessoas, com sérios riscos de ruptura do tecido social. Isso é a barbárie, a guerra de todos contra todos.
- Não há garantia de uma organização social mínima sem que o direito à vida seja resguardado. Não teríamos nesse caso uma sociedade mas sim grupos, clãs, isolados e em constante tensão.
- Portanto, o direito à vida serve para proteger a vida dos indivíduos e da sociedade como um todo. Mesmo os mais niilistas e desapegados em relação à sua própria vida, tem de certo modo a obrigação moral de lutarem, na medida do possível, para se manterem vivos e bem, já que a vida de um ser humano costuma geralmente ser muito preciosa a outros seres humanos. Quando uma pessoa morre, geralmente outras ficam vivas e sofrendo muito em virtude dessa que se foi. Algumas pessoas, quando morrem, podem deixar danos irreparáveis nos que ficam.
Em relação às afirmações do item 2, não há como negar, são um fato: o feto, ou até mesmo o embrião, se configuram como um ser humano em potencial. São potencialmente um ser humano, em sentido pleno. Até as 12 semanas de gestação, o feto ainda não é capaz de sentir e sofrer, porém, dadas as devidas condições, um dia se transformará em um ser humano em sentido pleno, capaz de sofrer e de perceber sua própria existência no mundo enquanto passado presente e futuro, enquanto desejos e projetos de vida.
Contudo é também muito problemático tratar um ser somente em função do que ele poderá ser, em função do que ele tenderá a ser. Todos nós somos potencialmente mortos. Todos nós morreremos. Todos tendemos à morte. E isso não nos autoriza a tratar toda e qualquer pessoa como se ela já estivesse morta. Devemos tratar os seres vivos em respeito ao que eles são, no presente, sempre nos atentando para um imperativo ético fundamental: agir para diminuir e tentar não produzir sofrimentos que são evitáveis.
Um problema para que as pessoas compreendam a argumentação à favor da legalização do aborto é que historicamente estamos mais habituados com concepções éticas que valorizam a vida humana acima de tudo. Essas concepções prescrevem que a vida humana deve ser preservada e vivida sob toda e qualquer condição.
Desse modo, portanto, a compaixão ocupa um plano secundário. Não importa se o sujeito já está condenado ou padecendo de sofrimentos insuportáveis e irremediáveis, implorando para morrer. A vida humana é sagrada (o que não vale para a vida dos animais, muito menos para o seu sofrimento) e o sofrimento, não importando a sua magnitude, é fortalecedor, principalmente da alma, na qual a maioria dos adeptos dessas concepções acreditam.
Finalizando: o cenário atual é composto por muitos direitos a menos e muitas obrigações a mais, somente contribuindo para que a quantidade absurda de sofrimentos evitáveis, nesse mundo, continue exatamente do jeito que está.
Marcadores:
Aborto,
Bioética,
Política,
Vida e morte
Determinismo e Análise do Comportamento
O que diferencia a visão determinista, da visão não
determinista de causalidade? Em qual condição se situa a posição
Behaviorista Radical?
E se existe uma visão
não determinista
de causalidade, no que ela se basearia? Simplesmente
não consigo
concebê-la ou compreender
como uma concepção
destas pode ser defensável. A posição
Behaviorista Radical ,
obviamente, se alinha com uma concepção determinista .
A minha impressão
é que a concepção
não determinista
não passa
de uma sofística, cujos objetivos primários
e inconfessos estão mais a serviço de jogos
de poder próprios
ao obscurantismo do qualquer
outra coisa .
2 – A visão determinista de causalidade do comportamento
humano poderia
incluir o livre
arbítrio ? Por
quê ?
...Liberdade ,
essa palavra
que o sonho
humano alimenta
que não
há ninguém que
explique
eninguém
que não
entenda..."
e
Cecília Meireles
A epígrafe
de Cecília Meireles serve somente como inspiração inicial para a reflexão , não como visão modelar do que
pretendo tecer .
