Já me comportei muitas vezes nessa vida de um modo mais próximo a algo parecido com a psicose, a loucura clássica. Porque já fui fascinado pela estética psicótica. Já agi de modo alegremente enlouquecido por inúmeras vezes.
Isso tudo começou por volta de meus 21 anos de idade, quando eu cursava o terceiro ano de psicologia. Em minha adolescência assisti a alguns filmes de comédia nonsense, os quais inclusive talvez tenham sido uma das primeiras sementes de alguns de meus comportamentos psicóticos, ou dissociados, ou dissimulados mesmo, talvez simplesmente calculados para que eu conseguisse, naquele contexto, ter a interação que fosse a mais saudável possível para a minha sobrevivência social.
Em diversas situações eu me via encurralado com uma série de demandas e questionamentos, para os quais eu não encontrava a resposta que eu julgasse como
satisfatória para dar para as outras pessoas. E assim acontecia o comportamento divergente, marcado pela bizarrice e o nonsense.
Dos 13 aos 14 anos de idade eu tive os piores anos de minha vida, com sintomas de ansiedade e depressão, marcados por sentimentos de intensa angústia e solidão. 1985 e 1986 foram dois anos torturantes, aos quais sobrevivi mediante um apaziguamento e uma estabilização lentos, na quietude de uma vida regrada em ser a pessoa mais boazinha que eu podia, aquele sujeito adolescente que nem mesmo sabia reconhecer em si sentimentos de raiva e de agressividade.
Os dois primeiros anos no curso de psicologia fizeram com que eu me abrisse para algumas influências do Romantismo, relacionadas a permitir que as emoções e até mesmo a agressividade fluíssem com mais facilidade, e assim eu pudesse melhor me adaptar a uma complexidade das interações humanas da qual eu não tinha a menor ideia que era possível.
Passei então a me utilizar com cada vez mais frequência de instrumentos contracomunicativos e de uma interação mais esquisita, mais estranha com as pessoas. Assim deixava muitos desconcertados ou sem saber como me classificar.
Para muitas situações, principalmente as situações de encontro informal com outras pessoas, em ambiente festivo ou recreativo, esses comportamentos eram muito adaptativos e muito gratificados. As pessoas de modo geral gostavam muito e me tinham em alta conta nesses meios, inclusive também nos meios artísticos e culturais, porque tinha uma marca estilística muito forte. Essa estética da estranheza, juntamente com uma certa comicidade, despertava a admiração de muitos de meus pares.
E eu, por sorte, não era assim o tempo todo. Eu ficava mais agudamente pirado, como já mencionei, em ambientes recreativos ou festivos e culturais.
Então, classicamente falando, eu nunca fui louco e nunca enlouqueci.
Porém, para quem me conhecia muito superficialmente, talvez coubesse esse tipo de classificação abusiva.
Lembro-me claramente de uma determinada vez, quando eu saía do restaurante universitário, quando uma estudante do quinto ano de psicologia apontou para mim e disse para outra, da mesma turma:
- Aquele ali é o louco do quarto ano.
Lembro-me que achei o comportamento dela um pouco ridículo e risível. Então comentei com alguns colegas, e ficamos dando risada sobre o ocorrido. Nossa sensação era a de que aquela moça era bastante ingênua, para dizer o mínimo.
Sua vida era o que, por volta de 1968, muitos na França chamavam de metrô boulot dodô, para se referir à vidinha besta de alguém que só faz todos os dias a mesma coisa e sem qualquer tipo de abertura para atividades diferentes ou um pouco mais aventureiras.
Hoje não mais, mas sei que durante muitos anos, fui visto por muitas pessoas, que não me conheciam direito, como um sujeito meio doido. E eu continuava daquele jeito porque era muito divertido e gratificado. Meus amigos adoravam minhas doidices. E eu carrego comigo muito boas lembranças e saudades daqueles tempos.
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