Há
poucos dias, por mensagem, me fizeram seguinte pergunta:
"Para
você, o que faz um cara ser de ultradireita? Muita mágoa e rancor?"
Tive
algumas leituras a respeito dessa questão, mas há mais de 20 anos. Foram textos
de autores da Teoria Crítica. Como já faz muito tempo que tive essas leituras,
vou somente pincelar um pouco do que atualmente sinto sobre isso. Portanto
tecerei somente algumas impressões esparsas.
Primeiramente
eu gostaria de dizer que a pergunta desse colega é muito boa, pois nos convoca
à empatia. É necessário ter empatia para compreender, mesmo que tenhamos de
compreender o mais vil dos seres humanos. Contudo ainda quero ressaltar que
talvez minha resposta não esteja à altura de uma pergunta tão substancial.
Tenho a
impressão de que as pessoas de extrema direita acreditam em soluções prontas,
simples, rápidas, às quais se pautam pela convicção de que concebem a realidade
como ela é, de maneira mais crua do que a maioria das pessoas.
É
aquela velha história de que para fazer uma omelete é preciso quebrar ovos,
matar pessoas, recorrer precipitadamente à violência, a qual produz resultados
rápidos. Ou a ideia de que a vida é dura, de que existem poucas alternativas,
de que os recursos são limitados, logo é necessário excluir pessoas.
Acreditam
mais na exclusão do que na inclusão. Padecem de um darwinismo torto, aquele
antigo e ultrapassado darwinismo social. Mas ao mesmo tempo só defendem a
meritocracia em casos muito específicos, somente quando esta os favorece, uma
meritocracia incompleta, torta. Geralmente são conservadores, conservadores
extremos. Ou seja: fascistas.
Se
concebem como pessoas muito práticas e realistas, mas na verdade são
tradicionalistas, patrimonialistas e egocentrados, com pouca capacidade de se
colocarem no lugar do outro. Resumindo: imorais.
Como
são extremamente moralistas, devotados à manutenção da ordem e dos bons
costumes (os quais geralmente estão fundamentados em princípios religiosos,
dogmáticos) não conseguem compreender que são na verdade imorais.
Sem
contar também com toda a visão que possuem acerca da desigualdade. Julgam a
desigualdade como natural e inevitável e até mesmo desejável, pois em termos
econômicos defendem a posição de que a desigualdade produz mais riquezas, de
que ela é mais favorável ao crescimento econômico do que a igualdade. E também
acabam por conceber a motivação como simplesmente baseada na inveja ou na idéia
de tentar alcançar um nível que alguém em um nível superior já alcançou.
Reduzem a motivação à competição, pura e simplesmente assim.
Há
estudos atualmente, como os de Richard Wilkinson, com análises estatísticas
apuradas, de como hoje o mundo padece mais de excesso de desigualdade do que o
contrário.
Mas
esses caras vão continuar insistindo na interpretação obtusa de alguns
princípios econômicos básicos, a qual obviamente só favorece quem já está por
cima da carne seca.
E
existe, claro, também, pobre de extrema direita.
Outro
ponto, o qual parte para uma análise mais comportamental, diz respeito aos
grupos de influência dessas pessoas. Praticamente só convivem com pessoas que
as gratificam por pensar assim, por expressar suas opiniões dessa maneira. É
uma cultura onde existem gratificações mútuas para se manter essa cultura. E
são fechados, porque possuem também uma mentalidade medieval. Não julgam
importante a diversidade, o contato com a diferença. Nem acham muito importante
mudar conforme as evidências.
Acreditam
em verdades eternas - e olha que nem estou falando das verdades matemáticas ou
dedutivas.
Mas,
como eu já disse no início, essas são somente algumas de minhas impressões,
esparsas, as quais carecem das convicções tão presentes nas falas dos
extremistas...
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