Se por
livre-arbítrio nos
reportarmos ao sentido de arbitrário ,
ou seja, aleatório ,
desprovido de qualquer
lei , de qualquer
possibilidade de entendimento ou razoabilidade mínima ,
não há, já
de início , qualquer
possibilidade de conciliação com uma visão determinista de causalidade do comportamento
humano .
A leitura
obrigatória , neste caso ,
é o clássico de Skinner “Beyond freedom
and dignity”. Na ausência de tempo disponível
para tal ,
remeti-me à leitura de William Baum
(1999) e boa parte dos tópicos , em seu livro , em que tratava
da questão do livre-arbítrio .
Segundo este
autor , a visão
determinista de causalidade do comportamento postula “que
o comportamento é determinado
unicamente pela hereditariedade
e pelo ambiente ”.
“O livre-arbítrio supõe um
terceiro elemento
além da hereditariedade
e do ambiente , supõe algo dentro do indivíduo ”. Ou seja, “o livre-arbítrio
afirma que a escolha
não é uma ilusão ,
que são
as próprias pessoas que
causam o comportamento .”(p. 29). Pois , “na prática , tem-se a impressão de que
a negação do livre-arbítrio
poderia solapar
toda a estrutura
moral de nossa
sociedade ” (p. 30). Pois muitos poderiam argumentar :
se o livre-arbítrio não
existe, por que
lutar por ele ? Estariam assim
justificadas todas as espécies de autoritarismo .
“Embora
seja verdadeiro que
a democracia se baseia na escolha , é falso
que a escolha
se torna sem
sentido ou
impossível se não
houver livre-arbítrio . A idéia
de que a escolha
desapareceria provém de uma noção excessivamente simplista da alternativa
ao livre-arbítrio . Se, numa eleição ,
uma pessoa puder votar de
duas formas , o voto
que de fato
ocorrer dependerá não
apenas de sua
história a longo
prazo (proveniência ,
educação , familiar ,
valores ), mas
também de eventos
imediatamente anteriores
à eleição . As campanhas
eleitorais existem precisamente
por esta razão .
Posso mudar de lado
em função
de um bom
discurso , sem
o qual eu
votaria em outro
candidato . Para
que uma eleição
tenha sentido , as pessoas
não precisam ser
livres ; basta
apenas que
seu comportamento
esteja aberto à influência
e persuasão (determinantes
ambientais de curto prazo )”.
(p.31)
Baum também
ressalta que nos
sentimos mais ou
menos livres
em função
das contingências a que
estamos submetidos. Pois “quando
o comportamento é modelado e mantido por reforço positivo , as pessoas
não se sentem coagidas, sentem-se livres ” (...) “O indivíduo
que coopera devido
a uma ameaça de punição
pode, em princípio ,
ser livre para enfrentar a ameaça ,
mas não
se sente livre para
fazê-lo.” (p. 178).
A idéia
de que existem escolhas
absolutamente livres
é de fato ilusória ,
ingênua :
“Os
homens imaginam ser
livres porque
têm consciência das suas
volições e dos seus
desejos , e não
pensam, nem em
sonho , nas causas
pelas quais se dispuseram a desejar e a querer , por não terem o
menor conhecimento
delas” (Spinoza, citado por
Comte-Sponville, 2002, p. 67).
E
o mais interessante é a ressonância que
uma consideração como
esta, de Spinoza, tem com a concepção da Análise
do Comportamento . Existem causas para o desejar e o querer , e isto limita a liberdade ,
transformando-a em mais
um evento
sujeito às contingências .
Dizer que o sujeito age assim ou assado porque quer , porque é livre ,
explica tão pouco
quanto dizer que bebe água porque tem sede .
São pseudo-explicações de caráter circular , tautologias . Ou
seja: bebe água porque
tem sede , e tem sede
porque bebe água .
“Somos
mais livres
do que os animais
porque temos um
eu , uma consciência
que se reconhece como
tal . Isto
nos torna
mais livres ,
mas não
absolutamente livres .
Adotar a idéia
de que estamos condenados
inelutavelmente à liberdade , parece-me
uma fascinação provocada pela ilusão que a própria condição de possuir um eu pode despertar , a ilusão
de Narciso , que
se entusiasma com
a própria imagem
e em seus
labirintos se perde” (Facioli, 2003, p.
140).
Nossas
escolhas são
sempre condicionadas a nossos contextos
e limitações . A liberdade
absoluta é uma ilusão
de nosso próprio
narcisismo .
Voltando
a Baum (1999):
“Na
verdade , pode-se argumentar
que o livre-arbítrio
é simplesmente um
nome para a ignorância dos determinantes
do comportamento . Quanto
mais sabemos das razões
que estão por
trás dos atos
de uma pessoa , tanto
menos nos
inclinamos a atribuir esses
atos ao livre-arbítrio ”
(p. 32).
E
finalizando com Comte-Sponville (2002):
“Ninguém
nasce livre , torna-se livre . Pelo menos é o que penso , e que , por isso , a liberdade nunca
é absoluta , nem
infinita , nem
definitiva : que
somos mais ou menos livres e que se
trata , é claro ,
de o sermos o mais possível .”
(p. 74)
3 – Que argumentos poderiam ser apresentados em defesa
do determinismo e da busca por regularidades no comportamento humano, a partir
das seguintes críticas (fonte: Chiesa, 1994, cap. 5).
a.
argumento da individualidade humana.
b.
argumento da complexidade do comportamento humano.
c. argumento do comportamento
intencional .
a. A busca por leis causais não nega a unicidade dos fenômenos . Individualidade
ou unicidade também
se aplicam a todos os outros fenômenos
naturais .
b. O fato de ser complexo não prova indeterminação .
Complexidade não implica necessariamente
em perplexidade ou
desordem . A ciência
progride da complexidade para a ordem .
Segundo Chiesa, o argumento
da complexidade poderia ser
aplicado a qualquer ramo
científico em
seus estágios
iniciais de desenvolvimento :
“durante muito
tempo , antes
do desenvolvimento científico
da química , a redução de milhares de compostos
químicos a um
pequeno e finito
número de elementos
parecia meramente fantasiosa .”
(p. 103)
c. Como bem diz Chiesa: “Um evento futuro , uma vez
que ainda
não aconteceu e talvez
nunca ocorra, não
pode causar um
comportamento .” (p. 104)
Em relação
às previsões místicas
diz que elas
são tão
vagas que
não há como
confirmá-las nem desmenti-las. Ou seja, impera o obscurantismo
e o desespero em
se encontrar logo
uma significação. E o desespero em se encontrar um sentido pode
ser concebido como
superstição .
Em relação
a correlações entre
comportamento e estrutura
corporal , o que
Skinner escreve é digno de nota :
Isso nos
impõe sempre lembrar
que correlação
não é causa .
Outro expediente ,
segundo Skinner, também
muito utilizado pelo
leigo para “explicar ” o comportamento
é o apelo à herança
genética , ao “nasce assim ”,
o qual teria pouco
a ver com fatos demonstrados, pois “mesmo quando
pode ser demonstrado que
certo aspecto
do comportamento é devido
à estação do nascimento, ao tipo físico de um modo geral , ou à constituição genética ,
o possível uso
desse conhecimento é muito limitado” (p. 27).
Efeito : variável
dependente , a qual
ocorre em função
de determinadas causas , as chamadas variáveis
independentes . Assim
o Behaviorismo prefere adotar
a concepção de relações
funcionais , invés
de simplesmente causais .
Pois estas últimas muitas vezes
possuem implicações de cunho mecanicista.
4 – Por que algumas causas
populares do comportamento ,
tais como
as citadas por Skinner (1953), se mantêm
em nossa
cultura ?
Skinner (1953) diz: “Qualquer evento
conspícuo que
coincida com a emissão
de um comportamento
humano pode bem
ser tomado como
uma causa ” (p. 25). Ele
continua o texto com
o exemplo da astrologia
e numerologia . E termina por enunciar duas razões básicas para que se mantenham como
causas populares
do comportamento em
nossa cultura :
o sentido de coincidência
ou correlação
que produzem e suas
previsões vagas .
O fato
de existirem correlações ou coincidências
não prova o que produziu o que ,
o que é causa
e o que é efeito .
Além também
do fato de algumas coincidências
serem supervalorizadas. São valorizados
os acertos e desprezados os erros : “as falhas
são encobertas enquanto
um acerto
ocasional é bastante
dramático para
manter o comportamento
crédulo suficientemente
forte ”.
“Mesmo
quando se demonstra uma correlação entre
comportamento e estrutura
corporal , nem
sempre se distingue qual
é a causa e qual
é a conseqüência . Mesmo
que métodos
estatísticos possam demonstrar
que os homens
gordos são
especialmente propensos
à alegria , ainda
não se conclui que
o físico determina o temperamento .” (p. 27).
5 – Quais as críticas de Skinner (1953) às seguintes
causas internas do comportamento :
a.
causas neurais
b.
causas internas psíquicas
c.
causas interiores conceituais.
“Não
há nada de errado em
uma explicação interior ,
como tal ,
mas os eventos
que se localizam no interior
de um sistema
tendem a ser difíceis de se observar .
Por essa razão
é fácil conferir-lhes propriedades sem
justificação . Pior
ainda , é possível
inventar-se causa desta espécie
sem medo de contradição ” (Skinner, 1953, p. 28)
“As causas
a serem buscadas no sistema nervoso são , destarte , de utilidade
restrita na previsão e controle de um comportamento específico ”
(p. 30).
De modo
geral , as chamadas
causas neurais
parecem não passar
de correlatos das chamadas causas internas. Exemplo :
o sujeito se encontra
ansioso e logo
uma região específica
de seu cérebro
demonstra atividade fisiológica
correlata e significativa , ou neurotransmissores
correlatos possuem sua taxa
significativamente alterada. Estas
alterações neurais , contudo ,
podem ser produzidas por
alterações externas e estas é que irão interessar à análise do comportamento .
Correlatos neurais , assim
como os internos ,
implicam em redundância ,
em explicações
tautológicas. Uma análise destas “explicações ” prova que não passam
de “meras descrições redundantes ”, como
muito bem
enuncia Skinner.
6 – O que vem a ser uma “causa ” e um “efeito ” na concepção Behaviorista
Radical ?
O que me possibilita entender um pouco mais dessas explicações
reporta-se ao princípio leibniziano da causa suficiente . Se
adotarmos uma visão linear
e restrita de causa , a de que
tudo tem uma causa ,
uma causa acaba levando a outra
e isso até
o infinito : “o que
causa x? y. e o que
causou y? z....”. E assim encadeamos uma
série infinita .
Por outro
lado , a idéia
de relações funcionais
remete a noção de teias ,
redes causais
e muitas situações de múltipla e mútua
determinação . Mas
este é ainda
um tópico
em que
guardo inúmeras questões a serem melhor pensadas.
O que , de fato ,
Ernest Mach propunha com o princípio das relações
funcionais ? E o argumento
de Hume então , o qual
nunca compreendi plenamente ?
Por falta
de tempo , não
tive como escrever
e ler mais sobre esta questão , apesar de ter lido tudo em Chiesa
a respeito .
Baum, W.M. (1999). Compreender o Behaviorismo .
Porto Alegre : Artmed.
Chiesa, M. (1994). Behaviorismo
radical : a filosofia
e a ciência . Brasília: IBAC.
Comte-Sponville, A. (2002). Apresentação da filosofia . São Paulo:
Martins Fontes .
Comte-Sponville, A. (2003). Dicionário
filosófico. São Paulo: Martins Fontes .
Facioli,
A. M. (2003). “Narcisismo e liberdade ”. Em :
O espírito da ironia
na clínica psicológica .
Tese de Doutorado ,
Universidade de Brasília, Brasília.
Moreira, M.B. &
Medeiros, C.A. (2007). Princípios
Básicos de Análise
do Comportamento . Porto
Alegre :
Artmed.
Skinner,
B. F. (1953/1981). Ciência e comportamento humano .
São Paulo: Martins Fontes .
Wednesday, February 17, 2016
Prevenção ao suicídio: você pode ajudar a salvar vidas!
Uma vez me fizeram a seguinte questão:
Como interferir no desejo de alguém que não quer mais viver? Temos esse direito, ou estamos sendo egoístas?
Acho que temos o direito de intervir sim. Aliás, não temos somente o direito: temos o dever de intervir. É nossa obrigação lutarmos para ajudar a reorganizar as interações do suicida com o mundo e com as outras pessoas, para que a sua vida tenha mais prazer, para que essa pessoa volte a ter o desejo de viver.
O suicídio é danoso para a família e para a sociedade porque:
1. Geralmente inspira outros suicídios. Essa consequência inclusive tem um nome: é o chamado Werther Effect. Nome inspirado no livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774), de Goethe, cujo protagonista, Werther, comete suicídio no final da história. Nos anos em que esse livro fez sucesso aconteceram muitos suicídios que foram inspirados nele.
2. Aumenta o risco de suicídio dos filhos em 5 vezes. Pessoas que tiveram um dos pais que cometeu suicídio são cinco vezes mais suscetíveis a também cometerem. Um pai que comete suicídio, portanto, gera um grande dano para os filhos. Esse dano não se limita a simplesmente perderem um pai ou uma mãe (o que por si só já causa um dano geralmente muito grande). O dano portanto pode ser muito maior, pois no futuro esses filhos estarão muito mais propensos a também cometerem suicídio.
3. O ato suicida geralmente ocorre em momentos de impulsividade, de desespero, os quais poderiam ser prevenidos, de modo consistente e duradouro, com intervenções biopsicossociais adequadas.
Então se essa pessoa não é um paciente terminal e não está padecendo de uma condição irremediável, devemos fazer de tudo para remediar, para resolver a situação. Para quem não é paciente terminal, não sofre irremediavelmente e tem uma família ou amigos que tem muita estima por essa pessoa (ou então tem filhos, o que é ainda um fator mais relevante), eu diria que viver, e tentar viver bem, é praticamente um dever, um dever para com a família, um dever para com toda a sociedade, pois o suicídio de uma pessoa causa muitos danos para os que ficam.
Contudo trata-se de uma questão ética de difícil percepção pra quem está desesperado ou sofrendo muito. Portanto, como eu já disse, é dever da família, dos amigos e da sociedade como um todo, lutar para que a vida dessa pessoa melhore, para que ela retome o desejo de viver. E não bastam jargões e mandamentos de autoajuda a buzinar na orelha do suicida que ele "precisa querer, porque se ele quiser ele muda".
Nós, profissionais da área de saúde mental, precisamos ajudar essa pessoa a querer. Nós precisamos trabalhar no sentido de tentar reorganizar as interações dessa pessoa (ou até mesmo o seu equilíbrio fisiológico) para que ela comece a desejar e querer mais.
Como interferir no desejo de alguém que não quer mais viver? Temos esse direito, ou estamos sendo egoístas?
Acho que temos o direito de intervir sim. Aliás, não temos somente o direito: temos o dever de intervir. É nossa obrigação lutarmos para ajudar a reorganizar as interações do suicida com o mundo e com as outras pessoas, para que a sua vida tenha mais prazer, para que essa pessoa volte a ter o desejo de viver.
O suicídio é danoso para a família e para a sociedade porque:
1. Geralmente inspira outros suicídios. Essa consequência inclusive tem um nome: é o chamado Werther Effect. Nome inspirado no livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774), de Goethe, cujo protagonista, Werther, comete suicídio no final da história. Nos anos em que esse livro fez sucesso aconteceram muitos suicídios que foram inspirados nele.
2. Aumenta o risco de suicídio dos filhos em 5 vezes. Pessoas que tiveram um dos pais que cometeu suicídio são cinco vezes mais suscetíveis a também cometerem. Um pai que comete suicídio, portanto, gera um grande dano para os filhos. Esse dano não se limita a simplesmente perderem um pai ou uma mãe (o que por si só já causa um dano geralmente muito grande). O dano portanto pode ser muito maior, pois no futuro esses filhos estarão muito mais propensos a também cometerem suicídio.
3. O ato suicida geralmente ocorre em momentos de impulsividade, de desespero, os quais poderiam ser prevenidos, de modo consistente e duradouro, com intervenções biopsicossociais adequadas.
Então se essa pessoa não é um paciente terminal e não está padecendo de uma condição irremediável, devemos fazer de tudo para remediar, para resolver a situação. Para quem não é paciente terminal, não sofre irremediavelmente e tem uma família ou amigos que tem muita estima por essa pessoa (ou então tem filhos, o que é ainda um fator mais relevante), eu diria que viver, e tentar viver bem, é praticamente um dever, um dever para com a família, um dever para com toda a sociedade, pois o suicídio de uma pessoa causa muitos danos para os que ficam.
Contudo trata-se de uma questão ética de difícil percepção pra quem está desesperado ou sofrendo muito. Portanto, como eu já disse, é dever da família, dos amigos e da sociedade como um todo, lutar para que a vida dessa pessoa melhore, para que ela retome o desejo de viver. E não bastam jargões e mandamentos de autoajuda a buzinar na orelha do suicida que ele "precisa querer, porque se ele quiser ele muda".
Nós, profissionais da área de saúde mental, precisamos ajudar essa pessoa a querer. Nós precisamos trabalhar no sentido de tentar reorganizar as interações dessa pessoa (ou até mesmo o seu equilíbrio fisiológico) para que ela comece a desejar e querer mais.
Saturday, February 06, 2016
ZIKA VÍRUS E ABORTO
Primeiramente, um recado pra quem é contra a legalização do aborto:
Você vai ajudar a criar e educar essa criança que não está sendo desejada? Coloque-se no lugar da mulher que não está desejando ter um filho, que não se sente em condições de ter essa criança, sendo obrigada a gestar por 9 meses e a parir.
É um processo muito longo e delicado para alguém que não está se sentindo em condições de mergulhar nessa jornada. É um ser da espécie humana que está para chegar e ele precisa ser muito bem recebido. Tudo isso precisa ser preparado com muito amor e dedicação. É por caso você quem vai passar por todas as dificuldades de uma gravidez? Você vai estar lá na hora do parto dessa mulher? Vai ser você quem vai sofrer todas as dores e percalços envolvidos numa gravidez e num parto, e com todas as obrigações de se criar um filho, para o resto da vida?
Agora multiplique essas dificuldades. Transforme-as em algo muito maior. Imagine se há uma possibilidade significativa de que essa criança tenha microcefalia ou se no ventre materno ela já tenha o diagnóstico de microcefalia. Se uma mãe não está se sentindo em condições de ter essa criança por que você acha que ela obrigatoriamente deve tê-la? Você acha que vai ser bom para o futuro dessa criança e dessa família o fato de que ela simplesmente não está sendo desejada?
E também, por favor, tome cuidado antes de ir logo rotulando esse tipo de reivindicação em relação aos direitos humanos como eugenia, como se um rótulo como esse fosse simplesmente suficiente para se encerrar a discussão. Eugenia diz respeito à eliminação de pessoas com algum tipo de deficiência, com o objetivo de melhoria genética da espécie. Tem, portanto, objetivos relacionados a um plano coletivo, os quais geralmente são colocados em prática por meio de coerção, de imposição. A moral eugenista ordena que os deficientes ou os mais fracos sejam eliminados, mesmo contra a vontade das mães dessas pessoas.
Quem é a favor da legalização do aborto está somente reivindicando um direito individual. Não está dizendo que obrigatoriamente os fetos com microcefalia devem ser abortados para o bem da humanidade. Isso seria eugenia, do modo como as pessoas logo entendem e se horrorizam. E não é isso o que está sendo reivindicado. Rotular de eugenista, acreditando que isso basta para refutar os argumentos de quem é a favor da legalização do aborto, é falacioso.
Mas você pode responder que uma das soluções seria facilitar a adoção nesses casos. Mas quem disse que essa mulher quer passar por tudo isso e depois entregar seu filho para terceiros que ela nem conhece? Você passaria por tudo isso para depois entregar seu filho para terceiros que você nem conhece?
Encerro com um texto de Heloisa Salgado, psicóloga, pesquisadora em saúde materno-infantil e direitos sexuais e reprodutivos, colega de 20 anos atrás, da época em que fiz em psicologia na USP:
“Sinto muitíssimo se alguém vai ficar chocado ou indisposto - é que eu sou completamente a favor de uma mulher que, ao descobrir que está gestando um bebê com microcefalia, independente de sua idade gestacional, tenha o direito de interromper esta gravidez.
Nenhuma mulher deveria ter negado o seu direito de decidir privar um filho de sofrimento.
Nenhuma mulher deveria ter negado seu direito de decidir privar a si e a todos em seu entorno do sofrimento por ter um bebê/criança/adulto portador de microcefalia.
Nenhuma mulher deveria ser obrigada a ter um bebê com uma má-formação tão grave e que, me desculpe, tem muitas explicações e nenhuma delas passa por questões religiosas ou espirituais. Pelo contrário. A saúde pública está aí para explicar.
Escolher interromper uma gestação de um bebê acometido por síndrome tão severa não é crime, ainda que a arcaica legislação brasileira insista em colocar nesses termos. E também não é egoísmo. É simplesmente empatia e respeito para com os limites e possibilidades individuais de cada um de nós.
Caso ainda tenha dúvidas de que a microcefalia leva a sofrimento, favor pesquisar os danos que a microcefalia causada pelo Zika vírus causa no cérebro e, consequentemente, no desenvolvimento global de uma pessoa.
Agora, se você tem relatos de casos de sucesso e de “não-sofrimento” de famílias e crianças acometidas pela microcefalia, por favor, comemore! Que bom que esse bebê/criança/adulto que possui a síndrome tenha nascido e ido para os braços dessa família que conseguiu acolhê-lo e dar todo o amor e o suporte necessários para conviver com suas dificuldades e limitações. No entanto, lembre-se de que somos todos diferentes e que não dá para usar a mesma régua para medir o sentimento, as possibilidades e os recursos (físicos e emocionais) de pessoas diferentes.
Ressalto que a única coisa que nunca, jamais, em hipótese alguma deveria acontecer é que pessoas que tenham decidido interromper a gestação de um bebê acometido por microcefalia - após ter sido devidamente informadas da situação e das consequências de sua decisão - sejam julgadas.
Lembrem-se: alguém que fez escolhas a partir de sua própria realidade, de sua história de vida e de seus limites e possibilidades, considerando uma tragédia tão grande como essa que estamos vivendo, merece nosso carinho, nosso respeito, nossa solidariedade e nossa compreensão."
Marcadores:
Aborto,
Bioética,
Política,
Vida e morte
Subscribe to:
Posts (Atom)